Por que a Times Square se reinventa na ‘era do espetáculo’ e transforma modelo de negócios?
Subitamente, somos surpreendidos com inúmeras pessoas que publicam seus anúncios no telão de um dos pontos turísticos mais famosos do mundo: a Times Square, em Nova York.
Com isso, a percepção é que essa turma está fazendo um investimento enorme para aparecer no gigante telão de LED que atinge 360 mil pessoas por dia.
No entanto, um ledo engano. O que aparenta uma excentricidade traz consigo uma inovação em modelo de negócios que merece ser analisada.
Tudo para aparecer na Times Square
No início do ano, a proprietária do prédio onde fica o telão de LED lançou o projeto PixelStar, que deseja transformar seu painel em um feed gigante. Sendo assim, qualquer pessoa pode entrar no aplicativo TSX, agendar seu vídeo e pagar US$ 40 por 15 segundos de exibição.
Porém, o que, à primeira vista, parece um investimento extravagante reflete um fenômeno cultural mais profundo enraizado em nossa sociedade contemporânea.
De modo que demonstra como empreendedores têm condições de criar novos modelos de negócios a partir do entendimento das demandas e tendências do comportamento do cliente. Contudo, a dinâmica do projeto está fundamentada em uma tendência que não vem de hoje.
Ela foi definida pelo filósofo Guy Debord, em seu livro “A Sociedade do Espetáculo”, como uma era em que a imagem e a representação assumem uma importância primordial.
Desta forma, o espetáculo, segundo o filósofo, é a manifestação da obsessão das pessoas com a imagem, com o aparecer, com o ser visto.
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15 minutos de fama e foco no cliente
Na década de 1960, o artista Andy Warhol popularizou uma visão, que se transformou em uma premonição quando afirmou que “no futuro, todos serão mundialmente famosos por 15 minutos”.
A aspiração de muitos é ser reconhecido, mesmo que por um breve momento. Esse desejo insaciável de fama e reconhecimento, mesmo que efêmero, recebe impulso da internet com as mídias sociais. Além disso, seu alcance massivo e global.
No que tange ao mundo corporativo, é imperativo que as empresas estejam sintonizadas com as necessidades e desejos de seus clientes.
A era moderna exige que as organizações sejam centradas no cliente, se adaptando e evoluindo com base no comportamento e nas expectativas em constante mudança de seu público-alvo.
Todavia, ignorar essa realidade pode resultar em obsolescência, enquanto abraçá-la pode levar a novos horizontes de sucesso.
Times Square e a transformação de um modelo de negócios
O projeto PixelStar é uma referência concreta dessa perspectiva. O modelo clássico de geração de receitas do projeto envolve a comercialização de publicidade a grandes anunciantes.
Ao perceberem que o comportamento massivo de indivíduos não se restringia apenas à busca pela fama, mas poderia ser canalizado em um modelo de negócio inovador, os líderes do negócio reinventam seu tradicional modelo de publicidade. Assim, oferecem a possibilidade de qualquer pessoa aparecer com destaque em um dos pontos mais famosos do mundo.
O projeto viabiliza essa tese transformando seu painel em um feed gigante, onde qualquer pessoa pode agendar seu vídeo por um baixo investimento. O que democratiza o espetáculo e atende diretamente a demanda do público por autoexpressão e reconhecimento.
No início, havia ceticismo sobre se a ideia seria bem-sucedida. Entretanto, a resposta do público tem sido positiva, indicando que o projeto está prosperando.
Para termos uma visão do potencial de geração de receitas desse novo modelo, basta considerarmos um cenário de 12 horas de exibição diárias com esse tipo de publicidade e chegaremos a um potencial de US$ 115 mil de receitas por dia provenientes de diversos anunciantes, sem a necessidade de interação humana para a viabilização do projeto.
Esse caso evidencia as inúmeras oportunidades advindas da promoção do cliente ao centro da jornada de criação de valor de qualquer empresa.
Ao catalisar as nuances de uma sociedade obcecada pela imagem e buscarem novas formas de viabilizar seu projeto, a organização inovou seu modelo de negócio criando uma dinâmica original com alto potencial de geração de caixa.
Ao se manterem centrados nas demandas dos clientes e se adaptando à evolução de seu comportamento, cada vez mais, empresas conseguem viabilizar perspectivas de projetos inimaginados no passado, com potencial de levar seus negócios a outro patamar.
Tudo começa com a centralidade do cliente. Como dizia o pensador Theodore Levitt: “uma empresa começa com o cliente e suas necessidades, não com uma patente, matéria-prima ou habilidade de vendas”.
*Sandro Magaldi é especialista em transformação de negócios, gestão estratégica, cultura organizacional e liderança