Consumo

Por que a gasolina pode ficar mais cara aqui no Brasil se a Rússia invadir a Ucrânia?

28 jan 2022, 14:38 - atualizado em 28 jan 2022, 14:46
Mercados se preocupam com possível invasão, visto que a Rússia é um dos principais produtores de petróleo (Imagem: REUTERS/Sergey Pivovarov)

A crise entre Rússia e Ucrânia é um dos assuntos mais falados nos últimos dias.

A tensão começou após a Rússia reunir uma quantidade grande de tropas perto da fronteira com a Ucrânia, mas o país afirma que não planeja invadir seu vizinho.

Recentemente, Washington e Moscou tentaram chegar a um acordo, mas o presidente russo, Vladimir Putin, disse nesta sexta-feira (28) que as respostas dos Estados Unidos e da Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte) não abordaram as principais preocupações de Moscou.

No entanto, o governo ucraniano admitiu que a Rússia deve permanecer no caminho diplomático com Kiev por pelo menos duas semanas, mas Putin continuará os esforços para desestabilizar o país eslavo, disse o ministro das Relações Exteriores da Ucrânia, Dmytro Kuleba nesta última quinta-feira (27).

Mas, afinal de contas, como esse conflito no leste europeu pode impactar o bolso do brasileiro?

Essa briga pode parecer distante, mas, segundo 4 economistas entrevistados pelo Money Times, se Putin tentar tomar Kiev, o preço dos combustíveis vai subir mais uma vez.

Etanol Gasolina Combustíveis
A gasolina pode ficar mais cara se Putin quiser a Ucrânia para ele (Imagem: Money Times/ Gustavo Kahil)

De acordo com Carlos Lopes, economista do Banco BV, o preço da gasolina em relação ao mercado internacional está defasado em cerca de 10%, ou seja, a gasolina já deveria custar 10% a mais que o preço atual.

Além disso, a política de preços da Petrobras (PETR4) trabalha com a paridade do preço do barril de petróleo no mercado internacional, ou seja, se o petróleo sobe, os combustíveis sobem.

A commodity já superou as máximas de 7 anos, e fechou esta sexta-feira (28) com alta de 1,93%, a US$ 91,06 por barril, um dos motivos é a tensão entre Rússia e Ucrânia.

Para Alan Gandelman, CEO da Planner, o temor acontece pelo fato Rússia ser um membro da OPEP+ e um dos principais produtores de petróleo do planeta.

CEO da Planner
Para Gandelman, o temor acontece pelo fato Rússia ser um membro da OPEP+ e um dos principais produtores de petróleo do planeta (Imagem: Divulgação)

“O receio do mercado é que se um grande produtor de petróleo entrar em guerra pode haver uma redução na produção ou boicotes de venda, o que faz o preço da commodity disparar”, diz Gandelman.

Segundo Carlos Lopes, se a invasão acontecer de fato, a expectativa é de uma nova disparada nos preços do petróleo.

“EUA e Europa podem aplicar sanções para Moscou, o que tende a trazer mais conflitos e tensões com um grande produtor de petróleo, deixando o mercado aflito e com novas possíveis altas no preço do barril”, afirma Lopes.

Carlos Lopes, economista do banco BV
Para Lopes, se a Rússia invadir a Ucrânia a expectativa é de uma nova disparada nos preços do petróleo (Imagem: Divulgação)

Para Juliana Inhasz, do Insper, caso o aumento no mercado internacional se confirme, o preço do combustível será pressionado aqui no Brasil.

“A atual política de preços da Petrobras é de repassar esses aumentos para o consumidor final, então o caminho é o consumidor sentir esse aumento na bomba”, analisa.

Todos seriam impactados

A alta dos combustíveis tende a impactar a todos, não somente quem abastece na bomba.

Para Paulo Feldmann, economista da Universidade de São Paulo, caso o pior aconteça no leste europeu, a inflação deve disparar aqui no Brasil.

Paulo Feldman
Segundo Feldmann, a inflação propende a disparar aqui no Brasil se o pior acontece no leste europeu (Imagem: Divulgação)

“O Brasil já está com uma inflação alta e a maior parte dessa alta dos preços é causada pelos combustíveis, visto que nossa malha de transportes é majoritariamente rodoviária. Então, um conflito na região dos países eslavos vai gerar uma nova escalada dos preços, isso seria terrível para o consumidor”, analisa.

O economista acredita que, com a invasão da Ucrânia pela Rússia, o IGP-DI (Índice Geral de Preços – Disponibilidade Interna), um dos medidores da inflação da FGV (Fundação Getúlio Vargas), pode chegar a 20% no acumulado do ano. Em 2021, o índice fechou a 17,7%.

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