Por que a casa caiu para construtoras no Ibovespa e só uma sextou?
As ações das principais empresas de construção civil derreteram nesta sexta-feira (17) na Bolsa brasileira puxadas pela Eztec (EZTC3), que ontem divulgou seus resultados financeiros no quarto trimestre de 2022 com queda de 56% no lucro líquido.
A Eztec despencou 10,73%, liderando as quedas do índice Ibovespa. A Cyrela (CYRE3) recuou 7,47%, enquanto a JHSF (JHSF3) fechou em queda de 7,62%, mas chegou ao pico de mais de 10% de perdas.
Em contrapartida, a Plano&Plano (PLPL3) encerrou os negócios em forte alta de 7,08%. O mercado empolgou-se após a disparada do lucro líquido e avanço das receitas da companhia no último trimestre do ano passado.
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Eztec com números ‘majoritariamente fracos’
O head de real estate da XP, Ygor Altero, avalia que os resultados de construtoras do segmento média-alta renda foram ruins e com a Eztec não foi diferente. O que justifica a empresa ter tido o pior desempenho do pregão.
Segundo ele, os números da construtora foram “majoritariamente negativos de outubro a dezembro”, com a queda da margem bruta impulsionada por custos sob pressão, novos projetos exibindo as margens mais baixas de lançamentos desde 2019 e provisões com os atrasos na entrega do projeto Parque da Cidade.
A equipe do Itaú BBA que acompanha o setor ressalta que a Eztec provisionou integralmente o impacto negativo do projeto. “Portanto, não deve haver impacto adicional nas margens à frente”, comentam.
Altero destaca que, em contrapartida, a receita líquida teve salto de 76% na base anual ajudada pela venda de terrenos e vendas recordes de estoque concluído. Além disso, a companhia apresentou maiores despesas de venda.
“Continuamos a ver um cenário desafiador para o segmento de renda média, com base em taxas de juros imobiliárias mais altas, piora na acessibilidade [ao crédito] e menor confiança”, avalia o head da XP.
A Eztec ainda reportou consumo de caixa de R$ 146 milhões no quarto trimestre. No entanto, a equipe do BBA espera que a empresa continue consumindo caixa ao longo de 2023.
Construtora favorita com números abaixo do esperado
A Cyrela, a empresa preferida dos analistas no segmento de alta renda, apresentou resultados que reforçaram seu bom desempenho em 2022. “Apesar de algumas linhas abaixo do esperado pelo consenso [de mercado]”, comenta o analista de real estate da Empiricus Research, Caio Nabuco de Araujo.
Ele reforça que a companhia teve um trimestre satisfatório diante do contexto apresentado para o setor de média e alta renda, superando com boa vantagem seus pares. Entretanto, Altero, da XP, diz que a Cyrela exibiu uma redução na margem bruta ante o terceiro trimestre e na base anual.
“Ficou ligeiramente abaixo das nossas expectativas. O dado foi impactado por uma comparação mais difícil com o terceiro trimestre, contribuição negativa de novos lançamentos com margens menores ante 2021 e custos sob pressão”, reforça o analista da XP.
Por outro lado, o analista da Empiricus destaca que, apesar de uma performance ligeiramente inferior em algumas linhas, a Cyrela se mostra preparada para enfrentar 2023. “Com baixo endividamento e um princípio de recuperação de margens”, observa.
JHSF tombou mais de 10% no pregão
A JSHF também divulgou resultados e o mercado se mostra preocupado já que as ações derretem. Os analistas de real estate do BTG Pactual destacam que a receita líquida de R$ 405,4 milhões ficou abaixo do esperado. Principalmente, devido a uma desaceleração nas vendas de incorporação pela companhia.
Além disso, a JHSF consumiu caixa de R$ 206 milhões de outubro a dezembro devido, principalmente, aos investimentos na expansão de projetos de shoppings, que soma R$ 105 milhões.
Contudo, o BTG vê os números da companhia como “suaves”. Além de ponderar que o cenário econômico é mais difícil, refletindo as altas das taxas de juros e a desaceleração da economia brasileira desaceleração.
“Isso nos deixando mais cautelosos no segmento imobiliário, embora os clientes da JHSF sejam muito mais resistentes. Entretanto, planejamos revisar nossos números em breve”, diz a equipe do banco, que ainda tem recomendação de compra para as ações da companhia.
Os analistas do Santander que cobrem o setor reforçam acrescentam que a empresa teve lucro líquido “de apenas” R$ 9,6 milhões no quarto trimestre. Além disso, o progresso limitado na construção de empreendimentos lançados recentemente resultaram em queda de quase 10 pontos percentuais (p.p.) da margem bruta consolidada, na base anual.
Na contramão das construtoras após resultados fortes
A Plano&Plano foi a única das principais a subir no pregão. Altero diz que a construtora do segmento de baixa renda foi o destaque do quarto trimestre, combinando forte crescimento no lucro líquido e melhora significativa na margem bruta. O indicador acelerou para 31,4%.
Segundo ele, a companhia apresenta custos sob controle e eficácia no repasse de inflação na carteira de recebíveis. “Vemos perspectiva positiva de margem bruta consolidada para a Plano&Plano, sugerindo um potencial aumento à medida que novas vendas são reconhecidas no resultado”, comenta.
O lucro líquido da Plano&Plano disparou no quarto trimestre para R$ 58 milhões. Foi mais do que o dobro do registrado um ano antes.
Contudo, a receita líquida acelerou 46,3% na base anual, somando R$ 436 milhões, explicada pelo desempenho recorde de vendas líquidas no último trimestre do ano passado.