Brasil

Por que a alta rejeição não é garantia de que Bolsonaro perderá as eleições?

16 abr 2022, 13:32 - atualizado em 16 abr 2022, 13:47
Lula Bolsonaro Eleições
Dados mostram que é incorreto assumir que a atual rejeição governista garantirá a vitória de Lula em um eventual segundo turno contra Bolsonaro (Imagem: REUTERS/Carla Carniel)

Tudo indica que a eleição presidencial deste ano será uma batalha de rejeições entre o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e o atual presidente Jair Bolsonaro (PL).

Dados da última pesquisa Ipespe/XP, que mediu a rejeição aos candidatos, mostram 43% não votariam de jeito nenhum no petista, enquanto 61% disseram o mesmo, só que em relação a Bolsonaro.

A alta rejeição a Bolsonaro pode até parecer um bom sinal para a campanha de Lula, indicando que ele levará a disputa em um eventual segundo turno. Mas a pergunta que não quer calar é: pode o atual presidente mudar os rumos de sua trajetória de rejeição?

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Dados de outras eleições estremecem certezas

Para a MCM Consultores, é certo que na grande maioria das vezes o candidato de menor rejeição vence no segundo turno. A dúvida, entretanto, recai sobre como a rejeição se comporta ao longo da corrida eleitoral, até a chegada da ocasião na votação.

Analisando o comportamento dos eleitores nas disputas presidenciais desde 2002, a MCM concluiu que a rejeição varia de forma consistente durante os ciclos eleitorais, e que um momento de alta no índice não garante a derrota ao final da corrida.

“Em alguns casos, a rejeição variou mais do que a intenção de voto ao longo do ciclo eleitoral”, afirmam os analistas em relatório divulgado na quinta (14).

Segundo a MCM, dados mostram que é incorreto e “precário” assumir que a atual rejeição governista garantirá a vitória de Lula em um eventual segundo turno contra Bolsonaro.

Limpando a barra

Para Rafael Cortez, cientista político e sócio da Tendências Consultoria, a rejeição tem potencial de ser revertida pelo governo Bolsonaro.

Mas manejar o nível de rejeição dependerá, em última instância, em esforços na promoção da imagem da própria gestão, como também na potencialização da rejeição de seu adversário.

“A eleição é um grande plebiscito de governo, um caráter que fica ainda mais marcado no segundo turno. E é possível que o governo consiga fazer com que a rejeição do adversário seja tão alta quanto a própria”, afirmou.

No entanto, para para tentar melhorar a imagem de seu governo, Bolsonaro precisará convencer o eleitor que esforços foram feitos para lidar com conjunturas extremas.

Como por exemplo, a chegada da pandemia, crise econômica e humanitária que matou mais de 600 mil pessoas e deixou o país com cerca de 12 milhões de desempregados.

Além disso, segundo o cientista político, Bolsonaro deverá alimentar a rejeição ao seu principal oponente, o ex-presidente Lula.

Batalha de desgastes

Na quarta-feira (14), Bolsonaro criticou uma recente fala do petista sobre o aborto, em uma tentativa de ampliar o desgaste do pré-candidato.

Bolsonaro afirmou que, se eleito, Lula poderá indicar ministros “abortistas” para o Supremo Tribunal Federal (STF).

A fala veio após Lula ter dito, no dia 5 de abril, que toda mulher deveria ter o direito ao aborto no Brasil, por ser uma “questão de saúde pública”.

“Mulheres pobres morrem tentando abortar, enquanto madames vão para Paris”, afirmou o petista.

“Quando se fala em aborto, o Lula defende o aborto. Vamos supor que o Lula consiga aprovar o aborto dentro do Parlamento. Eu acho difícil. Por que não consegue? Ele vai aprovar o aborto dentro do Supremo Tribunal Federal”, disse Bolsonaro.

A mesma pesquisa da XP/Ipespe mostra que Bolsonaro tem tido dificuldade em mudar as estatísticas de sua rejeição, estando acima dos 60% de “não votaria de jeito nenhum” desde julho de 2021. O petista se mantém estável na casa dos 43% desde o início do ano.

Mas, na análise de Cortez, dA Tendências, o segundo turno está longe de estar decidido. “O favorito ainda é Lula, mas o cenário é muito competitivo. Imagino uma eleição muito apertada”, disse.

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