Por dentro da caixa preta: BNDES cria site com lista de maiores tomadores de crédito, empresas e países
Por Arena do Pavini – O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) publica nesta sexta-feira, 18 de fevereiro, a lista dos seus 50 maiores tomadores de recursos. É a primeira vez que esses dados são disponibilizados ao público neste formato, sendo encontrados no site: www.bndes.gov.br/maioresclientes.
A medida é uma resposta às promessas do presidente eleito Jair Bolsonaro de abrir a “caixa preta” do BNDES, para descobrir possíveis irregularidades e preferências nas operações de crédito do banco durante os governos do PT. A divulgação em si não é novidade, mas o sistema torna mais simples a pesquisa, explica o BNDES. Independentemente da motivação, porém, a ferramenta é um importante instrumento de transparência para a instituição, que usa recursos da sociedade para financiar grandes grupos.
Segundo o banco, a ferramenta permite ao usuário ver cada operação efetuada com os 50 maiores tomadores de recursos dos últimos 15 anos (2004 a 2018), além de disponibilizar recortes trienais. Anteriormente, para chegar a esse tipo de resultado, era necessário buscar por informações em diferentes páginas e, às vezes por diferentes linhas de financiamento.
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A nova página da plataforma de transparência também permitirá saber se os recursos emprestados pelo BNDES para os maiores clientes foram por meio de empréstimos ou de investimento em renda variável, por compra de ações negociáveis ou por outras formas do BNDES entrar na estrutura societária da empresa.
Navegação mais amigável e acessível
A busca por melhorar a experiência do usuário responde ao compromisso de facilitar o entendimento do público das operações efetuadas pelo Banco, permitindo analisar onde a instituição mais investiu.
O BNDES reconhece que, apesar da variedade de informação que o banco tem disponibilizado nos últimos três anos, “há uma percepção de que os dados frequentemente estão disponíveis de uma maneira difícil para a maioria das pessoas”. O objetivo é, assim, tornar a navegação mais amigável e acessível, facilitando o exercício da cidadania por cada brasileiro.
A disponibilização da lista, com acesso a um grande número de detalhes de cada operação, é parte do esforço de transparência que o banco tem feito e que deve ser a marca das suas ações sempre, diz a nota.
A responsabilidade do BNDES com o público é parte fundamental do seu caráter, já que o banco, para executar sua missão de apoio ao desenvolvimento do país, gere recursos públicos, tendo o Tesouro Nacional como seu acionista.
Contratos de exportação para outros países
A iniciativa de facilitar a compreensão das operações do BNDES também inclui um acesso direto a todos os contratos de exportação de bens e serviços brasileiros de engenharia para projetos em outros países.
Foi disponibilizado um link que permite acessar, na íntegra, os contratos assinados entre o BNDES, o país importador e a empresa brasileira exportadora de bens e serviços de engenharia.
Lá, estão disponíveis os contratos referentes à exportação relativa a projetos nos nossos vizinhos Argentina, Paraguai, Peru e Venezuela, assim como em Honduras, Equador, Costa Rica, Guatemala, México, República Dominicana e Cuba, além de Angola, Gana e Moçambique.
Quem são os maiores devedores
A lista do BNDES deve frustrar os que procuram identificar em seu topo nomes de grupos privados envolvidos nos escândalos e negociatas com os governos passados. A maior tomadora de recursos é a estatal Petrobras, com R$ 62,4 bilhões, seguida de Embraer, com R$ 49,4 bilhões. Norte Energia vem terceiro lugar, com R$ 25,4 bilhões, Vale tem R$ 22,5 bilhões e, finalmente, um nome polêmico, Odebrecht, com R$ 18,1 bilhões. O Estado de São Paulo tem dívida de R$ 14,5 bilhões, a Transportadora Associada de Gás (TAG), hoje da Petrobras, R$ 13,3 bilhões e as operadoras TIM e Telefônica aparecem com R$ 12,1 bilhões e R$ 10,3 bilhões, respectivamente.
Há casos interessantes, como a multinacional italiana Fiat, fabricante de bens de consumo, décima maior devedora, que pegou R$ 10 bilhões do BNDES. Outras montadoras, como a Renault, também receberam recursos sob a lógica de que o banco deve incentivar a indústria local. Há também o caso da Oi Móvel, em recuperação judicial, com R$ 9,8 bilhões, que se somam a outros R$ 4 bilhões da Oi S/A. JBS é a vigésima, com R$ 7,7 bilhões do banco.