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Por “culpa” da China, Brasil tem janelas para investimentos em agroquímicos, a começar pelas licenças ambientais

17 set 2021, 10:34 - atualizado em 19 set 2021, 8:52
Vittia Fertilizantes
Oportunidades geradas de novos negócios produtivos de agroquímicos no Brasil vão além do tamanho do consumo interno

Ao se juntarem as mudanças conjunturais do setor de agroquímicos da China, as dificuldades logísticas atuais no transporte, a tensão que a chamada “China dependência” está gerando nos países centrais, às condições do protagonismo brasileiro no consumo mundial, estariam lançadas as bases para uma rodada de investimentos no Brasil.

Não há nada de concreto acontecendo entre os donos do capital, pelo menos até onde se sabe, mas quando o ex-CEO da Adama, uma das gigantes da ChemChina, fala que as oportunidades para o País são as maiores em “50 anos”, há que se prestar a atenção.

Rodrigo Gutierrez, que já acumulava Bayer e Monsanto no currículo, ficou nove anos à frente da empresa, uma das líderes em defensivos genéricos, pegando a transição de companhia israelense para chinesa, e assistiu também a aquisição da suiça Syngenta. Esta domina o fornecimento no Brasil em mais de 20%.

Só o fato de o Brasil estar levando menos tempo para licenciamento ambiental já o coloca nessa rota, começa ele.

Do ponto em que deixou a multinacional, em janeiro de 2020, à sua nova posição no mercado, como CEO da GTM, controladora da quantiQ, ex-Brasken, player na distribuição de químicos, Gutierrez viu se acentuarem os problemas gerados pela China e que estão dificultando a vida de produtores ao redor do mundo.

As vantagens competitivas do país asiático, cada vez mais dominante no segmento de defensivos – e líder na produção de princípios ativos genéricos -, estão se perdendo.

“A mão de obra já se tornou mais cara que no Brasil e o custo da energia [focada em carvão], que tem um peso muito alto na produção química, também aumentou muito”, diz, fazendo um contraponto de que os produtos importados pelo Brasil e outros pares produtores já não são tão baratos como antes.

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Concentração

Mas o ponto mais nevrálgico da conjuntura setorial da produção na china são as restrições ambientais cada vez mais rígidas, que ocasionou o fechamento de cerca de 400 fábricas fornecedoras de matérias-primas. A concentração ficou maior, com o consequente aumento dos preços e de risco de abastecimento, uma vez que menos participantes estão no mercado e ditam o jogo.

A variação cambial no Brasil faz o resto, com o dólar surfando nas crises políticas com folga acima dos R$ 5,10, R$ 5,15.

Em paralelo, ou usando isso como disfarce, Gutierrez acredita que há, no pano de fundo, a intervenção estatal se fortalecendo. O governo de Pequim, segundo ele, tem dados vários sinais em atividades diversas, que vão desde escolas à criação de dificuldades para investimentos estrangeiros nos país.

Se a história é criar dificuldades globais para gerar facilidades internas, através da concentração do fornecimento e da consequente dependência mundial, piorou desde 2020 com os “problemas gerados pela China na circulação de contêineres”.

O fluxo que sai de lá é controlado, dificultando a movimentação de mercadorias e insumos para setores diversos, como componentes eletrônicos fazendo até a indústria automotiva paralisar produção.

Gutierrez está sentindo na Quantiq a disparada dos preços da contratação de um container.

“Se o Brasil oferecer maior segurança jurídica, aliada à flexibilização das licenças ambientais em curso nesse governo, poderíamos ser uma potência inclusive exportadora de defensivos”, afirma o executivo, que também foi um dos fundadores da Unifito, entidade que representa as empresas estabelecidas no Brasil no mercado de genéricos.

Claro, há que se combinar com o governo o fim da instabilidade política para tudo funcionar.

Sobre a polêmica na concessão de autorização para a implantação de plantas, que no Brasil levava anos, ele viu acontecer de perto na unidade da Adama em Taquari (RS), a segunda no Brasil depois da de Londrina (PR).

Para Gutierrez, não se trata de atropelar a legislação ambiental brasileira, “uma das mais rígidas do mundo”, mas agilizar os processos de análises.

Área

Se essa lição de casa, defendida por 11 entre 10 agentes do mercado, for feita, a necessidade brasileira completaria a janela de oportunidade de investimentos no Brasil.

Em 2020, a área tratada com defensivos foi a 1,6 bilhão de hectares, alta de quase 7% sobre 2019, uma das maiores do mundo, se não a maior, quando se calcula o volume e aplicações de insumos com a área cultivada.

Ainda assim, segundo o Sindiveg (entidade das empresas agroquímicas), o setor perdeu mais de 10% no valor em dólar, caindo para US$ 12 bilhões, pressionado pelos fatores explicados por Rodrigo Gutierrez.

Mesmo que os custos tenham sido repassados para os agricultores.

O território a ser atendido pelas empresas está em crescimento, com aumento da intenção de plantio das principais culturas, como a soja, nas quais as projeções apontam para pouco acima de 40 milhões de hectares, 1 milhão a mais que na última safra, mas completando o 15º ciclo de alta de área.

Haja lavouras para serem tratadas.