Pontocom 2.0: os próximos unicórnios da internet
Eu sempre estive envolvido em tecnologias emergentes e a internet desde que tive “a internet” como uma de minhas responsabilidades enquanto trabalhava na Cantor Fitzgerald Securities em Nova York em 1994.
Eu ainda me lembro de passar as noites lendo os livros de Tim O’Reilly para aprender sozinho o básico sobre o TCP/IP (Protocolo de Transmissão/Protocolo de Internet: protocolo principal de envio e recebimento de dados).
Enquanto eu trabalhei em Wall Street entre 1995 e 2000, vivenciamos uma das épocas mais empolgantes de startups durante “a era pontocom”.
20 anos atrás, o mundo tecnológico estava nas notícias quase diariamente com IPOs (ofertas iniciais públicas) de alta tecnologia e ambiciosas.
Naquela época, tanto os investidores varejistas quanto os institucionais contribuíram para o hype e o medo de perder uma oportunidade única de se envolver em algo que iria se tornar grande, “muito grande”.
Olhando para trás, a era pontocom era uma época determinante para se envolver com tecnologia e ofereceu àqueles dispostos a tomar os riscos uma oportunidade de investir em algumas das empresas que iriam contribuir com o crescimento da economia da internet.
Sim, havia muitas falências, mas, apesar disso, a internet aconteceu e continua a redefinir como os negócios são feitos.
Desde a bolha do pontocom em março de 2000, eu fiquei de olho na próxima “oportunidade única” para IPOs de alta tecnologia para sobrecarregar a indústria dos mercados de capital.
Após 18 anos de espera, acredito que agora estamos próximos de algo que possa ser ainda maior para a indústria de serviços financeiros do que a era pontocom original, algo que os comentaristas empresariais chamariam de “pontocom 2.0”.
Os próximos unicórnios na infraestrutura de blockchain
Apesar do desempenho do bitcoin (BTC) e do ether (ETH), o blockchain, assim como o TCP/IP, veio para ficar.
Desde 2017, muitas empresas se apresentaram para se estabelecer como participantes significativos do mercado na próxima geração da indústria de mercados de capital.
Nesse novo ambiente, valores mobiliários vão ser negociados em várias plataformas e as negociações vão estar disponíveis no blockchain.
As empresas cujos valores mobiliários estão sendo negociados podem ou não ser “empresas de blockchain”, mas as plataformas em que esses valores serão negociados vão ser baseadas em blockchain.
Veremos um número de plataformas de negociação de security tokens em todo o mundo. Com o crescimento dos volumes de negociação, uma multidão de empresas vai tentar entrar no mercado e fornecer serviços.
Ao mesmo tempo, espero muito que as empresas incumbentes (como Nasdaq) vão ser relançadas como plataformas de criptoativos e ser muito competitivas dentro da “nova” Wall Street.
Agora estamos vivendo uma época em que o futuro da indústria de mercados de capitais está sendo definido. Um elemento-chave dessa mudança é o advento de valores mobiliários digitais, inteligentes e programáveis, chamados de “security tokens”.
Faz 20 anos, mas agora, quando uma startup de receita de supercrescimento, avaliada em bilhões de dólares (chamada de “unicórnio”) vai seguir o caminho das IPOs, há uma nova rota a ser considerada: a das STOs (ofertas de security tokens).
Considerando que todos as ações existentes em todos os mercados de capitais ativos em todo o mundo sejam reemitidas como valores mobiliários digitais, otimizadas pelo ecossistema subjacente do emissor, a vantagem para os fornecedores de serviço na indústria de valores mobiliários financeiros pode ser de um quatrilhão de dólares.
O ponto ideal para o surgimento da era pontocom 2.0 depende da cooperação com unicórnios que estão em seu modo de receita de supercrescimento.
Essas são empresas que os investidores tradicionais de Wall Street consideram atrativas e querem investir. Na verdade, eles querem investir tanto que a sua intenção move a valoração do mercado da empresa às alturas.
Empresas que não são unicórnios devem ser evitadas porque, para ser competitivo na pontocom 2.0, o requisito é ser uma empresa funcional que gera receita mensurável enquanto projeta supercrescimento (e, com sorte, uma super-receita).
Pontocom 2.0 não vai ser conduzida apenas pelos sonhos do que podia ser; essa era a pontocom 1.0.
Uma STO não é uma ICO (oferta inicial de moeda). A maioria das ICOs foram associadas a startups sem receita. STOs são emitidas como colocações privadas e reguladas como valores mobiliários.
Para efeitos de emissão de STOs nos Estados Unidos, a maioria delas só foi apresentada para investidores reconhecidos e sujeitos às regulações D e S da Lei de Valores Mobiliários (Securities Act). No futuro próximo, espero ver o surgimento de ofertas que cumpram com as regulações recentes A e A+.
Desde julho de 2015, as regulações A fazem parte da lei JOBS (Jump Start Our Businesses Act ou “Lei de Estímulo de Negócios”) e ajudam startups a acessar capital, de maneira mais flexível (a um teto de US$ 50 milhões) enquanto cumprem com as leis de valores mobiliários norte-americanas.
Security tokens vão alinhar melhor os interesses dos investidores e das empresas
Até recentemente, investidores em empresas que são listadas na Nasdaq ou na Bolsa de Valores de Nova York só tinham a oportunidade de se beneficiar da apreciação da bolsa e, às vezes, de dividendos.
A era dos valores mobiliários inteligentes e programáveis significa que, pela primeira vez, investidores podem ter seus interesses alinhados com os diferentes aspectos do sucesso da empresa em que estão investindo.
Isso significa que, durante a criação de um security token, agora é possível oferecer aos investidores um número ilimitado de incentivos para entrarem no conjunto de investidores, bem além de apenas apreciação de preço e dividendos.
Esses incentivos podem incluir qualquer coisa desde a representação dos tokens em ações, como uma IPO tradicional, à inclusão de uma porcentagem de receitas de primeira linha, descontos a clientes, fornecedores e vendedores no ecossistema da empresa.
Delineados assim, os valores mobiliários inteligentes vão permitir que as empresas, que já têm receita para literalmente colocar mais lenha no fogueira de seu sucesso, ofereçam algo que mais se adeque a seus investidores (e ao ecossistema empresarial subjacente) com o sucesso de seu negócio.
Os benefícios associados à emissão de um valor mobiliário inteligente são apenas limitados à criatividade da empresa envolvida na emissão do valor mobiliário e à habilidade da empresa contar sua história aos investidores.
Uma oportunidade única
Um dos desafios a ser enfrentado, acolhido e entregue pela indústria de STOs é a de interoperabilidade ininterrupta pela indústria emergente de STOs.
Agora, os participantes no setor vão precisar trabalhar bem juntos e conduzir a criação de uma estrutura supranacional para os security tokens, o que certifica que os ativos de STOs estão em cumprimento com os reguladores nas jurisdições em que forem emitidos ou negociados.
Analistas de ações tradicionais vão ser desafiados a entender o valor de mercado das empresas que emitirão security tokens. Algo como “ganhos por ações” podem não ser importantes para a métrica definida por uma colocação privada específica.
Já que cada STO tem a oportunidade de ser única, vai ser difícil, no primeiro momento, modelar o desempenho dessa nova classe de ativos até o comportamento poder ser bem observado nos dados de mercado subjacentes.
Dito isso, quando ambos os investidores varejistas e institucionais tiverem a oportunidade de investir em um unicórnio e alinhar seus interesses com os do unicórnio e se beneficiarem de uma era de valores mobiliários digitais e de blockchain: isso oferece algo nunca antes possível ou prático.
A era pontocom 2.0 vai oferecer à comunidade de investidores uma oportunidade de alavancar tanto a internet como as dinâmicas ilimitadas associadas à alavancagem de uma nova classe de ativos criada na internet.