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Mancadas de Bolsonaro preocupam investidores e empresários ao patamar do vírus

16 maio 2020, 19:09 - atualizado em 16 maio 2020, 21:48
Jair Bolsonaro Coronavírus
O risco país do Brasil subiu 209 pontos base este ano, ou 120% (Imagem: Reuters/Adriano Machado)

Enquanto o presidente Jair Bolsonaro mantinha seu nome nas manchetes de jornais durante as últimas semanas, demitindo ministros e atacando governadores, STF e Congresso, investidores começaram a se preocupar com o efeito adicional de uma crise política além dos problemas de saúde e econômicos provocados pela pandemia do novo coronavírus.

A alta do risco país e a extrema volatilidade cambial, que já provocou uma desvalorização de mais de 30% do real neste ano afetaram fortemente o custo da dívida externa de companhias brasileiras, tornando bem mais cara a emissão de bônus no exterior.

Em seu relatório do dia 5 de maio, mudando a perspectiva do rating brasileiro de neutra para negativa, a agência Fitch Ratings incluiu como argumento a “relação volátil entre executivo e Congresso”, que pode prejudicar a recuperação depois da pandemia e aprovação de reformas.

O risco país do Brasil subiu 209 pontos base este ano, ou 120%, para 385 pontos base acima do rendimento das notas do Tesouro norte-americano de mesmo prazo, segundo dados do serviço IFR, da Refinitiv. O risco do México subiu 199 pontos base, para 348. O risco chileno subiu 99 pontos, para 174.

Com o aumento do impacto da pandemia na região, outros países latino-americanos resolveram acessar os mercados. Em abril, a emissão total da América Latina quadruplicou, para 16,5 bilhões de dólares, com governos e empresas correndo para fortalecer seus caixas contra a pandemia.

Chile, México, Guatemala, Paraguai, Panamá e Peru emitiram bônus soberanos, mesmo com custos mais altos. Entre as corporações que venderam bônus denominados em dólar ou euros, estão a mexicana America Movil, a chilena Codelco e a colombiana Ecopetrol.

Com o aumento do impacto da pandemia na região, outros países latino-americanos resolveram acessar os mercados (Imagem: Reuters/Roosevelt Cassio)

As maiores exportadoras brasileiras, como as produtoras de celulose, siderúrgicas, mineradoras e frigorífico, além dos maiores bancos, têm resistindo a emitir títulos no exterior pagando mais.

“A turbulência política dificulta enxergar uma perspectiva de recuperação”, disse Soummo Mukherjee, analista senior de crédito da Lucror Analytics. Ele acredita que investigações contra o presidente Bolsonaro e a ameaça de um processo de impeachment pioram a eficácia da resposta do país à pandemia.

“O Tesouro e as empresas brasileiras estão resistindo a pagar taxas maiores”, disse um banqueiro sênior em uma grande instituição norte-americana.

Outro executivo de banco de investimento disse que as empresas brasileiras estão querendo taxas iguais às que tinham antes da pandemia e podem perder a oportunidade de captar recursos, já que não está claro o impacto de médio prazo da pandemia nos fluxos de caixa.

Empresas brasileiras viram os rendimentos de seus títulos no mercado secundário subirem até 6 pontos percentuais no início de abril, quando a crise política se agravou. Desde então, o yield adicional caiu.

“Acho que algumas empresas vão acabar aceitando os custos maiores, até para mostrar que continuam tendo acesso ao mercado internacional”, disse um terceiro executivo de banco de investimentos.

Algumas empresas decidiram não acessar o mercado internacional por causa da fartura de crédito para grandes empresas nos maiores bancos privados brasileiros, que emprestaram 150 bilhões de reais para corporações entre meados de março e o final de abril.