Política faz da América Latina o patinho feio dos emergentes
Apontada como a região menos vulnerável à guerra comercial entre EUA e China, a América Latina está rapidamente se transformando no patinho feio dos mercados emergentes.
Segundo diversos critérios, a região está se distanciando do resto dos países em desenvolvimento — e de forma negativa.
Quatro das cinco moedas com pior desempenho nos últimos três meses são latino-americanas. As dívidas denominadas em dólar ou moeda local estão em desvantagem.
E as estimativas para os lucros corporativos caíram mais na América Latina do que em qualquer outra região, de acordo com dados compilados pela Bloomberg.
O nervosismo causado pelo impasse comercial e por preocupações com uma recessão global iminente não poupou outras nações emergentes. No entanto, a turbulência política que eclodiu no Chile, Equador, Peru e Argentina representa outra camada nebulosa nas perspectivas para a América Latina.
As perdas cambiais são o grande motivador da performance inferior dos ativos da região. A seguir, são discutidos os estragos causados pelos eventos domésticos.
Risco-país
Na segunda semana de agosto, enquanto os demais emergentes precificavam um possível acordo comercial entre EUA e China, os títulos denominados em dólares de emissores da América Latina despencavam.
O fator determinante foi a derrota do presidente argentino, Mauricio Macri, nas eleições primárias. Os instrumentos de dívida da região ainda não se recuperaram desde então.
Como esses papéis não sofrem com a oscilação cambial, a queda reflete a piora da percepção de risco dos países.
Risco cambial
O tombo do peso argentino nos últimos dois meses ofusca as outras perdas em mercados emergentes. Contudo, as demais moedas de mau desempenho
também são da América Latina. Investidores estão se livrando das divisas de Brasil, Colômbia e Chile mais rápido do que todas as demais, com exceção da rupia indiana. Na Índia, a oscilação do petróleo e empréstimos de recebimento duvidoso abalam a taxa de câmbio.
Risco de inadimplência
O crescente desconforto com a estabilidade fiscal na América Latina se reflete no mercado de instrumentos de proteção contra inadimplência, os credit default swaps (CDS). Os investidores estão pagando mais para se proteger contra calotes soberanos da América Latina do que de qualquer outra região.
Risco de crescimento
As perdas cambiais estão contaminando as perspectivas de lucro das empresas. As estimativas dos analistas para os ganhos em dólares diminuíram mais de 10% para as companhias latino-americanas nos últimos três meses, comparado a um recuo de 4,3% no caso de empresas da Europa Emergente, Oriente Médio e África.
Para as companhias asiáticas, as projeções subiram na margem. O quadro colabora para que as ações latino-americanas estejam no nível mais caro desde maio de 2018.