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Política de preços coloca Petrobras em sinuca de bico, e até CEO leva de Bolsonaro

19 fev 2021, 13:45 - atualizado em 19 fev 2021, 13:48
Petrobras
A Petrobras pode realizar importações com prejuízo para segurar preço dos combustíveis por pressões de Brasília, colocando em risco os resultados futuros (Imagem: /Paulo Whitaker)

Em poucas palavras, a elevação de preço dos combustíveis nas refinarias anunciada pela Petrobras (PETR3; PETR4), que já passa a valer nesta sexta-feira (19), não é suficiente e ainda continua abaixo níveis necessário para viabilizar importações com margem de lucro, adverte a XP Investimentos.

Mesmo com alta de 15% no preço médio do diesel e em mais 10% o da gasolina, a corretora chama a atenção para um fato preocupante que, atualmente, coloca a Petrobras em uma situação de desconto de 7,1% ou menos US$ 5,4 por barril de petróleo:

“Na nossa visão, um reajuste de tamanha magnitude ter que ocorrer e mesmo assim não ser suficiente para a companhia retornar à níveis de paridade de importação ilustram os desequilíbrios recentes da política de preços de combustíveis da Petrobras após um represamento de preços em meio a um cenário de volatilidade do câmbio e dos preços do petróleo“, alertam os analistas Gabriel Francisco e Maira Maldonado.

Para a dupla da XP a questão ganha ainda mais relevância tendo em vista o ambiente atual positivo para preços de petróleo com as expectativas de vacinação nos países desenvolvidos e um cenário de oferta mais restrito — provocado, recentemente, pela nevasca nos Estados Unidos, afetando a produção petrolífera.

“Continuamos a ver riscos para os resultados futuros da Petrobras tanto em termos de menores margens de refino como também devido a riscos de que a companhia tenha que realizar importações a prejuízo para manter o mercado local abastecido”, concluem os especialistas da corretora.

Veja a seguir a recomendação da XP para as ações da Petrobras:

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Empresa Tickers Recomendação Preço-alvo (R$)
Petrobras PETR3; PETR4 Neutra 32

Sobrou até pro CEO…

CEO em risco: Bolsonaro reitera que haverá mudanças na Petrobras sem dar detalhes (Imagem: Reuters/Sergio Moraes)

O CEO da Petrobras, Roberto Castello Branco, foi alvo de críticas pelo presidente Jair Bolsonaro durante tradicional live nas redes sociais, nesta ultima quinta-feira (18), ao dizer que “obviamente” fala do executivo terá consequência, quando dias atrás Castello havia dito que a ameaça de greve de caminhoneiros não era problema da Petrobras.

Na live, Bolsonaro reclamou dos preços dos combustíveis e anunciou medidas com o objetivo de reduzi-los.

“Nós acusamos responsabilidade de todo mundo. Pessoal, ninguém dá bola pra nada. Você vai na Receita: ‘Você, da Receita, não fiscaliza por quê?’ O cara não tem resposta. Eu não posso chamar atenção da Agência Nacional de Petróleo, porque é independente, mas tem atribuição também. Não faz nada”, disse.

Mais uma vez, Bolsonaro reiterou que haverá mudanças na Petrobras sem dar detalhes

Apesar de não ser possível avaliar impactos sobre a Petrobras das declarações de Bolsonaro, a XP acredita que o mercado deverá reagir de maneira negativa aos ataques do Presidente da República.

Para a Guide Investimentos, as declarações de Bolsonaro geram um certo grau de incerteza por parte dos investidores com relação à possíveis mudanças na governança da empresa.

“Vale dizer que os aumentos divulgados pela estatal nos últimos meses têm o objetivo de contrabalancear as perdas obtidas durante 2020 por conta do isolamento social e a consequente diminuição na demanda por combustível”, comenta o analista Luis Sales, em relatório a clientes.

O aparente processo de fritura que o CEO da petroleira passa com o Planalto relembra a saída precoce de Wilson Ferreira Jr. do comando da Eletrobras (ELET3ELET5ELET6), outra estatal que o governo Bolsonaro prometeu privatizar, mas que até o momento só continua no papel e nas intenções de Paulo Guedes.