Política de preços coloca Petrobras em sinuca de bico, e até CEO leva de Bolsonaro
Em poucas palavras, a elevação de preço dos combustíveis nas refinarias anunciada pela Petrobras (PETR3; PETR4), que já passa a valer nesta sexta-feira (19), não é suficiente e ainda continua abaixo níveis necessário para viabilizar importações com margem de lucro, adverte a XP Investimentos.
Mesmo com alta de 15% no preço médio do diesel e em mais 10% o da gasolina, a corretora chama a atenção para um fato preocupante que, atualmente, coloca a Petrobras em uma situação de desconto de 7,1% ou menos US$ 5,4 por barril de petróleo:
“Na nossa visão, um reajuste de tamanha magnitude ter que ocorrer e mesmo assim não ser suficiente para a companhia retornar à níveis de paridade de importação ilustram os desequilíbrios recentes da política de preços de combustíveis da Petrobras após um represamento de preços em meio a um cenário de volatilidade do câmbio e dos preços do petróleo“, alertam os analistas Gabriel Francisco e Maira Maldonado.
Para a dupla da XP a questão ganha ainda mais relevância tendo em vista o ambiente atual positivo para preços de petróleo com as expectativas de vacinação nos países desenvolvidos e um cenário de oferta mais restrito — provocado, recentemente, pela nevasca nos Estados Unidos, afetando a produção petrolífera.
“Continuamos a ver riscos para os resultados futuros da Petrobras tanto em termos de menores margens de refino como também devido a riscos de que a companhia tenha que realizar importações a prejuízo para manter o mercado local abastecido”, concluem os especialistas da corretora.
Veja a seguir a recomendação da XP para as ações da Petrobras:
Empresa | Tickers | Recomendação | Preço-alvo (R$) |
---|---|---|---|
Petrobras | PETR3; PETR4 | Neutra | 32 |
Sobrou até pro CEO…
O CEO da Petrobras, Roberto Castello Branco, foi alvo de críticas pelo presidente Jair Bolsonaro durante tradicional live nas redes sociais, nesta ultima quinta-feira (18), ao dizer que “obviamente” fala do executivo terá consequência, quando dias atrás Castello havia dito que a ameaça de greve de caminhoneiros não era problema da Petrobras.
Na live, Bolsonaro reclamou dos preços dos combustíveis e anunciou medidas com o objetivo de reduzi-los.
“Nós acusamos responsabilidade de todo mundo. Pessoal, ninguém dá bola pra nada. Você vai na Receita: ‘Você, da Receita, não fiscaliza por quê?’ O cara não tem resposta. Eu não posso chamar atenção da Agência Nacional de Petróleo, porque é independente, mas tem atribuição também. Não faz nada”, disse.
Mais uma vez, Bolsonaro reiterou que haverá mudanças na Petrobras sem dar detalhes
Apesar de não ser possível avaliar impactos sobre a Petrobras das declarações de Bolsonaro, a XP acredita que o mercado deverá reagir de maneira negativa aos ataques do Presidente da República.
Para a Guide Investimentos, as declarações de Bolsonaro geram um certo grau de incerteza por parte dos investidores com relação à possíveis mudanças na governança da empresa.
“Vale dizer que os aumentos divulgados pela estatal nos últimos meses têm o objetivo de contrabalancear as perdas obtidas durante 2020 por conta do isolamento social e a consequente diminuição na demanda por combustível”, comenta o analista Luis Sales, em relatório a clientes.
O aparente processo de fritura que o CEO da petroleira passa com o Planalto relembra a saída precoce de Wilson Ferreira Jr. do comando da Eletrobras (ELET3; ELET5; ELET6), outra estatal que o governo Bolsonaro prometeu privatizar, mas que até o momento só continua no papel e nas intenções de Paulo Guedes.