Poder de compra do brasileiro continuará sob pressão em 2022 e deve afetar o varejo, afirma Goldman Sachs
O poder de compra do consumidor brasileiro vem sofrendo forte pressão nos últimos seis meses, com a aceleração da inflação global, combinada com a redução e eventual eliminação do auxílio emergencial no Brasil em outubro e um mercado de trabalho que continua “operando com grande folga”, afirma o Goldman Sachs.
O banco destaca que o enfraquecimento resultante da demanda subjacente foi mais notável para varejistas de bens duráveis, como Magazine Luiza (MGLU3) e Via Varejo (VIIA3). No terceiro trimestre de 2021, essas companhias tiveram uma forte desaceleração no crescimento acumulado de dois anos, tanto nas vendas físicas quanto online, que apontou para uma expectativa de trimestres desafiadores à frente.
No entanto, a desaceleração não foi isolada para o segmento de bens de consumo mais caros e discricionários. Ela impactou também segmentos mais defensivos, como o atacarejo. Os principais varejistas de alimentos, como o Assaí (ASAI3), apontaram um trade-down entre marcas e categorias, já que os consumidores estão lutando com a inflação dos alimentos, que atingiu uma alta de 8,2% em dezembro.
“Acreditamos que a inflação de alimentos, energia elétrica (+21% em dezembro) e combustíveis (+49% em dezembro), que juntos respondem por grande parte da renda mensal (cerca de 30%, de acordo com a Pesquisa de Orçamentos Familiares do IBGE), pesou significativamente no poder de compra e na confiança do consumidor”, afirma o Goldman Sachs.
O banco ressalta que, para as famílias de menor renda, o peso desses componentes passa de 50% da renda mensal. “À medida que as pressões inflacionárias perduram em 2022, acreditamos que elas continuarão a restringir as perspectivas de demanda, especialmente para famílias de baixa renda e varejistas que estão mais expostos a elas”, completa.
Média salarial e Auxílio Brasil
O crescimento médio do salário nominal desacelerou em trimestres consecutivos até 2021, de +6,1% no primeiro trimestre de 2021 para +2,8% no segundo e -1,5% no terceiro.
Em termos reais, o crescimento do salário real total permaneceu em território negativo durante a maior parte do ano passado. Além disso, quando deflacionado pelo índice de inflação das famílias de baixa renda, o crescimento do salário real total teria sido mais negativo.
“Enquanto a inflação permanecer elevada, especialmente para bens básicos, como alimentos, esperamos que o poder de compra da baixa renda permaneça restrito”, afirma o Goldman Sachs.
De acordo com o banco, o Auxílio Brasil ainda pode oferecer algum suporte e aliviar a situação dos varejistas, mas esses beneficiários também estão com uma inflação maior do que o consumidor geral, devido à composição de suas cestas médias.
Picos de ômicron e gripe podem pesar no varejo
Os novos casos confirmados de Covid-19 estão aumentando, pois a variante ômicron é mais contagiosa e está se espalhando rapidamente pelo Brasil.
“Esse pico repentino ocorre após um declínio constante na contagem de casos até o segundo semestre de 2021, que levou a uma melhoria consistente na mobilidade e no tráfego nas lojas nos últimos meses. Esse novo pico de coronavírus, assim como infecções por influenza H2N3, pode pesar no tráfego nas lojas no primeiro trimestre de 2022”, analisa o banco.
Apesar deste cenário, o Goldman Sachs não espera novas restrições de abertura de lojas ou horário de funcionamento neste momento. No entanto, assim como em ondas anteriores, acredita que os consumidores podem optar pelas compras online.
Quais ações comprar e vender?
Segundo o Goldman Sachs, entre as mais expostas ao poder de compra do consumidor mais fraco, a recomendação para as ações da Via Varejo é de venda. Já para o Magazine Luiza, os analistas recomendam compra.
O banco acredita que franquias de ingressos ainda mais baixos que Via e Magalu, como a Natura (NTCO3), com recomendação neutra, e varejistas de alimentos podem ser impactadas.