Pode Joe Biden recriar a economia dos EUA com a qual cresceu?
É quase certo que Joe Biden será o último presidente dos Estados Unidos nascido como membro da “geração silenciosa”, grupo demográfico que era criança durante a Segunda Guerra Mundial e atingiu a maioridade em um boom econômico que gerou riqueza para a classe média e consolidou o papel do país como potência industrial líder no mundo.
Ao longo da segunda metade de sua vida, Biden, de 78 anos, viu parcela da riqueza nacional destinada a essa classe média cair e os ganhos do crescimento dos Estados Unidos concentrarem-se em um punhado de regiões.
Agora, ele tenta reverter essa tendência de meio século com um enorme direcionamento federal de capital para pessoas e infraestrutura negligenciadas.
O projeto de Biden para infraestrutura e empregos e o aumento de impostos corporativos para ajudar a pagar por isso contrastam com a deferência aos mercados privados iniciada pelo Partido Republicano com a eleição de Ronald Reagan em 1980 e alimentada por rodadas de cortes de impostos e de medidas de desregulação aplicadas por ambas as legendas.
Quer tenham sido as medidas de Bill Clinton para reduzir medidas de bem-estar social e diminuir a regulação do setor financeiro, quer tenha sido a hesitação de Barack Obama em “aumentar” os gastos na última recessão, tem havido uma relutância federal em intervir profundamente por décadas.
O plano de Biden remete aos líderes democratas de sua juventude na década de 1960, com o foco ambicioso do presidente John Kennedy em iniciativas públicas, como o pouso do homem na Lua, ou o esforço de Lyndon Johnson para fortalecer a rede de seguridade social. Também ecoa ideias como a criação das rodovias norte-americanas pelo presidente Dwight Eisenhower, na década de 1950.
“Estou impressionado com a escala, a estrutura” do plano de Biden, disse Simon Johnson, professor de economia do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT, na sigla em inglês). “Eles parecem ter acatado a ideia de que é possível aumentar a produtividade, impulsionar o crescimento e propagá-lo pelo país” com investimentos públicos corretos.
O projeto agora vai para o Congresso dos EUA, e a batalha sobre o plano deve ser enorme.
O plano “representa um grande esforço para combater as crescentes desigualdades geográficas do país… Ele mostra uma compreensão de como a infraestrutura pode criar acesso e oportunidade –ou bloqueá-la”, disse Kenan Fikri, diretor de pesquisa do Grupo bipartidário de Inovação Econômica.
O processo de redução na diferença de riqueza entre negros e brancos mostrou pouco progresso nos últimos trinta anos, independentemente do fato de que os democratas ocuparam a Casa Branca em 16 deles. O plano visa investimentos em comunidades negras, incluindo aquelas afetadas pela poluição portuária ou outra praga ambiental, e indústrias com uma grande proporção de trabalhadores negros.