Poço seco da Shell ofusca exploração de petróleo no Brasil
A Royal Dutch Shell acaba de perfurar um poço seco na principal região offshore do Brasil, um sinal de que a Petrobras (PETR3 PETR4) já pode ter abocanhado os melhores depósitos de petróleo e deixado concorrentes com opções menos atraentes.
A Shell concluiu a exploração de seu primeiro poço no bloco Saturno em 13 de junho sem divulgar nenhuma descoberta, de acordo com dados de perfuração da Agência Nacional de Petróleo.
A assessoria de imprensa da ANP confirmou que era um poço seco, enquanto a Shell disse que não pode comentar devido ao período de silêncio antes da divulgação do balanço.
As expectativas eram altas desde o início. Shell e Chevron venceram a Exxon Mobil na disputa com um bônus de assinatura de US$ 780 milhões pelo bloco em 2018 e, no ano seguinte, a colombiana Ecopetrol comprou uma participação de 10% na licença por um valor não revelado.
Os resultados se somam a uma série de contratempos na atividade de exploração fora do conjunto inicial de campos gigantes que transformaram o Brasil no maior produtor da América Latina e em um centro global para exploração.
No ano passado, a Petrobras e a BP venceram a licitação para o bloco de Peroba.
A Shell descobriu petróleo no Alto de Cabo Frio Oeste, e a Petrobras em Uirapuru, mas informações preliminares indicam que ambos os poços podem não superar obstáculos econômicos, disse Marcelo de Assis, chefe de pesquisa upstream da Wood Mackenzie.
“Se você eliminar todos esses poços, a produção futura vinculada a atividades exploratórias diminuirá significativamente”, disse. “Isso reduzirá o interesse em rodadas de licitação futuras e aumentará a pressão em termos fiscais mais favoráveis.”
A Petrobras realiza trabalhos técnicos em Peroba e estuda amostras de rochas em Uirapuru para avaliar o potencial do bloco, disse a empresa em resposta a perguntas.
A taxa de sucesso inicial da Petrobras de 100% no pré-sal atraiu interesse em rodadas de exploração durante a última década.
A Shell transformou o país em um de seus principais mercados de crescimento quando comprou a BG Group em 2015, dando-lhe acesso às primeiras descobertas do pré-sal, que agora são suas maiores produtoras.
Os campos existentes no pré-sal são economicamente viáveis, mesmo com os preços atuais do petróleo, e grandes empresas como Exxon, Total e Equinor têm áreas de exploração na região.
A Exxon tem um bloco adjacente ao Saturno da Shell, e a indústria offshore do país vai observar atentamente quando a perfuração começar.
“Existe o risco de que os melhores campos já tenham sido descobertos. O polígono do pré-sal é uma área enorme e pode ser bastante heterogêneo do ponto de vista geológico”, afirmou Assis.
Os poços de desenvolvimento mais recentes da Petrobras nos campos do pré-sal já declarados comerciais confirmaram as expectativas, informou a empresa.
A estatal também possui um programa para eliminar completamente os poços secos, usando inteligência artificial para aproveitar dados acumulados de exploração e reduzir o tempo necessário para iniciar a produção comercial.