Plano para aço da China desafia mineradoras da Austrália
A China prometeu reduzir sua dependência de terceiros para obter minério de ferro em um plano de cinco anos para a indústria do aço, em meio à alta dos preços da matéria-prima e de uma disputa comercial crescente com a Austrália, o principal fornecedor.
Até 2025, o maior setor de aço do mundo deve obter pelo menos 45% dos insumos de ferro de fontes controladas pela China, disse o Ministério da Indústria e Tecnologia da Informação em documento de políticas preliminar.
A proposta prevê um maior papel para minas de propriedade da China no exterior, cooperação com fornecedores não dominantes, bem como maior consumo de sucata de aço, uma alternativa ao minério de ferro extraído.
A proposta segue uma série de comentários de autoridades do setor de aço da China sobre a forte dependência de fontes externas de minério de ferro, especialmente porque os preços à vista chegaram a ultrapassar os maiores níveis em nove anos em dezembro.
A China produz bem mais da metade do aço mundial, e cerca de 70% de suas importações de minério de ferro têm origem em apenas dois países: Austrália e Brasil.
Isso pode preocupar especialmente a Austrália, que conta com o minério de ferro como principal produto de exportação, e com a China como seu maior mercado.
Embora o governo de Pequim tenha imposto restrições a vários produtos importados da Austrália, o minério de ferro ainda não foi afetado, o que analistas atribuíram à forte dependência do país asiático da oferta australiana.
A China tem atuado de forma constante para garantir recursos de minério de ferro. Algumas de suas minas no exterior incluem a joint venture Channar, da Sinosteel, na Austrália, e o projeto Marcona, da Shougang, no Peru.
Mas o foco está na Guiné, onde algumas das maiores estatais da China estão perto de obter o sinal verde para desenvolver Simandou, o maior depósito de minério de ferro inexplorado.
“É inteiramente possível que a China possa aumentar sua autossuficiência em unidades de ferro virgens e secundárias para 45%, em relação a seu nível atual de pouco mais de 30%, se desenvolver com sucesso o projeto Simandou”, disse o cofundador da Navigate Commodities, Atilla Widnell.
Para chegar a 45%, Simandou precisa produzir 200 milhões de toneladas por ano para deslocar as importações de outros países, disse Widnell. Ainda assim, pode ser difícil atingir esse nível até 2025, dados os desafios geográficos da área. Ele estima que, com o atual ritmo de desenvolvimento, as metas serão alcançadas até 2030.
Como os preços do minério de ferro dispararam no ano passado, mineradoras como as australianas BHP, Rio Tinto e Fortescue Metals se beneficiaram, sendo que as ações desta última mais do que dobraram de preço em 2020. Até mesmo a ação da Vale – cujos problemas de fornecimento ajudaram a impulsionar os preços nos últimos anos – subiu quase 60% no segundo semestre de 2020.
A Rio Tinto e a Fortescue não quiseram comentar o plano da China, enquanto o porta-voz da BHP não respondeu de imediato.
Entre outros objetivos para a indústria siderúrgica, a China tem como meta que suas cinco maiores siderúrgicas respondam por 40% da produção doméstica e continuem aplicando estritamente a proibição de construir mais usinas, a menos que seja aprovado pelo programa do país para substituir a capacidade.
Nos últimos anos, o país liderou iniciativas para cortar capacidade de aço com o objetivo de proteger os preços, o que gerou uma onda de fusões e aquisições.
A China também quer que a sucata e fornos elétricos a arco respondam por uma parte maior da produção de aço.