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Pierre Schurmann: A B3 vai se transformar na Nasdaq da América Latina?

24 maio 2021, 18:35 - atualizado em 24 maio 2021, 18:35
Nasdaq EUA Mercados
O apetite crescente mostra o vigor do setor de tecnologia e do ambiente de inovação do país com o surgimento de empresas novatas em diversos nichos de mercado (Imagem: REUTERS/Shannon Stapleton)

Na contramão do cancelamento de IPOs decorrente da maré de incertezas que tem afastado os estrangeiros da bolsa brasileira, há uma onda de investidores que fincou o pé no país com um particular interesse pelas startups.

Os números mostram bem este cenário. Enquanto no primeiro quadrimestre de 2021 30 IPOs foram cancelados na B3 (B3SA3), os investimentos de venture capital cresceram 187% em relação a igual período do ano passado.

De janeiro a abril, segundo o relatório Inside Venture Capital, do hub de inovação aberta Distrito, os valores recebidos pelas startups brasileiras atingiram US$ 2,3 bilhões, equivalente a 70% de todo o montante aplicado em 2020, que foi de US$ 3,5 bilhões.

Os fundos de VC já tinham mostrado em 2020 um crescimento de 17% em relação ao ano anterior, segundo outro levantamento da Distrito.

O apetite crescente mostra o vigor do setor de tecnologia e do ambiente de inovação do país com o surgimento de empresas novatas em diversos nichos de mercado, tornando ainda mais urgente a criação de regulamentações que estimulem o desenvolvimento do setor.

Alguns segmentos continuam ganhando destaque. Mapeamento realizado pela Associação Brasileira das Startups aponta que o setor educacional já é o maior entre as startups brasileiras.

De acordo com o levantamento, no ano passado estavam ativas no país 566 edtechs, 26,1% mais empresas do que em 2019, quando foram contabilizadas 449.

Já no agronegócio, único setor da economia brasileira que registrou crescimento do PIB em 2020, estamos assistindo o boom de agtechs oferecendo toda sorte de serviços, desde soluções de crédito e monitoramento climático até automação de lavouras. Levantamento do Agtech Garage indica que 44% destas startups tiveram aumento do valor de mercado durante a pandemia.

Na área de logística e de pagamentos eletrônicos, a explosão das vendas online por causa da Covid-19 impulsionou de forma abrupta também as logtechs e fintechs. O mesmo aconteceu com as insurtechs, do ramo de seguros.

Estudo da Fitch Ratings publicado no início de maio aponta que as tradicionais seguradoras terão de acelerar a digitalização por causa da pandemia e do crescimento da concorrência das startups.

Outro levantamento da Associação Brasileira de Private Equity e Venture Capital (ABVCAP) revelou que as FinTechs e InsurTechs foram as que receberam mais recursos de venture capital no primeiro trimestre de 2021, ficando com 18% dos R$ 8,8 bilhões alocados por VCs em empresas brasileiras.

O estudo da ABVCAP e da KPMG mostrou ainda que os investimentos de venture capital no Brasil superaram em mais de quatro vezes os recursos de private equity, calculados em R$ 1,9 bilhão no primeiro trimestre de 2021. O investidor de private equity opta por negócios com fluxo de caixa e faturamento maiores, mas que ainda não abriram capital.

Todos esses números reforçam a percepção a respeito do vigor e da potência do ambiente brasileiro de empresas de inovação.

Desde a popularização do termo indústria 4.0, ou a chamada quarta revolução industrial, na Alemanha, em 2012, não se pensa no futuro de um ramo de atividade econômica sem sua versão 4.0, com uso de análise de big data, inteligência artificial, Internet das Coisas (IoT) e serviços em nuvem, entre outras tecnologias.

Ainda temos grandes desafios pela frente. Um deles é ver como o novo marco regulatório das startups (Imagem: Divulgação)

Startup é fonte de inovação e os investidores sabem disso. Por esta razão, vivemos aqui a aparente dicotomia de “faltar” dinheiro para empresas que tentam abrir capital na bolsa e “sobrar” para as que ainda estão em etapas anteriores de maturação.

Ainda temos grandes desafios pela frente. Um deles é ver como o novo marco regulatório das startups, aprovado no Congresso em maio deste ano, vai funcionar na prática.

Outro é a carência de mão de obra especializada. Relatório da Associação Brasileira das Empresas de Tecnologia da Informação e Comunicação (Brasscom), de antes da pandemia, estimava um déficit anual de 24 mil formandos em Tecnologia da Informação (TI).

A dicotomia do fluxo de capitais que apontei acima me parece um indício de que podemos estar vivendo um processo semelhante ao dos EUA. Lá, as cinco maiores companhias em valor de mercado são empresas de tecnologia: Apple, Microsoft, Amazon, Alphabet (Google) e Facebook.

Todas elas foram startups que deram seus primeiros passos com investimento anjo e cresceram exponencialmente com boa dose de aportes de fundos VC até estarem maduras o suficiente para abrir capital.

A B3 será no futuro a Nasdaq da América Latina? A conferir.

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