PIB mais modesto esconde sinais de crescimento maior para este ano e 2018, diz Santander
Por Ângelo Pavini, da Arena do Pavini
Apesar de vir abaixo do esperado pelo mercado, o crescimento da economia brasileira no terceiro trimestre, divulgado hoje pelo IBGE, traz sinais muito positivos para este ano e para o próximo, explica Rodolfo Margato, economista do banco Santander Brasil. Segundo ele, o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) de 0,1% sobre o segundo trimestre, inferior ao 0,3% do consenso do mercado e do próprio Santander, oculta notícias positivas que podem levar a instituição a rever para cima seus números de crescimento deste ano. Um exemplo é que, quando comparado ao mesmo trimestre do ano passado, por exemplo, o terceiro trimestre deste ano apresenta um aumento de 1,4%, dentro da projeção do mercado e do banco.
O desvio em relação ao segundo trimestre deste ano, portanto, se deve à interferência de novos dados, incorporados ao cálculo relativos a 2015 ainda, e a mudanças nos fatores sazonais e novos componentes. “Essas mudanças podem enganar, e quando olhamos a abertura dos números, vemos um crescimento importante da demanda doméstica, da ordem de 0,9%, puxada pela continuidade do crescimento da demanda das famílias e dos investimentos”, explica. A conclusão é que esses números “dão alento para uma melhoria do prognóstico para 2018”.
Segundo Margato, a comparação com o segundo trimestre mostra sinais mais favoráveis de uma recuperação da economia que pode levar à revisão da estimativa para este ano e par ao próximo. Há ainda uma importante revisão dos trimestres anteriores, como o crescimento do segundo trimestre, que passou de 0,2% para 0,7% a partir de informações sobre o PIB de 2015.
Também o número do primeiro trimestre foi revisto pelo IBGE e passou de crescimento de 1% para 1,6%, o que eleva a base de comparação. “Apesar do pequeno desvio para baixo do terceiro trimestre, a revisão para cima dos trimestres anteriores deixa o carry over (efeito contábil) para 2017 bem mais favorável”, afirma. Tanto que ele já pensa em rever a estimativa de crescimento para este ano, de 0,8% para até 1,1%. “Vamos analisar os números nas próximas semanas, mas aumenta a probabilidade de crescimento de 1,1% no ano fechado”, diz, reafirmando que por enquanto a projeção do banco está em 0,8%.
Além deste ano, o número do terceiro trimestre dá sinais mais auspiciosos para o crescimento do ano que vem também. O Santander projeta 3,2% de crescimento, acima da mediana do mercado obtida pela pesquisa do relatório Focus do Banco Central, de 2,6%. Para Margato, os dados de hoje do PIB, ainda que com pequeno desvio, reforçam o cenário base de continuidade de crescimento e, mais importante, uma disseminação dessa melhora por mais setores e regiões nas próximas medições.
Queda esperada na agricultura e indústria mais disseminada
A queda do lado da oferta foi puxada pelo setor agropecuário, o que já era esperado, pelo efeito estatístico da alta nos trimestres anteriores, nos quais os efeitos das safras. “No terceiro trimestre, as safras têm peso de culturas que não tiveram desempenho tão bom, o que já se previa, apesar do aumento de 0,9% sobre o ano anterior”, lembra. A indústria também teve um crescimento importante sobre o segundo trimestre e sobre o ano passado, puxado pela indústria de transformação. Margato nota que há uma disseminação desse crescimento no setor industrial, com o índice de difusão do crescimento passando de uma média móvel de 30% para 55% a 60% dos setores nas últimas leituras. “Alguns setores puxam com mais intensidade, outros menos”, explica.
O setor de Serviços, que também apresentou alta, teve como grande destaque o comercio, com crescimento de quase 2% no trimestre, o que já era esperado pelo forte aumento das vendas do varejo ampliado, observa o economista.
Consumo das famílias puxa crescimento mesmo sem FGTS
Mas a grande força motriz do crescimento ainda é o consumo das famílias, que reflete a melhora disseminada dos fundamentos da economia, como inflação baixa, corte nos juros, melhora importante da confiança do consumidor, os primeiros sinais de melhora do mercado de crédito e de trabalho com a queda da taxa de desemprego. “A melhora deste trimestre no consumo das famílias é importante porque havia o medo de que o desempenho dos trimestres anteriores era fruto apenas da liberação do FGTS inativo, o que não se confirmou”, explica Margato. “Os dados mostram que os principais fatores de crescimento para o consumo das famílias são os fundamentos “.
Investimento aumenta, mas ociosidade garante inflação baixa até 2019
Já os investimentos crescendo representam uma surpresa diante da capacidade ociosa ainda alta da economia. “Mas esperamos continuidade nos próximos trimestres, apesar da ociosidade ainda elevada”, diz. Segundo ele, mesmo com o PIB Potencial (capacidade que o país tem de crescer sem pressionar a inflação) do Brasil seguir baixo, na casa do 1,5% ao ano, e com o crescimento da economia mais forte no ano que vem e nos próximos, a ociosidade da economia continuará alto. “O chamado hiato do produto, ou seja, o espaço entre a capacidade de produção e a demanda da economia, ainda continuará muito aberto e só deverá ser anulado no segundo semestre de 2019”, diz.
Isso significa que o país terá uma oportunidade grande de continuar crescendo sem inflação e com juros baixos, e com isso avançar na agenda de reformas econômicas nos próximos anos. “Via canal da atividade e demanda, não vemos pressão inflacionária em 2018, por isso projetamos uma inflação abaixo da meta e uma taxa Selic de 6,75% ao ano por todo o ano que vem”, diz.
Investimento pode voltar em 2019
Sobre o aumento dos investimentos, Margato diz que ele veio até abaixo do esperado pelo banco, 1,6% em vez de 1,7% sobre o segundo trimestre. E houve queda sobre 2016, como esperado. Segundo ele, há várias dúvidas sobre a sustentação da melhora dos investimentos, levando-se em conta a ociosidade alta da economia. “Mas outros fatores mostram uma melhora interessante”, diz, citando os efeitos da taxa de juros mais baixa sobre os investimentos. “Hoje, estamos com uma queda da taxa real de juros para 3%, abaixo da taxa neutra, que seria de 4% ao ano, o que indica uma política bastante expansionista”, explica.
Além disso, a confiança do empresariado está crescendo, o risco-pais está em queda, o que são fatores positivos para o investimento. “Claro que para alguns setores essa volta do investimento vai demorar, como no setor de caminhões, no qual a ociosidade é uma das maiores, mas em bens de capital seriados, máquinas agrícolas, energia elétrica, já vemos sinais de reação”, explica. E a diversificação maior de regiões crescendo também é importante para estimular esses investimentos. “Esperamos um crescimento de 6% no próximo ano, uma melhora tímida considerando a queda nos investimentos de 30 pontos percentuais entre 2014 e 2017, mas a sinalização é que o pior ficou para trás”, acredita Margato.
Diferença está nos investimentos
É o debate sobre a retomada dos investimentos que faz a grande diferença nas projeções para o crescimento do PIB no ano que vem, de 2% para até 4%, explica o economista. No caso do consumo das famlias, o consenso é que ele será o principal vetor, mas nos investimentos há dúvida maior. “Estamos na ponta otimista, pois vemos segmentos como energia elétrica, agricultura e bens seriados já aumentando os investimentos, sem contar ainda com a expectativa de pacotes de concessões”, afirma.
Eleições não comprometem
Sobre as eleições do ano que vem, Margato acredita que elas não chegarão a prejudicar o crescimento da economia. “Só se houver um impacto muito forte logo no início do ano, que altere os mercados, o dólar, a inflação, mas não vemos isso, achamos que o crescimento do ano que vem já está dando”, afirma. Já com relação à continuidade do crescimento, a eleição será fundamental, ao definir se o país vai continuar com uma política de ajuste fiscal, reformas e redução do crescimento da dívida. “Sem isso, a inflação deve voltar, os juros voltam a subir e o crescimento será comprometido”, diz.