Brasil

PIB brasileiro pode ficar no negativo no 2° semestre; “números estão parecidos com 2015”, avalia economista

28 jun 2022, 9:37 - atualizado em 28 jun 2022, 9:37
A desaceleração do PIB no 2° semestre deve resultar de um diferença fundamental: a falta de injeção de dinheiro na economia (Imagem: REUTERS/Ricardo Moraes)

“Podemos ter um PIB em torno de zero no 2° semestre, ou ainda negativo”, avalia da Tatiana Pinheiro, economista-chefe de Brasil da Galapagos Capital. A especialista calcula as atuais condições financeiras em um patamar muito próximo a 2015, quando o Brasil enfrentou “a maior recessão da sua história econômica datada”.

O cenário de desaceleração da economia nos próximos meses viria na contramão de um crescimento de 1% no PIB durante o primeiro trimestre do ano, com indicações de uma alta semelhante nos meses entre abril e junho.

Mas essa mudança na direção da economia deve resultar de um diferença fundamental: a falta de injeção de dinheiro no bolso das pessoas, defende Tatiana.

A especialista cita alguns eventos que ocorreram no início de 2022, mas que não irão se repetir nos próximos meses: a antecipação do 13° salário para aposentados e pensionistas; o saque extraordinário do FGTS; e um reajuste do salário mínimo acima da inflação.

“Todos esses impulsos de dinheiro rapidamente se transformam em consumo, como alimentação, habitação e transporte”, explica. Assim, o dinheiro que foi adiantado no início do ano não vai estar no orçamento das pessoas no 2° semestre.

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Cenário econômico

O aumentos dos juros e da inflação são outros fatores que devem impactar o consumo nos próximos meses. A inflação acumulou alta de 12% no último ano até junho. Uma vez que as pessoas tenham menos dinheiro para consumir, “a demanda também deve diminuir no segundo semestre”, explica Tatiana.

Enquanto isso, o Banco Central definiu a taxa Selic a 13,25% no último dia 15 de junho, um aumento que deve ser sentido nos próximos meses.

Conforme avalia a economista-chefe, os juros devem “comprometer o pagamento das dívidas da população como um todo, que deve [deixar a economia] cada vez mais apertada, diante desses efeitos”.

A parcela de inadimplentes, aqueles que têm contas ou dívidas em atraso, chegou a 28,7% das famílias brasileiras em maio, a oitava alta consecutiva do indicador, segundo a Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor (CNC).

Uma pesquisa da FGV avaliou que o endividamento das classes mais baixas já vem interferindo no poder de consumo. Isso porque 42,3% das famílias com renda abaixo de R$ 2.100 e com direito ao saque de até R$ 1 mil do FGTS e antecipação do 13° salário usaram a renda recebida no primeiro semestre para quitar suas dívidas.

Recessão global

Além dos fatores nacionais, Guilherme Cadanhotto, especialista em renda fixa da Spiti, ressalta que os países mais desenvolvidos do mundo também estão passando por um momento de revisão, para baixo, das projeções de crescimento da economia.

Cadanhotto explica que “esses países também estão passando por um ciclo de aperto monetário, ou aumento de juros, em decorrência da pandemia”.

O especialista também pontua que o enfraquecimento da economia chinesa é outro fator que impacta o PIB brasileiro, já que o país passou por vários momentos neste semestre com uma política rígida de controle da Covid-19, e enfrentou longos momentos com seu varejo e indústria fechados.

“A China, os EUA e o bloco da União Europeia são, respectivamente, o primeiro, segundo e terceiro lugar em parceria comercial com o Brasil, então a atividade global também vai estar jogando contra o crescimento da economia brasileira, em ritmo de desaceleração”, resume.

O analista de renda fixa concorda com Tatiana, e avalia que enfrentaremos uma desaceleração econômica nos próximos meses.

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