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Petrolíferas questionam se devem continuar a busca por reservas

17 ago 2020, 15:40 - atualizado em 17 ago 2020, 15:40
Petróleo
Com o coronavírus destruindo economias e prejudicando a demanda, as grandes petrolíferas europeias fizeram algumas confissões nos últimos meses: bilhões de dólares em petróleo e gás talvez nunca sejam extraídos do solo (Imagem: REUTERS/Andrew Cullen)

No canto inferior do Atlântico Sul, as Ilhas Malvinas já estiveram na vanguarda de uma nova era para a indústria petrolífera, quando o planeta era vasculhado na busca por recursos energéticos.

Uma década após a descoberta de até 1,7 bilhão de barris de petróleo nas águas em torno das ilhas, o território britânico conhecido pela criação de ovelhas e pela tensão com a Argentina parece mais remoto do que nunca.

Em vez de se tornar a próxima fronteira do setor, o projeto de extração pode entrar na lista em que as petrolíferas colocam os chamados “ativos improdutivos”, que podem custar fortunas e não dar em nada.

Com o coronavírus destruindo economias e prejudicando a demanda, as grandes petrolíferas europeias fizeram algumas confissões nos últimos meses: bilhões de dólares em petróleo e gás talvez nunca sejam extraídos do solo.

A crise também acelerou uma migração global para a energia limpa. Os combustíveis fósseis provavelmente serão mais baratos do que o esperado nas próximas décadas, mas emitir carbono custará mais caro.

Diante dessas duas premissas, extrair combustível de alguns campos não faz mais sentido econômico. A BP avisou em 4 de agosto que não fará exploração em novos países.

A indústria petrolífera já vinha enfrentando um quadro de transição energética, oferta abundante e indícios de pico de demanda quando a Covid-19 começou a se espalhar. A pandemia provavelmente adiantará esse pico e diminuirá o incentivo à exploração, de acordo com a Rystad Energy. A consultoria estima que 10% dos recursos mundiais de petróleo recuperável — cerca de 125 bilhões de barris — se tornarão obsoletos.

“Haverá ativos ociosos”, disse Muqsit Ashraf, diretor-gerente sênior responsável pela indústria global de energia na Accenture. “As empresas terão que aceitar o fato.”

O projeto Sea Lion nas Malvinas prometia ser um recurso de primeira linha quando a Rockhopper Exploration encontrou o campo, em 2010. Centenas de milhões de dólares depois e após um conflito entre a Argentina e a Grã-Bretanha sobre a legalidade do projeto, a primeira fase ainda não trouxe óleo algum para o mercado.

A Premier Oil, sócia da Rockhopper, suspendeu os trabalhos em Sea Lion no início deste ano e, em 15 de julho, deu baixa contábil em US$ 200 milhões em investimentos por achar improvável a realização das fases posteriores.

Empresas maiores começaram a expressar essa percepção a respeito de outros projetos. A BP informou em junho que iria avaliar seu portfólio de descobertas e deixar algumas sem desenvolvimento.

O diretor de pessoal, Dominic Emery, deu a entender no ano passado que alguns tipos de recurso jamais “verão a luz do dia”. Projetos complicados podem ser engavetados em favor de campos de desenvolvimento mais rápido, como os de xisto nos EUA, disse ele.

A pressão para reduzir as emissões também pode convencer essas companhias a deixar no solo as reservas mais intensivas em carbono. A francesa Total reconheceu essa possibilidade no mês passado, quando deu baixa contábil em US$ 8 bilhões em ativos com alto teor de carbono.

A lista de projetos de maior risco inclui descobertas em águas profundas no Brasil, Angola e Golfo do México, segundo Parul Chopra, vice-presidente de pesquisa em exploração da Rystad. Empreendimentos nas areias petrolíferas no Canadá, como a expansão do projeto Sunrise, em Alberta, também estão em jogo, segundo ele.

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