Petróleo se sustenta acima de US$ 100? Saiba o que esperar do 2º semestre
Assunto recorrente no primeiro semestre de 2022, o petróleo deve seguir no radar dos mercados à medida que a guerra na Ucrânia traz novos desdobramentos para a dinâmica geopolítica global.
Os preços do Brent chegaram a tocar acima de US$ 130 o barril em março, período em que aconteceu um dos momentos mais críticos do conflito que se instaura no leste europeu, quando países ocidentais, incluindo Estados Unidos e nações europeias, anunciaram a proibição de importação de petróleo russo.
Desde então, a commodity retomou para níveis mais baixos, embora ainda acima de US$ 100 o barril – um movimento que não surpreende, visto que o patamar atual (na casa dos US$ 110) está acima do que a curva de preços indica, de acordo com o Vitor Sousa, analista da Genial Investimentos.
“E, ainda que houvesse uma queda, isso já é esperado na curva”, acrescenta o especialista.
Para Sousa, o grande questionamento, com todo esse “estrangulamento de oferta” derivado da guerra entre Rússia e Ucrânia, é o momento que os preços devem se convergir para a média.
Petróleo vai se manter acima de US$ 100?
Em teoria, o petróleo não deveria se sustentar acima de US$ 100, avalia Sousa. O analista destaca como principal premissa o crescimento econômico global.
“Caso exista frustração no crescimento, faz sentido que você tenha uma realização abaixo do que a curva vem precificando”, explica.
O risco de uma desaceleração econômica mundial para os preços do petróleo é uma ideia amplamente difundida entre especialistas do mercado.
Regis Chinchila, analista da Terra Investimentos, destaca que, no último mês, os investidores corrigiram as expectativas futuras esperando uma desaceleração global em meio a um movimento coletivo de aumento de taxas de juros.
Apesar disso, Chinchila acredita que o preço da commodity pode ficar ao redor de US$ 100, ainda que operando com muita volatilidade.
Enzo Pacheco, analista da Empiricus, lembra que o petróleo continua bem acima dos níveis do início do ano. Em 2022, o combustível acumula uma valorização de aproximadamente 47%.
Pacheco afirma que as restrições impostas ao petróleo russo estão mantendo os preços pressionados, enquanto que a perspectiva de produção por parte dos países da Opep, especialmente Arábia Saudita e Emirados Árabes Unidos, é de crescimento limitado, o que deve apertar ainda mais o lado da oferta.
O analista trabalha com um cenário em que o barril do petróleo permanecerá acima dos US$ 100 até o fim do ano, mesmo considerando uma desvalorização de 20% dos preço recentes, na casa dos US$ 120.
“Quedas similares foram observadas cinco vezes desde meados de 2017. Desvalorizações maiores só em momentos de grande estresse nos mercados (o quase ‘bear market’ ao fim de 2018 e na pandemia da Covid-19)”, diz.
Longo prazo nublado
Olhando para uma perspectiva de longo prazo, Pacheco acredita que a previsibilidade do valor de uma commodity se torna mais turva, pois existem diversas variáveis que afetam a formação do preço, dificultando a projeção.
No entanto, o cenário-base indica que o preço do barril do petróleo não deve ficar muito abaixo dos níveis atuais.
Pacheco lembra que a última forte desvalorização ocorreu na pandemia, quando a commodity caiu mais de 70%. O especialista destaca, no entanto, que as perspectivas eram diferentes, baseadas na ideia de que, por conta das quarentenas, ninguém sairia de casa.
No fim de 2018, quando o petróleo caiu pouco mais de 40%, o cenário era de aumento de juros por parte do Federal Reserve (Fed), mas havia um equilíbrio entre oferta e demanda que não é visto hoje, ressalta.
“O que nos leva à clássica questão de economia: quanto menor a oferta de um determinado produto, dado que a demanda não reduza muito, a tendência é de aumento de preços”, finaliza o analista da Empiricus.
Dalton Vieira, analista-chefe da DV Invest, tem uma visão positiva para o futuro da commodity. Ele destaca que os ciclos de alta são longos e, mesmo que o mercado veja um semestre de baixa para o petróleo, as perspectivas para o novo ciclo são mantidas.
“O outro ciclo foi baixíssimo para o petróleo. Foi da máxima de 2008 até a mínima de janeiro de 2020. Isso foi um ciclo de 12 anos de queda do petróleo. Agora, a gente tem a reversão do cenário”, comenta Vieira.
O analista destaca que, em termos de probabilidade, o petróleo deve seguir para cima, mantendo-se acima dos US$ 100 o barril.
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