Petróleo não deve disparar a US$ 100, a não ser que estes dois eventos aconteçam
Os mercados de petróleo encerraram o pregão desta segunda-feira (9) em forte alta, mirando incertezas sobre a oferta após o ataque do grupo terrorista Hamas a Israel na manhã do último sábado.
O conflito avança pelo seu terceiro dia, com focos de combate mais intensos na Faixa de Gaza e já causa 1.200 mortes entre israelenses e palestinos.
Apesar da pressão de alta elevando os preços — ambas referências sobem 4% ao final da tarde — analistas do mercado permanecem cautelosos sobre qual caminho a commodity energética tomará no curto-prazo.
Em comentário enviado aos clientes, Goldman Sachs e Julius Baer veem informações “opacas” sobre a situação real do conflito e desdobramentos ainda incertos.
Até este momento, nem o grupo norte-americano, nem o grupo europeu veem razões para uma disparada substancial do preço do petróleo, como àquela vista nas semanas seguintes à invasão russa na Ucrânia.
“Ao que parece, o conflito eclodiu ao longo das linhas já conhecidas, sem o envolvimento anormal ou novo de outros partidos”, diz Norbert Rücker, economista-chefe da Julius Baer.
O especialista complementa dizendo que, sob o ponto de vista das commodities, geopolítica tende a ser mais um ruído do que uma força duradoura, capaz de mudar os fundamentos do mercado.
Na mesma linha, o Goldman Sachs mantém a projeção do Brent indo buscar os US$ 100 por barril somente em junho de 2024, justificando não ter verificado impactos imediatos sobre a atual capacidade produtiva de petróleo do mundo.
Porém, considerando o delicado jogo de interesses que existe na região, o prolongamento da ação militar de Israel em Gaza e a possibilidade de abertura de novas frentes do conflito na Cisjordânia e no Líbano podem desencadear uma desestabilização mais ampla dos mercados e maiores preços.
Confira abaixo dois cenários altistas para o petróleo e que podem se ramificar do atual conflito.
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Cenário 1: normalização das relações Israel-Arábia Saudita é (muito) prejudicada
Horas antes da invasão dos terroristas do Hamas em Israel, o Wall Street Journal havia reportado a promessa dos árabes em aumentar a produção de petróleo no início de 2024, caso o preço do petróleo suba nos mercados.
Segundo a publicação, esta seria um gesto de “boa vontade” do principado em avançar em um acordo mediado pelos Estados Unidos, no qual a Arábia Saudita reconheceria o estado de Israel e, em contrapartida, receberia para si mais investimentos em defesa.
O acordo que selaria paz entre Israel e Arábia Saudita perdeu momento com a invasão do Hamas, diz o Goldman Sachs.
Em nota oficial assinada por seu chanceler, a Arábia Saudita contemporizou o ato do Hamas, enxergando-o uma consequência das condições em que vive o povo palestino na Faixa de Gaza. A posição foi compartilhada por outros países islâmicos, como Qatar e Irã.
Diante de um retrocesso no acordo entre Israel, oos analistas do Goldman veem os sauditas mantendo a política de cortes firme ao longo de 2024. Nesse sentido, o Brent chegaria a US$ 104 ao fim do próximo ano.
Cenário 2: Guerra entre Irã e Israel
Embora Teerã tenha negado envolvimento, observadores do Ocidente trabalham com a hipótese de que a ditatura islâmica tenha sido o arquiteto do pior ataque a Israel desde a Guerra de Yom Kippur, há 50 anos.
Segundo reportagem do Wall Street Journal, os iranianos deram o sinal verde para o Hamas em uma reunião que ocorreu em Beirute, no Líbano, na segunda-feira passada. A teocracia comandada por Ali Khamenei é o principal financiador das atividades do Hamas.
Um dos motivos que pode ter levado o Irã a apoiar a ofensiva é justamente o temor de que Israel e Arábia Saudita se aproximassem, enfraquecendo o país persa na região, que tenta a sua própria aproximação com os sauditas (acordo mediado pela China).
Apesar das hostilidades públicas entre Irã e Israel, a possibilidade de uma guerra direta entre os países é remota, dada uma série de dificuldades. A falta de uma ação contundente do Hezbollah, outro grupo terrorista apoiado pelo Irã, na fronteira entre o Líbano e Israel também enfraquece a narrativa de uma “guerra de oportunidade” neste momento.
Para Dan Alamariu, estrategista-chefe da Monstreal Investiment, exite “uma probabilidade de 20%” de que Israel incorra militarmente contra o Irã, tendo por alvo as instalações de enriquecimento nuclear do país. Caso isso ocorra, Alamariu vê o petróleo avançando para além dos US$ 150.
Segundo o Goldman Sachs, mesmo na ausência de um conflito armado entre os países do Oriente Médio, a escalada da tensão entre Israel e Hamas pode fazer o Irã diminuir o seu ritmo produção de petróleo, embora não o suficiente para alterar o atual equilíbrio de mercado.
“Prevemos uma produção de 3.24 milhões de barris por dia em janeiro de 2024 [250 mil barris acima do nível atual] “, diz o comunicado. O Irã vinha aumentando a sua produção no ano, em meio a uma aproximação estratégica com os Estados Unidos.