Petróleo a US$ 100 o barril é questão de tempo para mercado
A disparada da demanda, o menor receio em relação à variante ômicron e a incapacidade da aliança Opep+ de aumentar a produção estão por trás de um surpreendente salto na cotação do petróleo.
O barril do tipo Brent, referência global, avançou 25% desde o final de novembro para US$ 88. Para muitos especialistas, a questão é quando — não se — o preço baterá nos três dígitos pela primeira vez desde 2014.
O Goldman Sachs informou esta semana que o barril deve atingir US$ 100 no terceiro trimestre devido ao consumo acima do esperado.
Esse patamar de preço intensificaria a já considerável pressão inflacionária na economia global e os problemas enfrentados por bancos centrais e governos.
Os principais fatores para movimentação do barril são discutidos a seguir:
Avanço da demanda
O preço do petróleo se recuperou da descoberta da variante ômicron no final de novembro, que fez lembrar a delta e derrubou o Brent para menos de US$ 70.
A procura vem crescendo e cargas no mercado à vista são arrematadas com prêmios nitidamente mais elevados. Falta óleo diesel no mundo e até mesmo o querosene de aviação voltou com tudo graças à retomada das viagens aéreas de longa distância.
A não ser por grande surto de coronavírus na China (discutido abaixo) ou o surgimento de uma nova cepa assustadora, a demanda dificilmente se reverterá.
Estoques sem retaguarda
Os estoques globais de petróleo finalmente recuaram aos níveis anteriores à pandemia no início de janeiro, de acordo com a consultoria Kayrros. As quedas foram mais acentuadas na China e nos EUA, onde os estoques estão no menor patamar desde o final de 2018.
Dificuldade da Opep+ de ampliar a produção
Oficialmente, a aliança entre a Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep) e outras grandes nações produtoras está restaurando a produção a um ritmo mensal de 400.000 barris diários. Na prática, não está nem perto disso.
Os países africanos da aliança não conseguem elevar a produção. A Opep somou apenas 90.000 barris diários em dezembro, uma vez que a maior oferta da Arábia Saudita foi ofuscada por perdas na Líbia e Nigéria.
Problemas de abastecimento serão fator essencial na marcha do petróleo para a marca de US$ 100.
Reação da indústria de xisto dos EUA
A produção de petróleo dos EUA está aumentando, mas não o suficiente para conter a escalada dos preços. A oferta vinda da Bacia do Permiano – área com reservas de xisto que abrange os estados do Texas e Novo México — bateu recorde em dezembro, mas o custo fixo mais alto em outras áreas e problemas nas cadeias de suprimentos até agora impedem a aceleração da atividade.
Coronavírus na China
A estratégia do governo chinês de tolerância zero com a Covid — impondo rigorosas medidas de lockdown em cidades inteiras — evitou um surto mais amplo e uma queda significativa na demanda no país que é o maior importador mundial de petróleo.
No entanto, a China se prepara para o feriado prolongado do Ano Novo Lunar e os Jogos Olímpicos de Inverno. Infecções pela variante ômicron já foram relatadas em Pequim, Xangai e Shenzhen.
Para a Eurasia Group, o potencial fracasso da estratégia chinesa contra a pandemia é o maior risco político de 2022.
Dificilmente o governo conseguirá controlar essa variante altamente transmissível da mesma forma que estancou surtos anteriores e parece já recuar na estratégia Covid Zero.
O impacto de uma grande onda de contágio sobre o crescimento econômico e a demanda por energia na China talvez seja o fator menos previsível para a cotação do petróleo nos próximos dois meses.