Petroleiras vendem ativos poluentes, mas emissões persistem
Quando a BP anunciou sua saída histórica do Alasca, o CEO Bob Dudley destacou um benefício extra da venda dos ativos de US$ 5,6 bilhões: uma pegada de carbono significativamente menor.
A redução das emissões é importante para Dudley, em parte porque acionistas influentes pressionam a BP a alinhar seus gastos com as metas climáticas. Mas há um problema.
A Hilcorp Energy, que comprou os ativos do Alasca, planeja colocar mais dinheiro na operação do que a BP investiria para aumentar a produção, segundo Dudley. Como resultado, o problema das emissões pode piorar.
O presidente da BP e líderes das maiores petroleiras do mundo enfrentam um dilema. Os investidores exigem o cumprimento dos objetivos do acordo climático de Paris, mas também a continuidade das montanhas de dinheiro que tornam o setor de petróleo um dos maiores e mais consistentes pagadores de dividendos.
Para encontrar um equilíbrio, uma das estratégias é vender projetos de alto custo e intensivos em carbono. Mas isso pode apenas transferir o problema das emissões para outra empresa.
“Se um ativo passa para outro e ainda opera em sua capacidade máxima, OK, isso pode ter ajudado o perfil dessa empresa em particular, mas será que realmente ajuda em termos de efeito líquido de redução de emissões?”, disse Adam Matthews, diretor de ética e engajamento da Church of England Pensions Board. “É uma pergunta legítima.”
Petróleo e carvão
A BP não é a única transferindo responsabilidades. A Royal Dutch Shell vendeu seu negócio de areias betuminosas, intensivo em carbono, no Canadá em 2017, que agora é operado por um novo proprietário.
A Total vendeu sua participação em um projeto semelhante, que estava inativo, a um comprador que pretendia retomá-lo. A mineradora Rio Tinto saiu do negócio de carvão ao vender alguns de seus ativos para a Glencore, que planeja continuar a operação por vários anos.
Essas estratégias serão discutidas quando centenas de executivos se reunirem esta semana na conferência Oil & Money. O evento, que enfrentou protestos barulhentos do grupo ativista Extinction Rebellion do lado de fora em Londres na terça-feira, mudará seu nome para Energy Intelligence Forum em 2020, em um aceno às mudanças climáticas e à transição energética.
Embora a venda de ativos ajude a reduzir custos, Dudley, o CEO da Shell, Ben van Beurden, e o presidente da Total, Patrick Pouyanne, também precisarão mostrar que estão comprometidos com o meio ambiente e não apenas lavando as mãos.
Ainda assim, para alguns investidores, ao vender projetos intensivos em carbono, as empresas se tornam mais resistentes à futura legislação climática e esse é um passo na direção certa.