Petrobras testa diesel renovável com clientes e vê maior valor no refino, diz diretor
A Petrobras (PETR4) iniciará em janeiro junto a clientes testes com diesel coprocessado com óleos vegetais produzido na Refinaria Presidente Getúlio Vargas (Repar), no Paraná, enquanto aguarda avanços na regulação brasileira que permitam a inserção de seu novo produto com teor renovável no mercado, disse o diretor da área de refino da empresa à Reuters.
Com duração de cerca de seis meses, os testes terão o objetivo de avaliar qualidade e performance do produto, e contarão com a participação de uma distribuidora e de uma frotista de ônibus, cujos nomes não foram revelados.
A petroleira já testou com sucesso o sistema de produção do chamado diesel renovável na Repar, em meados de 2020, mas a nova fase é importante para confirmar a efetividade do produto, que pode aumentar a mistura de conteúdo não fóssil no diesel comercializado no país, mas é tido como um concorrente pela indústria do biodiesel tradicional.
Em entrevista à Reuters, o diretor de Refino e Gás da petroleira, Rodrigo Costa, apontou que a iniciativa do diesel renovável visa acompanhar evoluções do mercado internacional, que caminham para a transição energética, e ainda adicionam valor à refinaria, que está à venda pela estatal.
A Repar já tem capacidade de produzir 114 mil toneladas do combustível renovável por ano a partir do coprocessamento de óleo de soja refinado.
“(O teste) vai confirmar de fato a efetividade desse produto no consumidor propriamente dito. Para avaliar qualidade, performance…”, disse Costa, que mostrou orgulhoso na videoconferência uma miniatura de barril preenchido com o diesel renovável transparente da petroleira.
“É uma refinaria que está acompanhando transição energética… (Tais investimentos) combinam uma obrigação que a gente tem, que é dar continuidade a operações no negócio, e ainda valoriza, torna ainda mais atrativo o ativo (para a venda).”
Como parte dos testes, uma distribuidora vai misturar o novo produto ao diesel vendido em postos que contém atualmente uma mistura de diesel fóssil com 10% de biodiesel.
Após o processo de mistura, Costa explicou que o produto que irá rodar no tanque terá 5% de combustível renovável da Petrobras e 10% de biodiesel de base éster.
“No final, o cliente fica com 15% de conteúdo renovável”, destacou.
Segundo a Petrobras, o produto coprocessado tem moléculas iguais às do diesel mineral, podendo ser misturado ao diesel sem nenhuma restrição.
No caso do biodiesel tradicional, a qualidade com uma mistura maior vem sendo contestada, um movimento que produtores consideram um “ataque” coordenado.
Em decisão recente, o governo reduziu a 10% a mistura do biocombustível para proteger os interesses dos consumidores quanto ao preço, qualidade e oferta dos produtos.
A Petrobras encerrou em fevereiro processo para a venda da Repar, onde a empresa já pode produzir o diesel com teor renovável, alegando que propostas de investidores ficaram aquém do esperado.
A empresa planeja agora retomar o processo, mas já adiantou que não vê a fase vinculante ocorrendo antes das eleições de 2022.
Planos Ambiciosos
A iniciativa faz parte de um plano da Petrobras para a inserção no mercado brasileiro de combustíveis renováveis produzidos a partir de novas tecnologias.
Em seu plano estratégico 2022-2026, a empresa prevê aportes de 600 milhões de dólares em novas unidades de produção, cujo desembolso ainda dependerá em grande parte de avanços regulatórios no país.
“A gente vê o consumidor e o mercado demandando pegada de carbono menor, com produto cada vez mais limpo, e o refino vai se transformando também acompanhando essa evolução, e o biorrefino é com certeza é uma alavanca de transformação que nós entendemos como inevitável”, disse Costa.
O montante inclui adaptações nas refinarias de Paulínia (Replan) e Cubatão (RPBC), ambas em São Paulo, para que ambas tenham juntas capacidade para produzir ao todo 505 mil toneladas por ano de combustível renovável.
Mas a maior parte dos recursos poderá ser aplicada na construção de uma biorrefinaria com 100% de carga renovável, com capacidade de 500 mil a 800 mil toneladas por ano e início da operação prevista para 2027, em local a ser definido, disse Costa.
Para colocar em prática, a empresa pleiteia junto ao governo que seu diesel renovável seja incluído nos mandatos de mistura obrigatória ao diesel fóssil vendido nos postos.
Dessa forma, além de poder emitir créditos de carbono com base nos percentuais de conteúdo renovável, a petroleira poderia reduzir sua pegada de carbono, uma vez que venderia combustíveis que produzem menos emissões.
“Está no nosso plano, mas tem que ter evolução desse contorno regulatório para que de fato esses projetos aconteçam”, adicionou Costa.
Avanços no Gás
Costa também comentou avanços no setor de gás natural, considerado um importante combustível da transição energética no Brasil.
A companhia planeja iniciar no fim do primeiro semestre as operações da Unidade de Processamento de Gás Natural (UPGN) do Polo GasLub (antigo Comperj), em Itaboraí (RJ), com um projeto que conta ainda com o gasoduto Rota 3 que trará o insumo do pré-sal.
“Esse será com certeza um dos maiores marcos da companhia em 2022”, afirmou.
O projeto, que já está em comissionamento, prevê capacidade para escoar e processar diariamente 21 milhões de metros cúbicos de gás do pré-sal.