Petrobras: reduzir risco político na estatal tem um preço, diz Fitch Ratings
A agência de análise de riscos Fitch elogiou a iniciativa da Petrobras (PETR3; PETR4) de vender ativos não estratégicos e se concentrar nas suas atividades estratégicas – exploração e produção de petróleo e gás. O efeito colateral positivo dessas vendas é a redução do risco de interferências políticas. Mas tudo tem um preço: a eventual queda na geração de caixa.
“Embora a intenção da Petrobras de vender uma porção de sua infraestrutura downstream no Brasil seja neutra para o crédito, essa ação pode reduzir o risco de interferência política, mas a um preço”, afirma a Fitch, em relatório sobre as empresas de óleo e gás latino-americanas.
A infraestrutura “downstream” refere-se aos negócios da Petrobras, posteriores à exploração e produção de óleo e gás. O refino de combustíveis é o principal exemplo. Outro exemplo emblemático foi a venda do controle da BR Distribuidora (BRDT3), dona da rede de postos de combustíveis, em julho do ano passado, por quase R$ 10 bilhões.
Os anéis e os dedos…
A Petrobras também abriu, recentemente, o período de recebimento de propostas para a venda da fatia de 10% que ainda detém na TAG (Transportadora Associada de Gás). Em junho, a estatal já havia negociado 90% da TAG com a Engie (EGIE3), por R$ 33,5 bilhões.
Embora elogie essas iniciativas, a Fitch adverte que “a geração de caixa da companhia [Petrobras], provavelmente, será afetada negativamente e os preços dos desinvestimentos, provavelmente, incorporarão risco de interferência política.”
A Fitch pondera que, de qualquer maneira, o ebitda gerado pelas atividades downstream apresentaram tendência de queda nos últimos três anos. No acumulado de janeiro a setembro de 2019, a Fitch acrescenta que o ebitda downstream representou 14% do total geral pela Petrobras. Em 2017, esses negócios representaram 33% da geração de caixa.
No relatório, Lucas Aristizabal, um dos diretores sêniores da Fitch, afirma que a tendência das notas de risco das petroleiras latino-americanas continuará em queda neste ano, já que 36% das emissões de dívidas dessas empresas tem perspectiva negativa.
“Upgrades de ratings serão limitados a características específicas de crédito, mais do que da dinâmica geral da indústria, já que apenas duas companhias possuem perspectiva positiva”, declara Aristizabal. A nota da Petrobras é BB-, com perspectiva estável, isto é, a Fitch não pretende rever a nota de crédito da estatal tão cedo.