Petrobras: quem desdenha, quer comprar
Olivia Bulla é jornalista e escreve diariamente sobre os mercados financeiros no blog A Bula do Mercado
O mercado financeiro inicia a semana ainda repercutindo o pedido de demissão do presidente da Petrobras, Pedro Parente, e há quem diga que as ações da petrolífera hoje podem tanto voltar a subir, aproximando-se da faixa de R$ 20, quanto buscar novos fundos, ficando mais barata que o litro da gasolina. Vai depender da torcida do investidor sobre o futuro da empresa…
A notícia sobre a saída de Parente, anunciada durante o pregão doméstico da última sexta-feira, elevou as incertezas locais e colocou em xeque a política de preços da companhia. Já a escolha por Ivan Monteiro, um funcionário de carreira no Banco do Brasil, não reduz a percepção de ingerência política na petrolífera, mantendo o desconforto entre os investidores.
A essa sensação de retrocesso na estatal soma-se a preocupação com a situação fiscal, em meio à renúncia feita pelo governo para aliviar a carga de impostos sobre o diesel e a compensação via a reoneração da folha de pagamento, o setor exportador e os gastos sociais. Tudo isso contribui para manter os negócios locais pressionados, diante das consequências deixadas pela greve dos caminhoneiros à economia brasileira.
Com isso, merece atenção hoje a revisão das expectativas do mercado financeiro no relatório Focus, do Banco Central (8h25). O documento deve trazer nova queda na estimativa para o crescimento econômico (PIB) neste ano, em meio à parada na atividade, e mais um aumento na previsão para o dólar, que terminou a semana passada no maior patamar em mais de dois anos, próximo à faixa de R$ 3,80.
No caso da Petrobras, a renúncia de Parente levou as ações da companhia a uma queda de quase 15% na última sessão, sendo que a maior alta ficou justamente com a empresa mais cotada para receber o agora ex-Petrobras na presidência: a BRF. Hoje, os papéis da petrolífera devem reagir à definição do substituto no comando, anunciado após o fechamento.
O investidor também recebe a notícia de que o governo estuda acabar com os reajustes diários nos preços da gasolina, criando um mecanismo que se baseia na “tributação flutuante”, calibrando na parte dos impostos a diferença no valor cobrado pela Petrobras. Esse “Frankenstein” ainda está sendo costurado e deve ser anunciado até o fim do mês.
A intenção é garantir previsibilidade para o combustível até outubro, quando o presidente eleito definirá as regras do jogo. Mas com a escolha de um nome técnico para comandar a estatal, Ivan Monteiro pode continuar sofrendo interferência externa, em um contexto de governo enfraquecido.
Vindo do BB, ele foi levado à Petrobras ainda no governo Dilma e era braço direito do ex-presidente de ambas as estatais Aldemir Bendine – condenado por corrupção. Desde o início, Monteiro esteve à frente das finanças da petrolífera e é apontado como o principal responsável pela recuperação financeira da empresa.
De qualquer forma, dificilmente a autonomia da Petrobras será preservada. A percepção no mercado financeiro é de que por mais que o substituto de Parente seja um gestor competente, a credibilidade da empresa (e do governo) já foi perdida. Trata-se de algo negativo na avaliação das agências de classificação em relação ao risco de crédito (rating) de ambos.
Mas o sinal positivo vindo do mercado internacional pode suavizar as tensões internas. Os investidores se apoiam no otimismo quanto ao crescimento econômico dos Estados Unidos para procurar ativos de risco e deixam de lado as preocupações com as investidas protecionistas da Casa Branca.
Donald Trump chega aos 500 dias de governo com quase 90% de aprovação do próprio partido, o que avaliza as investidas na guerra comercial deflagrada, simultaneamente, com Canadá, México, Europa e China. O republicano rejeita o entendimento de que o status de liderança global dos EUA serve ao interesse nacional.
O mercado financeiro, por ora, também se escora nessa ideia. Os índices futuros das bolsas de Nova York têm ganhos acelerados, ao passo que o dólar e os bônus norte-americanos recuam. Com isso, as principais bolsas europeias também avançam, as demais moedas ganham terreno frente à rival norte-americana e o petróleo se recupera.
Mas a sombra de uma guerra comercial freia o ímpeto dos negócios. A China alertou que irá retirar os compromissos assumidos em relação ao comércio se Trump cumprir a ameaça à imposição de tarifas ao país asiático. Já os aliados europeus e da América do Norte prometem retaliar os EUA, caso não seja revertida a sobretaxa no aço.
O tema deve ser colocado à mesa no encontro do G-7 a partir de sábado, em Quebec. Também ainda resta saber se essa abordagem totalmente nova da maior economia do mundo em termos de conflito comercial irá beneficiará os trabalhadores e a economia do país no horizonte à frente.
Na a agenda econômica, a segunda-feira começa com os números das encomendas à indústria nos Estados Unidos. Amanhã, é a vez do índice de atividade no setor de serviços e, na quarta-feira, saem dados sobre a produtividade e o custo da mão de obra no país no trimestre passado.
Na sexta-feira passada, os números robustos sobre o emprego nos EUA (payroll) reforçaram a possibilidade de um quarto aumento na taxa de juros norte-americana neste ano. A criação de 223 mil postos de trabalho em maio, acima da previsão de 190 mil vagas, e a inesperada queda da taxa de desemprego à 3,8% mostram uma situação de pleno emprego.
Ao mesmo tempo, o avanço do ganho médio dos trabalhadores acima das estimativas, tanto em base mensal (+0,3%) quanto na comparação anual (+2,7%) evidenciam a chance de aumento da pressão inflacionária à frente, com o índice de preços ao consumidor podendo ficar acima do alvo por mais tempo.
Na zona do euro, saem dados sobre as vendas no varejo e a atividade no setor de serviços, amanhã, além dos números finais do Produto Interno Bruto (PIB) nos três primeiros meses de 2018, na quinta-feira. Na China, são esperados os números da balança comercial em maio e os indicadores de inflação ao produtor (PPI) e ao consumidor (CPI), até o fim da semana.
Já no Brasil, o destaque fica com o desempenho da indústria em abril, amanhã, e o resultado da inflação oficial ao consumidor (IPCA) em maio, na sexta-feira. Um dia antes, tem o IGP-DI do mês passado.