Petrobras (PETR4): Troca no comando libera caminho para privatização? Saiba o que acham os especialistas
A nova mudança no comando da Petrobras (PETR3;PETR4) pegou o mercado de surpresa, reforçando ainda mais as preocupações de interferência política na estatal.
Menos de dois meses desde a nomeação de José Mauro Coelho para a presidência da companhia, o Ministério de Minas Energia (MME) anunciou na noite desta segunda-feira (23) a terceira troca no comando durante o governo Bolsonaro.
O principal motivo da mudança envolve os preços dos combustíveis, informou a pasta, em nota.
Junto com o anúncio da saída de José Mauro Coelho, o MME indicou Caio Paes de Andrade, secretário de desburocratização do Ministério da Economia.
Caio de Andrade é formado em Comunicação Social pela Universidade Paulista, pós-graduado em Administração e Gestão pela Harvard University e Mestre em Administração de Empresas pela Duke University.
Segundo o BTG Pactual (BPAC11), a demissão de José Mauro Coelho não só deixa mais claro que os aumentos nos preços dos combustíveis dificilmente serão tolerados em um cenário de inflação alta, como também reforça o desafio de encontrar um ponto de equilíbrio entre os acionistas controladores da Petrobras e o estatuto da própria companhia.
Caminho livre para a privatização?
A troca de nome para presidir a Petrobras aumenta a preocupação sobre os mecanismos de proteção da estatal contra a interferência política. Segundo o BTG, as tentativas de defesa da empresa podem ter efeito reverso.
“O governo tem percebido cada vez mais que tem pouca voz nas decisões diárias da companhia e que o peso associado à alta nos preços dos combustíveis cai quase inteiramente sobre ele mesmo”, comentam Pedro Soares e Thiago Duarte, que assinam o relatório divulgado ontem à noite.
“Poderia isso implicar em uma mudança mais drástica no estatuto da Petrobras?”, questionam os analistas.
De acordo com o BTG, o investidor mais otimista pode argumentar que isso pode favorecer um potencial processo de privatização.
“Uma Petrobras privatizada poderia livrar o governo do escrutínio sobre seu poder limitado de controlar a inflação dos combustíveis. Ou ao menos minimizá-lo”, acrescentam Soares e Duarte.
A privatização das estatais é um tema recorrente no Brasil, mas parece que engatou um ritmo mais acelerado com o processo de capitalização da Eletrobras (ELET3;ELET6) e as expectativas de desestatização dos Correios (por ora, engavetada).
A chegada de Adolfo Sachsida ao MME reacendeu discussões sobre tornar a Petrobras uma empresa privada. O ministro da Economia, Paulo Guedes, disse recentemente que a estratégia de desestatização é “devolver ao povo o que é do povo”, citando a falta de petróleo e a possibilidade de privatizar a petroleira para contornar o problema.
Na opinião dos analistas do BTG, pensar na privatização da Petrobras não é algo que está totalmente fora da realidade do Brasil. Ainda assim, eles acreditam que isso é improvável de acontecer em meio a um ano eleitoral.
Para Michael Viriato, professor do Insper e sócio da Casa do Investidor, as chances de uma privatização da Petrobras são mínimas.
“Acho difícil a Petrobras ser privatizada, justamente porque você está tirando o poder do governo. Agora, ele tem o poder de dizer que está fazendo alguma coisa, mas, se ela se tornar uma empresa privada, você não tem mais poder nenhum — e aí o preço [do combustível] subiria mesmo”, comenta.
Privatizar é a saída para a alta dos preços?
Cesar Frade, que é mestre em Economia, sócio da Quantzed e já atuou no Ministério da Fazenda, também defende que a perspectiva de uma privatização é mais promissora no longo prazo e não tem chances de acontecer agora.
Como o BTG, Frade afirma que existe um empecilho para que o processo de privatização avance em 2022: as eleições. Desestatizar uma empresa não é uma medida popular, e por isso o Congresso dificilmente bancaria uma medida como essa em um ano eleitoral, lembra o especialista.
Um cenário onde a Petrobras é privatizada seria positivo se levar em consideração que a companhia focaria mais nos acionistas e ficaria menos ligada a questões políticas. Porém, Frade acredita que uma mudança dos preços dos combustíveis na bomba seria pequena.
“Talvez seja mais uma propaganda, uma vontade, mas isso não vai mudar o preço na bomba”, afirma.
“Como é que uma empresa privada vai comprar petróleo a um preço caro e vender na bomba mais barato? Os preços acabam oscilando mais, a não ser que você tenha um modelo para fazer essa redução de flutuação. Não acho que isso seja uma solução para o problema que estamos enfrentando agora”, completa o especialista.
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