Coluna do Market Makers

Petrobras (PETR4): Qual é a melhor proteção para quem investe na ação, caso Lula vença?

24 out 2022, 9:32 - atualizado em 29 mar 2023, 18:38
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Lições de 2014: vitória de Dilma Rousseff não valorizou contratos de put da Petrobras naquele ano (Imagem: Bloomberg)

Por Thiago Salomão*

Última semana antes do segundo turno das eleições presidenciais e ninguém faz a menor ideia de quem será o vencedor.

As pesquisas eleitorais, que antes davam uma leve vantagem ao Lula, agora estão em sua grande maioria empatadas na margem de erro. Embora não tenham sido tão assertivas em acertar resultados (sim, é um eufemismo), as pesquisas conseguem capturar as tendências e, neste momento, a tendência é de alta para Jair Bolsonaro.

Mesmo que seja prematuro cravar que ele virou o jogo, o mercado (que sempre se antecipa a eventos) já colocou no preço uma chance mais realista para uma uma reeleição: do fim do 1º turno pra cá, o dólar caiu de R$ 5,43 para R$ 5,17 e o Ibovespa subiu 9%, com a Petrobras (PETR4) subindo impressionantes 25% e o Banco do Brasil (BBAS3), 16%.

O foco desta CompoundLetter não é explicar por que o mercado gosta mais do Bolsonaro do que do Lula, então me limito apenas a dizer que o mercado prefere a certeza de continuidade do plano Guedes do que a incerteza do plano econômico (e até de quem será o ministro) em um governo petista.

Agora, o que o passado nos ensina sobre este tipo de evento? Voltamos a 2014, quando o “candidato do mercado” Aécio Neves parecia ter ultrapassado Dilma Rousseff dias antes da eleição do 2º turno e as estatais voaram naquela semana. Mas, após a vitória consumada pela candidata petista, as lágrimas da Faria Lima traduziram-se em uma forte queda do Ibovespa e a Petrobras afundou apenas 12%.

“Já sei! Vou comprar umas puts (opções de venda) de Petrobras e proteger minha carteira!”

A ideia é excelente como proteção de portfólio, inclusive o Rodolfo recomendou isso na tarde de sexta (21) aos assinantes da série “Vacas Leiteiras”, da Empiricus – ele sugeriu ao investidor que tem PETR4 a encarteirar a mesma quantidade de ações em puts de Petrobras (o contrato em questão está lá disponível aos assinantes).

Mas 2014 também nos mostrou que nem sempre as opções de venda se valorizaram mesmo com o ativo objeto despencando. Antes de reviver esse momento da nossa história, um parágrafo sobre opções, só pra deixar todos no mesmo barco:

Quem compra um contrato de opção está comprando o DIREITO de comprar (se for uma opção de compra) ou vender (se for uma opção de venda) um determinado ativo a um preço determinado (que chamamos de “strike” da opção) e até uma data estabelecida pelo contrato.

Na prática: se Petrobras vale hoje uns R$ 38 na bolsa e você acha que, com a vitória do Lula, ela pode cair mais de 10% (o que daria uns R$ 4/ação de queda), você poderia comprar um “put” de Petrobras com strike na faixa dos R$ 35 (um contrato desse estava cotado perto de R$ 1,60 na sexta). Caso Lula vença a eleição e sua projeção esteja correta, esse contrato TALVEZ tenha uma valorização expressiva na segunda-feira.

O TALVEZ, desse jeito em caixa alta, é pelo que assistimos no mercado em 2014: muitos investidores sabiam que a vitória de Aécio ou de Dilma não passariam despercebidas na bolsa – ou o Ibovespa dispararia com a vitória do tucano, ou despencaria com uma reeleição da petista. Com a vitória da Dilma, a ação da Petrobras caiu 12%, mas as puts de Petrobras não subiram. Por que isso?

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Por que as puts de Petrobras micaram?

O motivo está em um dos 5 fatores que afeta o preço de uma opção. Os 5 fatores são: preço do ativo objeto; preço de exercício (strike); vencimento da opção; taxa de juros e; volatilidade. De maneira simples: quanto mais alta for a volatilidade de um ativo, maior a chance dele ter uma movimentação brusca no curto prazo.

Em outras palavras, há mais chance deste ativo alcançar o “strike” mesmo que esteja próximo do vencimento. Então, cobra-se mais caro por essa opção, mesmo estando “fora do dinheiro” (que é quando o strike está muito longe de ser alcançado).

É por isso que em outubro de 2014 as puts de Petrobras não subiram mesmo com a ação caindo 12%, pois a volatilidade era tão alta que ofuscou os outros fatores que afetam o preço de uma opção (vencimento, preço do ativo e strike). Lembro bem disso pois eu era chefe da editoria de Mercados da Infomoney na época e fizemos uma matéria explicando esse episódio. Confira abaixo dois trechos dessa notícia:

(Informoney/ Market Makers)
(Infomoney/ Market Makers)

Isso vai acontecer de novo agora em 2022 se o candidato do PT vencer? Difícil cravar, mas caso aconteça você não vai ser pego de surpresa. O fato é que a volatilidade em 2014 já era muito evidente desde agosto, enquanto nesta eleição a vol só começou a dar as caras nas últimas semanas.

O que fazer então com a carteira neste cenário? Talvez por sermos irritantemente value investors com a Carteira Recomendada Market Makers (o Matheus, principalmente) a nossa resposta para essa pergunta é “não faça nada”. Se a sua carteira está composta por empresas com bons fundamentos e que combinam uma interessante relação de preço atrativo com boa solidez operacional, o pleito de domingo não deveria tirar o seu sono (como investidor de ações, pelo menos, não estou aqui para julgar o nível de patriotismo alheio).

Coincidência ou não, olha esse trecho que a Dynamo escreveu no comentário trimestral enviado aos cotistas do Dynamo Cougar:

(Dynamo Cougar/ Market Makers)

Caso a imagem não esteja legível, está escrito: “Ao invés de calibrar nossos investimentos a partir do exercício de imaginação do que possa vir a ser o perfil do novo governo, preferimos o caminho inverso de focar nas companhias, estressando a resiliência de seus modelos de negócios e avaliando o preparo do time de gestão em avançar em território inóspito, única certeza que temos a essa altura em relação ao legado de desafios que os novos mandatários deverão encontrar”.

Algumas das nossas ações subiram mais de 20% neste mês e a corrida eleitoral nem de longe foi justificativa para isso. Para conhecer cada ação da nossa carteira recomendada e os motivos que indicamos elas, faça parte da Comunidade Market Makers. O link para ver nossos planos está aqui.

Rapidinhas

Sobre o rebate na cabeça: a repercussão da newsletter que escrevi na semana passada sobre o “rebate na cabeça” acabou sendo muito maior do que eu imaginava (link aqui, caso você perdeu). Agradeço as mensagens de agradecimento e felicitações enviadas não só por gestores mas também por assessores que não concordam com mais um incentivo escuso de recomendação de investimento.

Legal também que outros profissionais chegaram até mim para mostrar outros tipos de conflitos existentes no mundo das comissões. Devo trazer em breve essas discussões aqui.

Programação Market Makers especial: nesta semana, teremos uma programação especial de lives no Market Makers por causa das eleições. Na quarta, faremos uma super live com vários gestores e economistas de diferentes perfis e estratégias, para saber o que cada um deles está fazendo nestes dias que antecedem o segundo turno.

Na quinta, teremos a presença de dois grandes economistas que falarão abertamente sobre qual cenário esperar para o Brasil após as eleições. Na sexta, uma live de “descompressão” no Instagram, fazendo um balanço da cobertura eleitoral com expoentes de diferentes áreas de atuação do mercado. Siga nossas redes sociais ou nosso telegram para não perder nada disso!

VOTE EM NÓS, é só até hoje! A votação da final do prêmio “+Admirados da Imprensa de Economia, Negócios e Finanças” acaba nesta segunda-feira (24/out). O Market Makers está na final na categoria PODCAST e eu estou na final na categoria JORNALISTA. Se você gosta do nosso trabalho, peço que você perca 1 minuto do seu dia votando em nós. É só clicar aqui, colocar seu nome e email e votar no MARKET MAKERS na categoria podcast e em mim como jornalista (você nem precisa votar nas outras categorias se não quiser).

*Thiago Salomão é cofundador do Market Makers.

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