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Petrobras (PETR4): Próximo presidente da estatal pode acabar virando ‘bucha de canhão’

05 abr 2022, 15:31 - atualizado em 05 abr 2022, 15:31
Petrobras
No próximo dia 13 acontece a Assembleia Geral de Acionistas da Petrobras (PETR4). (Imagem: REUTERS/Sergio Moraes)

O governo federal ainda lidava com a notícia da desistência de Rodolfo Landim para o Conselho de Administração da Petrobras (PETR4) no último domingo (3) quando Adriano Pires, cotado para assumir a presidência da estatal, também abriu mão do cargo na tarde de ontem (4).

Pires foi o nome escolhido para subir o general Joaquim Silva e Luna, demitido no último dia 28. A troca só seria oficializada, no entanto, no próximo dia 13, dia de assembleia geral de acionistas.

Doutor em Economia Industrial pela Universidade de Paris XIII, sua última passagem pelo governo foi como assessor da diretoria da Agência Nacional de Petróleo, Gás e Biocombustíveis (ANP). Também lecionou na Universidade Federal do Rio de Janeiro, e atualmente é diretor do Centro Brasileiro de Infraestrutura (CBIE).

O nome do economista era bem visto pelo mercado. Ele, que fez carreira no setor de energia, é defensor de uma Petrobras independente e já falou até em privatizar a estatal. No entanto, tê-lo na presidência ainda não era algo tido como certo.

Seu nome preocupava o Ministério Público junto ao Tribunal de Contas da União (MPTCU), que apontou conflito de interesses, tendo em vista que Pires já possuía investimentos em empresas de gás e petróleo.

Para assumir o cargo, ele teria que abrir mão desses investimentos e do comando de sua empresa. A princípio, quem o substituiria na função seria seu filho, Pedro Rodrigues Pires — essa possibilidade, no entanto, não era a ideal.

Na carta entregue ao Ministério de Minas e Energia, o economista diz que “ficou claro que ele não poderia conciliar seu trabalho de consultor com o exercício de presidência da Petrobras”.

“Iniciei imediatamente os procedimentos para me desligar do Centro Brasileiro de Infraestrutura (CBIE), consultoria que fundei há mais de 20 anos e hoje dirijo em sociedade com meu filho. Ao longo do processo, porém, percebi que infelizmente não tenho condições de fazê-lo em tão pouco tempo”, diz um trecho.

Agora outros nomes passam a ser cotados, como é o caso de Caio Paes de Andrade, secretário especial de Desburocratização, Gestão e Governo Digital do Ministério da Economia, segundo informou o jornal O Globo.

Enquanto isso, o Silva e Luna permanece do cargo. O general afirmou que só deixa a presidência da Petrobras quando o substituto assumir, chegando a dizer que “deixou as mágoas de lado e segue à disposição do governo”.

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‘Bucha de canhão’

Para Ildo Sauer, diretor do Instituto de Energia e Ambiente da Universidade de São Paulo (USP) e ex-diretor da Petrobras entre 2004 e 2007, Pires precisaria avaliar se estaria disposto a se submeter ao que ele diz ser o “escrutínio” do governo.

De fato, isso começou a acontecer. Foi feito um dossiê sobre os históricos tanto de Pires como de Landim. Segundo informou o jornal O Globo, o relatório teria “assustado” o ministro de Minas e Energia, Bento Albuquerque e técnicos da CGU (Corregedoria-Geral da União).

Ele também pondera que falar em privatização é algo complexo, visto que tomar essa decisão não seria prerrogativa do cargo. “Se ele vai lá com uma agenda política, de privatizar, [isso] não é agenda do presidente da Petrobras. O presidente da Petrobras é um dirigente que tem que zelar pela condução empresarial da companhia, [pensar em] maximizar os ganhos”.

Ele também destaca que hoje há quatro grupos com interesses distintos para a Petrobras. “Primeiro tem os acionistas, quem querem o máximo de valores possíveis para eles. Depois, o brasileiro consumidor de gasolina, que quer o combustível mais barato. Em terceiro, o povo brasileiro que sequer anda de carro e quer destinar essa receita para serviços básicos como saúde e educação. E por fim, grandes empresas como Exxon, Shell, Equinor, multinacionais que estão aqui e não têm acesso à reservas de outros países”, diz.

Já a política de preços da estatal — que entrou na mira de críticas do presidente Jair Bolsonaro (PL) por conta da disparada no preço dos combustíveis — não é algo facilmente “modificável”, independentemente de quem o presidente escolha colocar na cadeira de CEO da Petrobras, independentemente da pressão pela queda da gasolina e diesel.

“A lei é a mesma e não tem como agir muito diferente disso. Se ele [presidente da Petrobras] for lá [tentar fazer isso], vai virar bucha de canhão, vai levar chumbo para tentar salvar as eleições para o atual presidente”.