Petrobras (PETR4): Por que tubarões não vão ‘desmamar’ da estatal tão cedo
Mais uma vez, o mercado se volta para repercutir a saída de um CEO da Petrobras (PETR4). Em cinco anos, oito presidentes passaram pela cadeira da maior estatal brasileira, incluindo interinos. Durante o governo Bolsonaro, foram quatro. E em menos de dois anos, o presidente Lula demite o CEO, no que já está virando quase uma tradição no noticiário econômico.
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No geral, os investidores não gostam de trocas constantes de CEOs. Em empresas privadas, essas mudanças passam a sensação de que a companhia está sem rumo, perdida. No caso da Petrobras, há um agravante: a gestão de Jean Paul Prates era bem vista. Conseguiu mudar a política de dividendos e de combustíveis, dois temas espinhosos, sem fazer ‘barbeiragens’ na saúde financeira da companhia. Na Bolsa, os mercados responderam: a ação disparou mais de 60% no ano passado e renovou máximas históricas de valor de mercado. Mas isso não bastou. Segundo informações, faltou a Prates traquejo político e uma interlocução melhor com o Palácio do Planalto.
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Apesar da lei das estatais e da melhora da governança corporativa, fato é que a estatal continuará sofrendo com ingerências políticas enquanto tiver como principal acionista o Governo Federal. E uma privatização, apesar de sempre estar nas rodas de conversas de analistas, parece distante de sair no papel, pelo menos no horizonte de curto a médio prazo, seja pela complexidade e seja pela falta de apoio político.
Com tudo isso, por que a Petrobras continua sendo o principal driver de investimentos no Brasil? Não seria a hora de investidores desmamarem da companhia? Não há outras oportunidades na Bolsa brasileira? Afinal, a estatal já não é mais a única opção para quem deseja se expor ao setor de óleo e gás.
Efeito nocivo da Petrobras (PETR4)
Em um dos primeiros episódios do podcast Market Makers, em 2022, dois gestores da tradicional IP colocaram na roda a ‘nocividade’ da Petrobras para o mercado brasileiro.
À época, a estatal ainda era tocada pela gestão Bolsonaro, que priorizava o desinvestimento e o pagamento de dividendos, e era negociada a múltiplos atraentes.
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“É um custo de oportunidade para muita gente. O cara olha e fala: está aqui um negócio com preço sobre o lucro de 3x. De repente, ele não vai querer comprar porque prefere Petrobras. Então, certamente, se a Petrobras estivesse a 10 vezes o lucro, ele olharia para outra ação”.
Ou seja, a ideia era que a Petrobras era tão barata, que ‘sugava’ recursos que poderiam ser investidos em outras empresas.
E por que não ignoramos simplesmente a Petrobras?
Ao Money Times, o gestor Luiz Fernando, da Finacap, explica: para um gestor, deixar a Petrobras fora do portfólio pode ser um risco. Isso, porque a estatal possui um peso enorme no Ibovespa, de 13%. Ou seja, se o Ibovespa sobe, a Petrobras acompanha.
“Você, como gestor de ações, se não investe em Petrobras, descola do índice. Ai, começa a ter um risco de track error. Se o índice sobe muito, como aconteceu nos últimos anos, começa a ser penalizado porque está performando abaixo do seu benchmark. O mercado é muito sensível a essa questão da Petrobras”, afirma.
Além disso, segundo Fernando, a empresa tem fundamentos e, com uma gestão alinhada, o papel pode disparar. E, por fim, para o investidor estrangeiro, o Brasil é um player de commodities, e os principais negócios de commodities representados na Bolsa são Vale (VALE3) e Petrobras. “São duas empresas. Não tem muito como fugir”, explica
Petrobras ainda é uma “empresa única”
Já o analista Flavio Conte, da Levante Investimento, vê esse fluxo de investidores da Petrobras como natural.
“Isso é uma coisa inexorável, por causa do tamanho dela”. Ainda segundo o analista, a companhia é uma “empresa única” no mundo. Negocia a um preço sobre o lucro menor do que outras petroleiras na Ásia, Estados Unidos e Europa e não possui concorrência.
“Então, por exemplo, o PL (preço sobre o lucro) da Petrobras está em torno de 4,5x, o PL da PetroChina está em torno de 8x, o PL da ExxonMobil está em torno de 14x. Então, a Petrobras é uma das empresas mais baratas de petróleo do mundo”, coloca. E o petróleo, segundo ele, é um dos setores com a maior margem de rentabilidade.
“A Petrobras tem certas coisas que as outras empresas não têm. Por exemplo, o Banco Itaú (ITUB4) já é um banco bem precificado, ele não tem um desconto em termos de múltiplos tão grandes em relação aos bancos americanos”, explica.
Em relação a outras petroleiras no Brasil, o analista diz que a Prio (PRIO3), por exemplo, que é uma Junior Oil Company, tem uma produção que corresponde a cerca de 3% da Petrobras. “Então, a diferença de valor, de tamanho de produção é muito grande. E a Prio dificilmente vai se tornar uma Petrobras”, completa. Ou seja, a Petrobras continuara ainda continuará atrativa por muito anos.