Economia

Petrobras (PETR3; PETR4): Pires na estatal deixa mercado ‘encucado’ com intenções de Bolsonaro

29 mar 2022, 9:25 - atualizado em 29 mar 2022, 12:54
Adriano Pires, futuro presidente da Petrobras (PETR4)
(Imagem: Ag. Senado/ Geraldo Magela)

A dança das cadeiras no comando da Petrobras (PETR3; PETR4) ganhou mais um contorno na segunda-feira (28), com a demissão do então presidente general da reserva Joaquim Silva e Luna, que ficou no cargo durante quase um ano.

Com a saída de Silva e Luna, veio a indicação do economista Adriano Pires. Às 11h09 desta terça-feira (29), as ações da petrolífera operavam em alta de 1,58%, a R$ 32,10.

Com a chegada de Pires, a Petrobras deve chegar ao seu 40º CEO, com uma média de duração de um presidente de 1,7 ano, em 68 anos de existência da empresa.

As trocas de presidente na Petrobras lembram muito o que acontece em times de futebol: se um clube tem baixo desempenho, logo ele é pressionado a trocar de técnico, mesmo que os problemas não estejam necessariamente na liderança.

Segundo o professor de economia da Fundação Getulio Vargas (FGV), Mauro Rochlin, o mercado “estranhou muito a indicação de Pires”.

“Isso porque o Adriano tem uma postura muito liberal, o que significa dizer muito avessa à qualquer tipo de intervenção do governo na Petrobras. Ele é favorável a uma decisão da política de preços de olho na precificação internacional. O nome surpreendeu, uma vez que o objetivo do presidente parece ser a interferência na formação de preços da estatal”, afirma.

Para Rochlin, nesse momento, ainda há uma dúvida sobre como será conduzida a empresa — e o mercado, por sua vez, trabalha para entender como será o funcionamento da petrolífera sob a nova direção.

“O governo está buscando intervir de maneira menos cerimoniosa nos preços do combustível. Nesse momento, o mercado está dirigindo a dúvida no sentido de entender qual será a postura do governo com a nomeação de Pires”, diz.

Alessandra Ribeiro, sócia-diretora de macroeconomia e análise setorial da consultoria Tendências, afirma que não enxerga grandes mudanças na Petrobras com a chegada do novo presidente. Para ela, “a linha principal deve ser mantida em relação à política de preços, como também em relação à estratégia da empresa”.

“Não esperamos muitas mudanças. O Adriano Pires é um técnico, inclusive muito defensor da paridade de preços”, explica. “O que talvez tenha aí é mais um peso de Pires de tirar a Petrobras do foco e dar um pouco mais suporte para políticas de subsídio que passem pelo orçamento”, diz.

Ribeiro afirma que Pires “talvez deva aumentar o subsídio ao combustível”, mesmo a Economia sendo contra a decisão.

“Sabemos que subsídios, pelo menos para diesel e gasolina, não é nada que caiba no Orçamento, mas podemos ver aí uma voz a mais para defender essa política”, afirma.

Para Michael Viriato, do Insper, o que se pode ver com a troca “é que o governo quer dar um recado de que está controlando os preços dos combustíveis”, mesmo com o viés mais liberalista de Pires.

“A medida que uma empresa vai criando processos de governança corporativo, ou seja, que delegam o que o gestor vai fazer, não sofre muita influência de um comando para outro”, diz.  “Vimos que o Silva e Luna não conseguiu ajustar a precificação do combustível conforme o governo queria. Por isso o governo fez a troca”, afirma.

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Quem é Adriano Pires

Doutor em Economia Industrial pela Universidade de Paris XIII, sua última passagem pelo governo foi como assessor da diretoria da Agência Nacional de Petróleo, Gás e Biocombustíveis (ANP). Também lecionou na Universidade Federal do Rio de Janeiro. Atualmente, é diretor do Centro Brasileiro de Infraestrutura (CBIE).

Embora respeitado pelo setor, a ascensão de Pires ao comando da Petrobras talvez não resolva o principal problema de Bolsonaro — a contenção dos reajustes dos combustíveis, que pressionam a inflação e ameaçam incinerar suas chances de reeleição.

As últimas declarações de Pires foram de apoio ao reajuste dos preços promovido pela gestão de Silva e Luna e que acabaram por lhe custar o cargo. Em recente entrevista à CNN, por exemplo, o especialista afirmou que “pior que o preço alto é desabastecimento”.

*Com informações de Márcio Juliboni