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Petrobras (PETR4): Afinal, qual é o bode com o PPI, o preço de importação de combustíveis? Jean Paul Prates responde

02 mar 2023, 21:25 - atualizado em 02 mar 2023, 22:01
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Pelo livre mercado: Petrobras não deve ser obrigada a seguir preços dos importadores, se pode oferecer preços melhores, diz Prates (Imagem: Youtube/ Petrobras)

A Paridade de Preço de Importação (PPI), adotada pela Petrobras (PETR4) para calcular os preços de venda de seus produtos, só é boa para um agente econômico: o importador de derivados de petróleo, como gasolina e diesel. Numa situação de livre mercado, a Petrobras deveria poder usar todas suas armas para disputar clientes com os importadores – o que inclui incorporar vantagens comparativas, como o fato de não precisar incluir na conta custos de frete internacional e tarifas de importação.

“Imaginar que o PPI é o preço que deve ser praticado no Brasil é imaginar que lá em Tabatinga e aqui em Ipanema, no Rio, o preço deve ser o mesmo do produto importado da Alemanha, colocando o frete e outras despesas”, afirmou o presidente da Petrobras, Jean Paul Prates, em sua primeira entrevista coletiva.

Segundo o ex-senador petista e agora CEO, o PPI fere o princípio da livre concorrência, ao impedir que a estatal pratique preços mais competitivos que seus concorrentes, mesmo num ambiente em que já não detém mais o monopólio de refino de derivados de petróleo.

Assista à entrevista coletiva do presidente da Petrobras, Jean Paul Prates, nesta quinta (02).

“O PPI, para a Petrobras, só garante uma posição confortável aos concorrentes”, afirmou Prates. “A minha posição é ser o mais competitivo, quando eu puder ser”, acrescentou. Na prática, isso significa que a companhia deixará de utilizar o PPI como única referência para compor seus preços de venda, e considerará, também, dados como o perfil do cliente, região, quantidade negociada etc.

O executivo observou que, no dia a dia, a Petrobras já faz isso. Clientes que compram maiores volumes recebem descontos, clientes com histórico de maus pagadores são onerados, clientes com logística de acesso melhor pagam menos, e por aí vai. “O PPI é uma abstração, e gostaria de aproveitar este momento para desmistificá-lo”, disse. “Desde que foi criado, o PPI virou um dogma.”

Isso não significa que a petrolífera abandonará o PPI de uma vez. Prates lembra que essa política de preços consta dos regulamentos da empresa e, por isso, será cumprida, mas temperada com fatores que podem tornar o preço mais competitivo diante dos importadores.

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Petrobras (PETR4) quer disputar jogo do livre mercado

“Se é mercado, vamos jogar o jogo do mercado. Agora, me proibir… me obrigar a praticar o preço do concorrente não faz o menor sentido”, afirmou. Segundo Prates, se pudesse resumir a nova fase em uma frase, seria: “a Petrobras vai praticar o preço do mercado em que ela estiver atuando.”

“A gente vai fazer a nossa política comercial com o melhor resultado para o acionista e com o melhor atendimento do mercado. Se alguém estiver nos ameaçando, de alguma forma, com um preço melhor, a gente vai ajustar o nosso preço para ser o melhor de novo. E, se a gente não conseguir, paciência. É mérito de quem ganhou aquele mercado”, afirmou.

Isso não implica, porém, que a Petrobras sacrificará margens, segundo seu presidente. “É claro que eu não vou canibalizar ou aniquilar minha margem. Tem um momento em que eu vou parar e não vou vender para você. Vou vender para outro. Mas, até um certo momento, eu posso disputar o meu mercado com o importador, por que não?”, explicou.

Prates negou que a nova política de preços seja uma forma de subsídio para mantê-los artificialmente baixos, favorecendo politicamente o governo Lula, que suaria menos para combater a inflação. “Não é subsídio. Isso é o meu melhor preço para garantir aquele cliente, como qualquer pessoa faz em qualquer produto. Não é porque é uma commodity estratégica. Em qualquer produto é assim. Por que só a Petrobras deve ser obrigada a praticar o preço do concorrente?”, insistiu.

PPI  e o fantasma do desabastecimento de combustíveis

O ex-senador também negou que a mudança trará desabastecimento do mercado interno, um dos principais argumentos de quem defende a manutenção do PPI. Segundo ele, a Petrobras vai suprir o mercado, até o ponto em que lhe seja comercialmente vantajoso e, a partir daí, “o mercado vai se ajustando”. Ele acrescentou que o PPI será praticado “no primeiro metro cúbico que você precisar importar, depois de suprir todo o mercado numa área de influência”.

Prates continuou: “O PPI vai estar em vigor no Brasil? Vai. Para quem? Para o importador e para quem quiser importar. Ele vai ser um preço do importador com a pessoa que estiver importando. Paciência. Agora, quem quiser comprar de mim e eu tiver para oferecer numa condição melhor, vou oferecer, porque eu não vou perder esse cliente. Por que vou deixar esse cliente para o importador?”

Durante sua primeira coletiva de imprensa, Prates afirmou que a nova postura comercial da companhia “não significa uma guerra com ninguém”. Para o executivo, no fim, tudo se resume a tornar a Petrobras mais competitiva no mercado, dentro da mais pura livre concorrência tão cara ao mercado.

“O que é importante para mim, como empresa? O que me pagam para fazer? Defender a empresa. Capturar mais mercados, capturar mais clientes. Ser a melhor opção para o cliente que quer comprar o meu produto. É isso que eu vou fazer”, prometeu.

PPI: Entenda o que é a política de preços criticada por Prates

Desde outubro de 2016, a política de Preços de Paridade de Importação (PPI) da Petrobras vincula o preço dos derivados de petróleo nas refinarias ao comportamento da commodity no mercado internacional.

O cálculo leva em conta o preço de aquisição do combustível e os custos logísticos até o polo de entrega. Nessa conta entra o frete marítimo, taxas portuárias e o transporte rodoviário, por exemplo. Além disso, a estatal considera uma margem de riscos inerentes à operação, como a volatilidade da taxa de câmbio e dos preços sobre estadias em portos e lucro, além de tributos.

O pareamento torna o custo dos derivados de petróleo mais volátil, por isso, o reajustes no litro da gasolina e do diesel são mais frequentes. Tudo depende da cotação do dólar e do comportamento do mercado internacional de combustíveis. Segundo a Petrobras, a nova política prevê avaliações para revisões de preços pelo menos uma vez por mês.

Preço dos combustíveis: Crítica ao PPI une Bolsonaro e Lula

Embora o mercado se arrepie com a possibilidade de mudança na política de preços da Petrobras, vista como intervencionista, Prates rebate a crítica. Segundo ele, “quem era intervencionista era o governo anterior, que mandava a Petrobras praticar esse PPI para ajudar o importador, mesmo sem ter necessidade de importar tudo aquilo. Então, eu vou disputar até o último metro cúbico de produto em qualquer parada do país que tenha possibilidade de importar, porque o importador é meu competidor.”

Justiça seja feita, contudo, a crítica à política de preços da Petrobras foi um dos raros momentos em que o ex-presidente Jair Bolsonaro e seu então rival na corrida eleitoral, Luiz Inácio Lula da Silva, estiveram do mesmo lado. Em março do ano passado, quando a disputa pelo Planalto engatinhava, Lula e Bolsonaro uniram-se para criticar o PPI.

Naquele momento, o barril de petróleo do tipo Brent chegou a bater em US$ 139 e Bolsonaro criticou, em entrevista à rádio Folha, de Roraima, a política de preços da Petrobras, que acompanha os valores internacionais para definir reajustes nos preços dos combustíveis.

Veja um dos momentos em que Bolsonaro criticou a política de preços da Petrobras.

Na ocasião, o levantamento da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) apontava que o preço médio do litro da gasolina comum no país era de R$ 6,560.

“Agora, tem uma legislação errada feita lá atrás que você tem a paridade com o preço internacional, ou seja, o que é tirado do petróleo, leva-se em conta o preço fora do Brasil, isso não pode continuar acontecendo”.

“Estamos vendo isso aí sem mexer, sem nenhum sobressalto no mercado, e está sendo tratado hoje à tarde em mais uma reunião”, disse o então presidente da República. Bolsonaro convocou, na ocasião, uma reunião com os ministros da Economia, de Minas e Energia e com a própria Petrobras para tratar do tema.

A bronca de Bolsonaro com os preços praticados pela estatal o levaram a trocar três vezes seu CEO. O motivo da queda era sempre o mesmo: a resistência dos nomeados em abandonar o PPI e segurar artificialmente o preço dos combustíveis, a fim de impulsionar os planos de reeleição do ex-capitão.

Lula contra a “dolarização” da Petrobras

Bolsonaro não estava sozinho em sua cruzada contra a estatal. Isto, porque o ex-presidente Lula engrossava as críticas à “dolarização” do preço dos combustíveis. Durante a campanha eleitoral, o petista falou sobre o tema mais de uma vez.

“Nos oito anos em que fui presidente mantive a gasolina, o diesel, o gás com os preços de acordo com a moeda brasileira. Não existe razão para o preço da gasolina ser dolarizado”, disse, num vídeo divulgado naquela época em suas redes sociais.