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Petrobras: os 5 principais impactos da guerra do petróleo sobre a empresa

10 mar 2020, 11:40 - atualizado em 10 mar 2020, 11:40
Efeito-dominó: de receitas a projetos futuros, Petrobras pode se complicar bem (Imagem: REUTERS/Sergio Moraes)

A briga de russos e árabes para decidir quem manda no mercado mundial de petróleo atingiu em cheio a Petrobras (PETR3; PETR4), cujas ações preferenciais e ordinárias tombaram cerca de 30% nesta segunda-feira (9).

Agora, os analistas tentam avaliar a extensão dos danos e, sobretudo, a capacidade da petrolífera de resistir a uma guerra prolongada entre Rússia e Arábia pelo domínio do setor.

Os primeiros relatórios sobre a Petrobras apontam, pelo menos, cinco consequências importantes, que ameaçam tanto seu presente, quanto seu futuro. O BB Investimentos, por exemplo, colocou os papéis da companhia em revisão.

Antes da crise, a recomendação da gestora era de outperform, com preço-alvo de R$ 32,20 para PETR3 e R$ 36,50 para PETR4.

Já o Credit Suisse afirma que o novo cenário testará a resiliência da Petrobras, dada a reestruturação promovida no último ano, com a venda de ativos não estratégicos, o controle de custos e o foco na exploração e produção de petróleo.

Mesmo diante dos problemas, o banco suíço manteve a recomendação de compra para PETR4.

As esperanças do BTG Pactual recaem sobre uma forte entrada de caixa decorrente da venda de mais ativos da Petrobras, além de uma redução controlável do ebtida. Por isso, o banco mantém a recomendação de compra, com preço-alvo de R$ 21 para as preferenciais.

Veja, a seguir, os cinco maiores impactos da crise do petróleo sobre a Petrobras, segundo o BB Investimentos, o Credit Suisse e o BTG Pactual.

1. Queda do ebitda

O primeiro reflexo da queda do petróleo é a retração das receitas da Petrobras, já que a produção interna segue a cotação internacional da commodity. Os analistas e os economistas já esperam um corte nos preços praticados pela estatal.

Com menos receitas, a geração de caixa, medida pelo ebitda, também será menor. A divergência dos analistas é o tamanho desta queda. O BTG Pactual estima que, para cada US$ 10 de recuo na cotação do petróleo, o ebtida anual da estatal baixará R$ 7 bilhões.

Aramco: a estatal saudita de petróleo lidera a queda dos preços da commodity (Imagem: Reuters/Maxim Shemetov)

O Credit Suisse adiciona um complicador na equação: a variação cambial. No cenário original, o banco suíço se baseava num preço médio de US$ 60 por barril neste ano, com o dólar cotado a R$ 4,10. Isso resultaria num ebitda de R$ 34 bilhões para a estatal brasileira.

Agora, se o barril do petróleo cair para US$ 30, o ebitda pode variar de R$ 16,7 bilhões a R$ 17,3 bilhões, conforme a taxa de câmbio fique em R$ 4,50 ou R$ 4,70, respectivamente. De qualquer modo, o Credit Suisse acredita que a Petrobras não queimará caixa, desde que o barril não caia abaixo de US$ 35.

2. Ponto de equilíbrio dos novos projetos

Projetos de longo prazo, como a exploração do pré-sal, requerem um cenário de referência para calcular custos e taxas de retorno. O problema é que a atuação cotação do petróleo (e suas perspectivas de curto prazo) não são favoráveis para a rentabilidade dos novos projetos da Petrobras.

O chamado breakeven (ponto em que o projeto começa a se pagar) da Petrobras é de US$ 25 por barril, para os projetos em geral, e de US$ 21 para o pré-sal, nas contas do BB Investimentos. Segundo a gestora, esse é “o ponto mais preocupante”, já que atrapalha o futuro da companhia.

Venda de ativos: saída da BR Distribuidora é exemplo da reestruturação da Petrobras (Imagem: Divulgação/BR Distribuidora)

Para os analistas, a Petrobras tem condições se manter os planos, se o petróleo se estabilizar em US$ 30, mas isso representará “condições piores para novos projetos”.

3. Queda do preço dos ativos à venda

A guerra de preços travada entre russos e árabes também tende a desvalorizar os ativos das petroleiras em geral. Afinal, nenhum investidor quer pagar caro por algo que não vai render o que espera, dado que o preço de mercado dos produtos está menor.

Isso vale, também, para o programa de venda de negócios não estratégicos da Petrobras. Como se sabe, a atual gestão implementa, desde o ano passado, uma política de reestruturação que já passou pela venda da rede de postos de combustíveis BR Distribuidora, refinarias, gasodutos etc.

O BB Investimento teme que a desvalorização do petróleo arraste, junto, o preço dos ativos do setor. Traduzindo: “a expectativa de arrecadar entre US$ 10 e US$ 15 bilhões [com a venda de refinarias] pode ser comprometida se a volatilidade de preços persistir”.

4. Queda da distribuição de dividendos

De um lado, a queda de receitas atrapalharia a geração de caixa. De outro, a venda de ativos por um preço menor não seria suficiente para cobrir a diferença. Tudo somado, a Petrobras estaria no caminho de apresentar lucros menores e, com ele, menos distribuição de ganhos aos acionistas.

O BTG Pactual estima que uma queda de US$ 10 na cotação do barril resulte em redução de R$ 5 bilhões nos lucros da estatal. Para o BB Investimentos, esse cenário enfraquece um fator com o qual muitos analistas contavam: o aumento da distribuição de dividendos da Petrobras a partir de 2021.

5. Queda do valor de mercado

Como todo investidor sabe, o preço da ação reflete, sobretudo, a expectativa do mercado de que a empresa será capaz de gerar e distribuir valor para os acionistas. E, neste ponto, as perspectivas para a Petrobras são, no mínimo, preocupantes.

Seja pelo impacto na geração de caixa, seja pela ameaça sobre a partilha de dividendos, o fato é que investir em ações da Petrobras tornou-se mais incerto neste instante. Não é por acaso que os papéis tombaram no pregão de ontem.

A esperança de que a situação volte ao normal é expressa, porém, pela alta nesta terça-feira (10). Por volta das 11h25, as ações PETR4 subiam 9,38% e eram negociadas a R$ 17,55, enquanto o Ibovespa avançava 4,50%, marcando 89.936 pontos.