Petrobras acelera perdas após Bolsonaro reivindicar “preço-justo” do diesel
O presidente Jair Bolsonaro reivindicou nesta sexta-feira preço-justo para o diesel e afirmou que ficou surpreso ontem com o anúncio de reajuste de 5,7% do diesel, solicitando explicação da estatal para o aumento. Após essa declaração, as ações da Petrobras (PETR4) configuram as maiores perdas do Ibovespa nesta sexta-feira, contribuindo para o principal índice brasileiro despencar quase 2%, abaixo dos 93 mil pontos.
A PETR4 acumula perdas de 7,04% a R$ 26,03 às 14:23, enquanto a (PETR3) despenca 7,66% a R$ 29,40. Projeta-se um volume de negociação de R$ 7 bilhões para a PETR4, que pode ser a maior da história do ativo.
O mercado interpreta que Bolsonaro pressionou para a suspensão do reajuste e ameaça a autonomia de estatal de fixar preço, relembrando a intervenção no preço dos combustíveis realizada pelo governo de Dilma Rousseff, um dos fatores que deixou a empresa altamente endividada. O ministro-chefe da Casa Civil, Onyx Lorenzoni, discorda de a medida de Bolsonaro ser semelhante à intervenção praticada pela petista e acusa a corrupção do PT como responsável pelas perdas da estatal.
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Especula-se que o presidente Bolsonaro teria ligado para o presidente da Petrobras, Roberto Castello Branco, para pedir um aumento menor para o combustível mais consumido do país. Em decisão conjunta, de acordo com o Palácio do Planalto, ficou acertada a suspensão do aumento. Em nota, a Petrobras informou que “revisitou” sua posição e decidiu adiar o aumento do combustível, afirmando que “há margem para espaçar mais alguns dias o reajuste no diesel”.
O receio do governo é a escalada do descontentamento dos caminhoneiros com o aumento do diesel a ponto de deflagrar uma greve análoga à realizada no ano passado, quando o Brasil passou por um desabastecimento por duas semanas. O Gabinete de Segurança Institucional (GSI) monitora há meses o movimento da categoria, um dos pilares para a vitória eleitoral de Bolsonaro no ano passado.
O combustível acumula alta de 18% em 2019. Para minimizar um risco de greve no mês passado, a Petrobras aceitou modificar a periodicidade de ajuste, deixando de ser semanal para quinzenal. A suspensão do reajuste desta sexta-feira vai acarretar em perdas diárias de R$ 13 milhões à estatal, segundo estimativa Associação Brasileira dos Importadores de Combustíveis (Abicom) que considera a defasagem do preço das refinarias brasileiras à paridade internacional.
Em entrevista à rádio CBN, o vice-presidente Hamilton Mourão afirmou que Bolsonaro decidiu por represar o ajuste e que “optou pelo bom senso” diante da pressão dos caminhoneiros. O vice-presidente seguiu a avaliação de Lorenzoni e disse que a medida foi isolada e não haverá interferência na política de preço da Petrobras.
Na avaliação do UBS, a suspensão do ajuste é uma tentativa de evitar uma greve com desdobramentos semelhantes ao do ano passado. O banco mantém a recomendação de compra, mas que decisões recentes da Petrobras poderiam impactar na tese de investimento do banco.
O BTG Pactual (BPAC11) também manteve a recomendação de compra e avaliou que o adiamento do ajustamento expôs a Petrobras à influência política mesmo sob um governo com agenda liberal. A ameaça de greve dos caminhoneiros a cada anúncio de reajustamento do preço do diesel colocou a estatal sob um dilema: os efeitos de uma greve dos caminhoneiros seriam prejudiciais à economia brasileira, à própria Petrobras e à própria agenda liberalizante do Palácio do Planalto; entretanto, represar preço tampouco traz benefícios à companhia, colocando em risco o seu processo de desalavancagem.
Os analistas do BTG questionam se houve mudança de percepção do governo sobre a atual política de preços da estatal ou se a medida de ontem a noite foi apenas temporária, pragmática. A resposta, segundo o banco, depende da reação da equipe econômica, que até agora não se manifestou.