Internacional

Pessoas qualificadas buscam emprego nas ruas da África do Sul

28 set 2020, 17:02 - atualizado em 28 set 2020, 17:02
A maioria das empresas ficou fechada por cinco semanas a partir de 27 de março e algumas demitiram funcionários ou fecharam permanentemente por causa da quarentena (Imagem: Unsplash/@kp_coulson)

A África do Sul deve registrar um recorde mundial indesejável nesta semana, quando a agência de estatísticas do país deve divulgar que o desemprego subiu para 34,9% no segundo trimestre, que seria o nível mais alto entre 83 países monitorados pela Bloomberg.

Ayanda Mbatha está entre as pessoas que ficaram desempregadas no período. Vestido com camisa e gravata, o engenheiro mecânico de 26 anos passou quatro semanas em cruzamentos no bairros sofisticados de Hyde Park e Sandton, em Joanesburgo, para anunciar suas habilidades em um cartaz pendurado no pescoço e com cópias de seu currículo na mão, na esperança que um motorista de passagem pudesse ajudar com uma oferta de emprego.

“Às vezes pensava: ‘não tenho emprego, fui despedido, o que vou fazer? Não há mais salário entrando’”, disse em entrevista.

Mbatha é um dos estimados 3 milhões de pessoas que perderam o emprego em meio às restrições para conter a pandemia de coronavírus, que paralisaram todos os serviços, exceto os essenciais, na economia mais industrializada da África.

A maioria das empresas ficou fechada por cinco semanas a partir de 27 de março e algumas demitiram funcionários ou fecharam permanentemente por causa da quarentena. Um estudo realizado por um grupo de 30 acadêmicos e pesquisadores mostra que mais 1,5 milhão de pessoas foram dispensadas temporariamente.

A África do Sul já enfrentava uma crise de desemprego antes mesmo do vírus. A taxa está acima de 20% há pelo menos duas décadas, embora a economia tenha se expandido 5% ou mais ao ano no início dos anos 2000. Analistas citam um sistema educacional que não oferece habilidades adequadas e leis trabalhistas rígidas que tornam a contratação e demissão onerosas. O planejamento espacial da era do apartheid também dificulta a entrada e permanência na força de trabalho formal.

O presidente da África do Sul, Cyril Ramaphosa, prometeu acelerar o crescimento econômico para 5% até 2023 e priorizar o emprego quando fazia campanha para se tornar líder do partido no poder, há três anos. Desde que se tornou presidente do país, realizou uma feira de empregos que visava criar 275 mil vagas por ano e lançou um programa para criar oportunidades para jovens.

Os resultados têm sido irregulares e a falta de urgência na implementação de políticas para impulsionar o crescimento e convencer as empresas a investir atrasa os avanços.

“Grande parte do descompasso que vemos entre as soluções do governo e os problemas que temos é porque o governo está fazendo políticas para uma economia que não existe”, disse Sithembile Mbete, professora sênior de estudos políticos na Universidade de Pretória.