Pessoas físicas abandonam fórmulas de aposentadoria e procuram a renda variável
Peter e Lynette Griffith tinham dois terços de suas economias para a aposentadoria aplicados em ações durante a crise financeira de 2008. Quando o casal cessou as contribuições para o fundo de pensão, no ano passado, a parcela em renda variável atingia 100%.
“Há a divisão 60/40, mas nós particularmente tínhamos a regra 70/30 — 70% em ações, 30% em renda fixa — para obter um retorno decente”, lembra Peter, que trabalhava no setor bancário antes da aposentadoria, em Brisbane, na Austrália. “Isso ficou no passado. Simplesmente não dá para se viver do rendimento obtido com depósitos a prazo ou títulos de dívida.”
Os Griffiths não estão sozinhos. Pessoas físicas estão abandonando a fórmula de alocação que ancorou os planos de aposentadoria no mundo desenvolvido por mais de meio século, adotando a postura já empregada por firmas como a JPMorgan Asset Management. O catalisador foi a pandemia, que levou as taxas de juros para o fundo do poço e diminuiu os rendimentos dos investidores com títulos. Paralelamente, o avanço das criptomoedas e ações badaladas atraem recursos de investidores que temem não aproveitar movimentos de valorização.
Nos EUA e Austrália, existe a tradição de as pessoas montarem seus próprios fundos de aposentadoria. A pandemia mudou a visão desses indivíduos, quebrando o princípio subjacente à fórmula de alocação 60/40 — a noção de que as aplicações em títulos suavizam momentos de perda nas bolsas.
Histórico: Divisão 60/40 entregou perdas anuais duas vezes nos últimos 12 anos
Desde o estouro da bolha das ações ponto-com no início dos anos 2000, a correlação entre ações e títulos tem sido predominantemente negativa. Mas no auge do nervosismo com a pandemia em março do ano passado, os dois mercados sofreram desvalorização ao mesmo tempo. Porém, nos últimos três meses, sua correlação positiva é a mais forte já vista neste século.
É um desgosto para quem montou o fundo mútuo “balanceado” que era o mantra da indústria de investimentos. Embora a estratégia 60/40 esteja gerando ganhos de 7% este ano nos EUA, consultores financeiros relatam que muitos poupadores estão abandonando essa fórmula quando se trata da aposentadoria, especialmente a alocação de 40% dos recursos em renda fixa.
“Hoje em dia uma pessoa pode esperar viver 30 anos com a aposentadoria e as ações tiveram desempenho superior ao dos títulos durante 98% desse mesmo período”, disse Sam Huszczo, fundador da SGH Wealth Management em Lathrup Village, no estado americano de Michigan. “É difícil olhar o mercado acionário subindo 40% enquanto sua carteira de ativos apenas engatinha.”