Pesquisas mostram oposição às reformas e que governo perde a batalha da comunicação
Por Ângelo Pavini, da Arena do Pavini
Pesquisas divulgadas hoje, Dia do Trabalho, pela Folha de S.Paulo mostram uma forte desaprovação da população em relação às reformas trabalhista e da Previdência. Segundo o Datafolha, 71% dos brasileiros são contra a reforma da Previdência e 58% acham que vão perder direitos com a reforma trabalhista.
Mesmo considerando o viés da pesquisa sobre a Previdência, que deveria ter perguntado se as pessoas acham a reforma da Previdência necessária (afinal, ninguém em sã consciência diria que quer se aposentar mais tarde ou pagar mais contribuições), os dados mostram que apenas 66% tomaram conhecimento da proposta, dos quais 39% dizem saber mais ou menos o que está sendo sugerido. Outros 9% admitem estar mal informados.
O viés da pesquisa, que acaba ressaltando o interesse pessoal de cada entrevistado, fica claro na forte oposição dos servidores públicos, com 83% contrários à reforma, justamente o grupo que hoje mais se beneficia das regras atuais e que tem mais a perder. Um dado importante é o apoio a mudanças que acabem com privilégios, como aposentadoria mais cedo para professores, policiais e militares. Justamente os pontos alterados na proposta original do governo. E que mostram o risco de o governo ceder a grupos interessados em manter seus privilégios.
Na reforma trabalhista, 64% acham que ela vai beneficiar mais os empresários. Mas a maioria, 34%, diz que a reforma vai criar mais empregos, o que é contraditório. Os que acham que a reforma vai diminuir empregos são 31%.
O grande resultado do levantamento, com todas as ressalvas, é que o governo está perdendo a batalha da comunicação com a sociedade. Primeiro, pelo grande número de pessoas que não conhecem as propostas, que já passaram, caso da reforma trabalhista, ou estão para passar pela Câmara, caso da Previdência. Segundo, pela baixa visibilidade do que as reformas podem trazer de positivo para a economia e para os próprios trabalhadores.
Para ajudar, há uma grande batalha de contrainformação dos opositores. O discurso de que a nova legislação acaba com os direitos trabalhistas e a Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) ganha espaço diante da incapacidade de comunicação do governo, limitada ao presidente Michel Temer e sua equipe econômica, que não são lá mestres em falar com o povão. Mesmo que as mudanças, como a de a negociação prevalecer sobre a lei, o fim do imposto sindical e a flexibilidade de horário de trabalho diário com limite semanal, terem sido bandeiras da CUT e do PT, que criticavam abertamente a CLT.
Os dados mostram que o governo precisa melhorar sua comunicação com a sociedade, rebatendo as falsas acusações da oposição e mostrando as contradições no discurso dos que defendiam reformas e agora as condenam. Mas, principalmente, mostrar o que está em jogo, o equilíbrio das contas públicas e da Previdência no futuro e um aumento mais rápido do emprego no curto prazo.
Isso precisa ser feito para evitar que o governo dependa apenas de negociatas no Congresso para aprovar as reformas ou que tenha de ceder mais ainda a grupos de pressão para conseguir passar o texto, mantendo privilégios.