Coronavírus

Pesquisadores são impedidos de analisar evolução da covid-19

18 maio 2020, 20:40 - atualizado em 18 maio 2020, 20:40
Coronavírus
Segundo a administração da Universidade Federal de Pelotas (UFPel), os pesquisadores estão de braços cruzados, esperando autorização (Imagem: REUTERS/Lucas Landau)

Parte dos entrevistadores do Ibope Inteligência que formam a equipe encarregada de visitar quase 100 mil casas em 133 cidades, para aplicar testes sanguíneos capazes de identificar, rapidamente, se uma pessoa está infectada pelo novo coronavírus, foi impedida de trabalhar em cerca de 40 dos municípios selecionados para fazer parte da pesquisa financiada pelo Ministério da Saúde.

Segundo a administração da Universidade Federal de Pelotas (UFPel), os pesquisadores estão de braços cruzados, esperando que os gestores municipais autorizem a seguir visitando as residências selecionadas, cujos moradores aceitem participar do estudo.

O Centro de Pesquisas Epidemiológicas da UFPel foi selecionado para coordenar a pesquisa EpiCovid19-BR em função de já estar à frente de um estudo semelhante realizado no Rio Grande do Sul.

Nos últimos dias, houve casos de entrevistadores detidos por guardas municipais em São José dos Campos (SP), outros foram destratados por cidadãos receosos da abordagem e equipes acabaram impedidas de trabalhar em várias localidades.

“Infelizmente, desde o início do trabalho de campo, no último dia 14, as equipes da pesquisa vêm passando por diversas situações constrangedores”, informa a administração da universidade, garantindo que o Ministério da Saúde notificou, previamente, os gestores de órgãos responsáveis dos 133 municípios selecionados para participar da pesquisa.

“[Ainda assim] em quase 40 cidades, os pesquisadores estão de braços cruzados, esperando autorização dos gestores municipais, num processo burocrático que pode causar prejuízo aos cofres públicos, visto que a pesquisa é integralmente financiada com recursos públicos”, acrescenta.

Na mesma nota, os administradores da UFPel lamentam a falta de apoio dos órgãos municipais aos entrevistadores treinados para ajudar no estudo que, segundo a UFPel, “pode salvar milhares de vidas” em meio a uma pandemia sem precedentes.

“Por mais que a comunicação formal do Ministério da Saúde aos municípios possa ter chegado muito perto do início da coleta de dados, nada justifica o comportamento de ‘xerifes’ assumido por alguns gestores municipais, que impedem ou atrapalham a realização de uma pesquisa”, afirmam os administradores da universidade, garantindo que os entrevistadores continuarão indo a campo para garantir a continuidade da pesquisa sobre a evolução da covid-19 no Brasil.

Calendário

O Ministério da Saúde confirmou ter enviado ofício às secretarias estaduais de Saúde e aos conselhos Nacional de Secretários de Saúde (Conass) e Nacional de Secretarias Municipais de Saúde (Conasems), informando-os sobre a pesquisa.

A pasta acrescentou que forneceu 150 mil testes rápidos para a coleta de amostras da população, que serão colhidas em três etapas: 14 a 19 de maio; 28 e 29 de maio e 11 e 12 de junho. A expectativa é que 33.250 testes sejam realizados.

Em nota, o Ibope garantiu que seus funcionários foram treinados por profissionais de saúde para realizar os testes rápidos e as entrevistas. Além disso, os procedimentos adotados foram aprovados pela Comissão Nacional de Ética em Pesquisa (Conep) e todos os pesquisadores não só foram submetidos a exames para comprovar que não estão eles próprios infectados pela doença, como assinaram um termo declarando não pertencer a nenhum grupo de risco.

Os entrevistadores também são obrigados a usar todos os equipamentos de proteção (máscara, luva, touca, aventais e sapatilhas descartáveis e óculos de proteção) e a sempre portar frascos de álcool em gel e caixas de descarte para o material já usado.

Identificação pessoal

O Ibope também destacou que todos os profissionais portam identificações funcionais e contam com o suporte a distância de profissionais de saúde. Antes de se submeter ao teste e responder a perguntas sobre a eventual existência de doenças preexistentes e se sentiu algum dos sintomas da covid-19, um dos moradores da residência selecionada terá que assinar um termo de consentimento.

O teste consiste na coleta de uma gota de sangue extraída da ponta do dedo do entrevistado. O resultado demorará entre 15 e 20 minutos para ser conhecido. Só em casos positivos a testagem poderá ser estendida aos demais moradores da residência. Os casos positivos também serão notificados à Vigilância Sanitária, mas outras informações coletadas nas entrevistas não serão divulgadas de forma a permitir a identificação do entrevistado.

“Os resultados dos estudos serão sempre tratados conjuntamente e nunca de forma individual”, garantiu o Ibope. Em caso de dúvidas, é possível ligar para o número 0800 800 5000 ou enviar um e-mail para pesquisa.covid-19@ibopeinteligencia.com

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