Pesquisa inédita: 57% da força de trabalho brasileira terá mais de 45 anos em 2040, mas poucas empresas estão se preparando
Segundo relatório do Caged, mais de 700 mil profissionais com mais de 50 anos perderam seus empregos durante a pandemia da Covid-19. Por outro lado, cerca de 60% das empresas afirmam que têm dificuldade em contratar pessoas nessa faixa etária.
É o que revela a pesquisa da Maturi, empresa especializada no mercado 50+, em parceria com a EY Brasil, uma das maiores companhias de consultoria e auditoria do mundo.
Para responder à questão “por que as pessoas com mais de 50 anos não são consideradas como força de trabalho em um país que envelhece?”, o levantamento contou com a participação de 191 empresas de diversos portes que atuam em 13 setores diferentes.
Guerra de talentos
Para o fundador da Maturi, Mórris Litvak, o Brasil vive uma guerra global de talentos.
“Ao mesmo tempo em que presenciamos desemprego em níveis recordes durante a pandemia, setores mais relacionados à tecnologia e inovação enfrentam um déficit de mão de obra que não será preenchido apenas com a abertura de vagas em universidades. Principalmente, porque olhar exclusivamente para o início da formação profissional significa deixar de fora a parcela da população que mais cresce no Brasil e no mundo: o público 50+”.
Ele acrescenta que questões inerentes à diversidade e inclusão, LGBTQIA +, PCDs e participação feminina já são muito discutidas e trabalhadas nas empresas, mas menos da metade trabalham o pilar etário.
Assim, ele complementa que pelo fato da população 50+ ser a que mais cresce no Brasil exige que governos e empresas adotem uma nova compreensão – uma perspectiva mais inclusiva e estratégica.
“Nas organizações, quem abrir oportunidades de atração e retenção, assim como desenvolver novas trilhas de reskilling (requalificação) e upskilling (aprimoramento), continuará a contar com uma mão de obra produtiva, engajada e capaz de contribuir para a inovação nos negócios. Mas isso não acontecerá da noite para o dia, é preciso muito trabalho, com discussão e novas práticas para conscientização do mercado”.
Organizações etaristas
Outra informação identificada no levantamento é que as organizações são etaristas. Ou seja, apresentam algum tipo de preconceito, intolerância, discriminação contra pessoas com certa idade.
Essa é a percepção de 78% das empresas participantes. O discurso do mercado sobre a importância do tema não condiz com a prática, uma vez que faltam ações concretas das organizações.
Com, por exemplo, 80% das empresas respondentes não possuem políticas específicas e intencionais de combate à discriminação etária em seus processos seletivos.
Além disso, não há uma visão clara sobre como deixar de ser etarista, uma vez que a intenção de ações a serem implementadas são mais generalistas e já conhecidas como mentoria e gestão do conhecimento, e não intencionais como revisão de políticas e inclusão de 50+ em processos seletivos.
Algumas empresas já estão cientes dessa realidade e, de alguma maneira, deram início à implementação de ações que possam acelerar a disseminação de uma cultura inclusiva em toda a organização, explica a gerente de People Advisory Services da EY Brasil, Raquel Thomazi.
“Há muito trabalho a ser feito no Brasil em relação a essa pauta, principalmente para que as lideranças a enxerguem como oportunidade estratégica em um país que envelhece a passos acelerados, deixando de ser a principal barreira de entrada dessa população nas organizações”, pontua ela.
Envelhecimento já é percebido nas empresas
O levantamento mostra que apesar da projeção de que 57% da força de trabalho brasileira terão mais de 45 anos em 2040, são poucas as empresas que se preparam para esse cenário.
Três em cada cinco pesquisados afirmaram acreditar que o envelhecimento da população terá impactos para a sua empresa, 41% já sentem esses impactos e 88% concordam total ou parcialmente com a afirmação de que as empresas que se prepararem para o envelhecimento estarão em vantagem.
No estudo, 33% dos entrevistados não praticam nenhuma ação voltada ao tema e, entre as que já praticam algo, as ações costumam ser ainda pontuais e incipientes. Palestras de conscientização e estruturação de grupos de afinidade estão entre as medidas mais implementadas.
“A tendência é que a questão do envelhecimento dos profissionais se torne ainda mais relevante nos próximos três anos, a partir de ações estimuladas pelo RH. O estudo mostra que 57% das organizações pretendem executar ações voltadas ao envelhecimento, como investir no recrutamento de profissionais maduros e na preparação da cultura organizacional, até 2025”, afirma o fundador da Maturi.
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