Agronegócio

Pesquisa: Brasil terá safra recorde de milho com mercado favorável; projeção recua

03 dez 2019, 15:41 - atualizado em 03 dez 2019, 15:42
Milho
Em termos nominais, os preços do milho no mercado interno atingiram os maiores níveis desde agosto de 2016 (Imagem: REUTERS/Henry Romero)

O Brasil deverá plantar pela primeira vez mais de 18 milhões de hectares de milho em uma safra na temporada 2019/20, uma área recorde que representa crescimento de 3,5% ante o ciclo anterior, com bons preços impulsionando o plantio do cereal na chamada “safrinha”, de acordo com pesquisa da Reuters.

A sondagem com 12 analistas e órgãos de pesquisa apontou também que o Brasil deverá colher 101 milhões de toneladas, em média, superando ligeiramente o recorde da temporada anterior, apesar de um ciclo atrasado versus 2018/19, consequência de uma colheita mais tardia da soja que resultará em uma janela climática ideal mais curta para o milho segunda safra, que responde por cerca de 75% produção total do país.

A projeção média ainda indica uma redução de cerca de 1 milhão de toneladas na comparação com sondagem semelhante publicada pela Reuters em setembro, com alguns analistas cortando suas estimativas. Eles admitem que há mais risco para a safrinha 2019/20, plantada após a colheita da soja, mas ressaltam que a temporada anterior, muito adiantada, é que foi um ponto fora da curva.

“Claro (que a janela estreita) coloca variáveis de clima mais perigosas para a safrinha, de maior risco de geada para o Paraná… mas se estiver chovendo em fevereiro e março e o preço estiver alto, como deve estar, o produtor vai plantar”, disse o analista Paulo Molinari, da Safras & Mercado.

Ele lembrou que na temporada passada, com a colheita antecipada da soja, alguns plantaram milho já ao final de dezembro e início de janeiro. “Isso foi excepcional, a situação normal é plantio em fevereiro e março, vai acontecer nesta safra de retornarmos ao normal.”

Incentivo para plantar não faltará, comentaram os analistas. Pois o preço no período de plantio da safrinha deve estar mais sustentado por vários favores: estoques apertados após exportações recordes em 2019, um câmbio favorável a vendas externas, consumo interno superaquecido devido à maior demanda da indústria de carnes para alimentar especialmente a China, além de uma safra de verão de milho também atrasada, o que prolongará a entressafra no Brasil.

“A safra de verão vai entrar a maior parte em março, isso cria uma boa questão especulativa no primeiro semestre”, comentou Molinari, avaliando que o atraso do milho verão é o principal fator para a recente alta de preços.

Em termos nominais, os preços do milho no mercado interno atingiram os maiores níveis desde agosto de 2016, a cerca de 48 reais a saca de 60 kg, tendo registrado alta de 14% no acumulado de novembro, segundo indicador da Esalq/USP.

“Com a demanda aquecida dando suporte aos preços do cereal, com exportações recordes no ciclo 2018/19, pode acabar havendo um incentivo ao cultivo da safrinha, mesmo se a janela não for a mais adequada em algumas regiões”, disse a analista Ana Luiza Lodi, da INTL FCStone, que deverá ter um primeiro número para a safrinha ainda nesta semana.

Outros analistas, ainda que não considerem eventual quebra de produtividade decorrente do plantio de cerca de 50% da área de milho segunda safra fora da janela ideal, veem novos recordes para o cereal, agregando expectativa de tempo normal e aumento de área.

“O cenário atrativo de preços, especialmente para o milho segunda safra, está embutido nas projeções”, destacou o consultor Carlos Cogo, que prevê uma safra de recorde de 103,36 milhões de toneladas.

Relatório do Rabobank lembra que o otimismo com a safra também se baseia no ritmo de comercialização, que em Mato Grosso, responsável por pouco menos da metade da produção total do país na segunda safra, está em níveis recordes. Até o início de novembro, o Estado já havia vendido 44,5% da safra futura.

O Rabobank ainda cita a forte demanda por milho, que deverá crescer 6% no país em 2020, para 68 milhões de toneladas, com ajuda da uma crescente produção de etanol a partir do cereal, além da maior demanda da indústria de carnes.

Cautela

O diretor de Política Agrícola e Informações da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), Guilherme Bastos, tem uma posição mais conservadora, comentando que o número atual da Conab, abaixo de 100 milhões de toneladas, faz “mais sentido” após uma safra mais atrasada.

Mas ele disse que uma dose de otimismo também pode ser considerada após o Mato Grosso ter recuperado um atraso inicial no ciclo da soja, o que proporcionará condições boas para o plantio.

Bastos ressaltou que, por ora, é difícil ter prognósticos seguros sobre como será o tempo no período de plantio e mesmo no desenvolvimento da segunda safra, o que justifica também a maior cautela com o número.

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