Economia

Perturbações nas cadeias globais de abastecimento ainda podem piorar, alertam banqueiros centrais

29 set 2021, 16:52 - atualizado em 29 set 2021, 16:52
Federal Reserve
O problema é que os bancos centrais, a principal autoridade para controlar os preços, não têm influência sobre interrupções no fornecimento de curto prazo (Imagem: REUTERS/Jonathan Ernst)

As restrições de oferta que atrapalham o crescimento econômico global ainda podem piorar, mantendo a inflação elevada por mais tempo, mesmo que o corrente aumento dos preços ainda deva seguir temporário, alertaram os principais banqueiros centrais do mundo nesta quarta-feira.

As interrupções na economia global durante a pandemia perturbaram as cadeias de abastecimento em todos os continentes, deixando o mundo com falta de uma infinidade de bens e serviços, desde peças de automóveis e microchips a navios porta-contêineres que transportam mercadorias através dos mares.

“É… frustrante ver os gargalos e os problemas da cadeia de suprimentos não melhorando, na verdade, na margem aparentemente ficando um pouco pior”, disse Jerome Powell, chair do Federal Reserve (Fed), em conferência.

“Vemos isso provavelmente continuando no próximo ano e mantendo a inflação para cima por mais tempo do que havíamos pensado”, disse o chefe do Fed ao Fórum do Banco Central Europeu (BCE) sobre bancos centrais.

Falando ao lado de Powell, a líder do BCE, Christine Lagarde, expressou preocupações semelhantes, argumentando que o fim desses gargalos, que os economistas pensavam estar apenas a algumas semanas de distância, é incerto.

“Os gargalos de abastecimento e a interrupção das cadeias de abastecimento, que temos experimentado por alguns meses… parecem continuar e em alguns setores, acelerar”, disse Lagarde. “Estou pensando aqui sobre transporte, manuseio de carga e coisas assim.”

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Muito Atento

A inflação global disparou nos últimos meses devido ao aumento dos preços da energia, e os gargalos de produção estão empurrando os preços ainda mais para cima, elevando temores de que a alta, se durar o suficiente, possa atingir as expectativas e levar o perfil geral da inflação a um outro patamar.

De fato, Lagarde disse que o BCE estará “muito atento” a esses efeitos secundários, enquanto o presidente do Banco da Inglaterra (BoE, na sigla em inglês), Andrew Bailey, outro orador do fórum, disse que manteria “uma vigilância muito estreita” sobre as expectativas de inflação.

“Se este período de inflação mais alta, embora em última análise seja muito provável que seja temporário, se durar o suficiente, começará a afetar, mudando a maneira como as pessoas pensam sobre a inflação? Monitoramos isso com muito cuidado”, acrescentou Powell.

O problema é que os bancos centrais, a principal autoridade para controlar os preços, não têm influência sobre interrupções no fornecimento de curto prazo.

Portanto, provavelmente serão espectadores, esperando que as anomalias econômicas se corrijam sem danos duradouros.

“A política monetária não pode resolver os choques do lado da oferta. A política monetária não pode produzir chips de computador, não pode produzir vento, não pode produzir motoristas de caminhão”, disse Bailey.

Ainda assim, mesmo com os formuladores de política monetária pedindo maior atenção à inflação, todos mantiveram sua visão de longa data de que a alta da inflação seria temporária e os aumentos de preços moderariam no próximo ano, voltando para ou abaixo das metas do banco central.

As preocupações com a inflação “pegajosa” têm alimentado um debate sobre a necessidade de desacelerar as medidas de estímulo da era da crise, e os comentários no painel desta quarta-feira reforçaram expectativas de que os maiores bancos centrais do mundo sigam cronogramas muito diferentes, ficando fora de sincronia nos próximos anos.

Fed, BoE e Banco do Canadá discutiram abertamente o aperto das políticas monetárias, enquanto os bancos centrais de países como Coreia do Sul, Noruega e Hungria já aumentaram as taxas de juros, iniciando um longo caminho para a normalização monetária.

Enquanto isso, BCE e Banco do Japão provavelmente serão os últimos a agir, mantendo extrema cautela após não cumprirem suas metas de inflação por anos.

O BCE ainda se recusa a discutir a redução gradual e já sinalizou sua tolerância para uma inflação acima da meta, pois prefere agir tarde demais do que cedo demais.

Esse tipo de paciência só foi reforçado por Lagarde e o presidente do Banco do Japão, Haruhiko Kuroda, embora ambos tenham apresentado uma perspectiva relativamente otimista de crescimento, argumentando que suas economias poderiam voltar aos níveis anteriores à pandemia nos próximos meses.