Pensar em substituição da soja ante corrida chinesa por menor dependência é enxugar gelo
Qualquer coisa que se fale a respeito dos brasileiros, e seus concorrentes, começarem a enxergar a necessidade de diminuir a produção de soja e seus derivados, e empreender alguma substituição produtiva, tendo em algum lugar do futuro a menor dependência que a China imporá a todos eles, é como enxugar gelo.
Como fazer frente, por menor que seja, a dependência que o Brasil, no caso em tela, tem desse destino, que abocanhou 53,7 milhões de toneladas em 2022 (11% menor), praticamente 70% de tudo o que resto do mundo levou daqui, plantada numa área de quase 80 milhões de hectares?
Qualquer que venha a ser as análises sobre o que fazer e o que plantar, não encontram um respaldo crível sequer para discussão se for tentado descrever outras culturas que venham a prover com os mesmos ganhos que a soja vem aplicando há quase três décadas.
Menos ainda que compensem os custos invertidos nesses anos todos para o Brasil, por exemplo, ser o maior produtor e exportador mundial do grão.
Naturalmente substitutos para parte do que poderá ser subtraído sempre haverá, mas nunca nos moldes do que o complexo soja oferece.
A correspondente da Confederação Nacional da Agricultura (CNA), em Pequim, Camila Chen, lembrou que os chineses buscam proteínas alternativas cada vez mais, incluindo um substancial aumento das compras brasileiras de milho, como também usaram muitos outros cereais de inverno em blends de rações nos últimos anos, com a explosão dos preços e margens menores de esmagamento para farelo.
Aditivos nutricionais artificiais de laboratórios estão nas bancadas das vários centros de pesquisas do país. E pelo avanço da ciência não se duvida que em algum dia poderão ter uma participação importante na comida dos rebanhos suínos, principalmente.
Foi lembrado por ela a diversificação alimentar da China e o gigantismo populacional que abre espaços para uma grade maior de produtos, frutas, por exemplo.
Mas essas dificuldades de encontrar opções produtivas – frisa-se novamente, sem que jamais renda o mesmo financeiramente que a soja -, começam por esbarrar nas vocações territoriais. Culturas que se adaptam em terras de soja não são todas, e a maioria de consumo doméstico em larga escala.
Há o milho, em exceção principal, mas em algumas regiões, como no Rio Grande do Sul, não se produz no inverno, além do que qualquer incremento de milho em área de soja na temporada de verão acabará com o consumo muito ofertado, mesmo que se considere que a China tem potencial para comprar ate 50 milhões/t do Brasil.
Mais ou menos se fossem aumentadas as pastagens para pecuária de corte.
É muita área para poucas opções que ofereçam a mesma riqueza do ‘ouro’ brasileiro, como se fala da oleaginosa, que rendeu o ano passado US$ 49 bilhões para todos os destinos
O cenário é desafiador também para os Estados Unidos, com seu clima quente curto, e Argentina, os outros dois grandes fornecedores que dividiram a maior parte das cerca de 91 milhões/t adquiridas pela China em 2022, em queda de 5%.