Pedro Terranova: fundos de renda fixa crédito privado, quais os riscos envolvidos?
Investir em crédito privado pode ser uma excelente oportunidade em diversos cenários econômicos. A qualidade do ativo e, consequentemente, a remuneração do investidor, podem se beneficiar em alguns momentos pelo aumento ou redução da Selic, pela inflação, dentre outros fatores.
Porém, assim como acontece com qualquer outro produto, antes de investir em crédito privado é importante entender quais riscos ele traz e como podemos mitigá-los. Neste artigo, abordaremos os riscos de crédito, liquidez e mercado.
O risco de crédito é a possibilidade de perda que resulta da incerteza quanto ao recebimento de valores pactuados com tomadores, contrapartes de contratos ou emissões de títulos. Por isso, a seleção desses ativos precisa partir de uma análise metódica e criteriosa. Após esse passo, é importantíssimo que os emissores sejam monitorados incessantemente com o intuito de evitar que o principal risco desse tipo de investimento aconteça: o calote!
Já o risco de liquidez é definido como (i) a possibilidade de perda decorrente da incapacidade de se realizar uma transação em tempo razoável sem perda significativa de valor e também como (ii) a possibilidade de falta de recursos para honrar os compromissos assumidos em função do descasamento entre os ativos e passivos (solvência).
Em um passado recente, durante os primeiros meses da pandemia da Covid-19 e antes de o governo adotar medidas que ajudaram a indústria de fundos como um todo, os fundos de crédito privado passaram por um momento bastante delicado, em que algumas estratégias foram colocadas à prova.
Discussões sobre capacity (capacidade de crescimento dos fundos versus a liquidez dos ativos no mercado), aliadas a análises de passivo x ativo ganharam ainda mais importância. Essa crise ratificou quão importante é o pilar de liquidez para fundos de crédito – e como são significativos os controles realizados pelas gestoras, que precisam ser criteriosas. Sem essa diligência, os impactos poderiam ter sido ainda maiores.
A boa notícia é que boa parte do impacto negativo sentido naquele momento, provocado pelas marcações a mercado (assunto que abordamos em nosso último artigo), já foi recuperado por alguns fundos da indústria e outros caminham para isso.
Aqueles que tiveram resiliência, caixa e controles adequados, conseguiram, inclusive, aproveitar excelentes oportunidades de compras no início da pandemia devido às distorções de preços que foram observadas. Nos dias de hoje, esses preços já estão mais condizentes com os níveis de crédito dos ativos.
Já os riscos de mercado são as oscilações de preço decorrentes de eventos que atingem sistematicamente todo o sistema
A volatilidade de preços provocada por eventos macroeconômicos, que podem causar variações nas curvas de juros, por exemplo, pode beneficiar ou prejudicar a rentabilidade do investidor em determinados momentos.
Alguns fundos da indústria buscam entregar resultados somente via spread de crédito e, para isso, podem utilizar derivativos para blindar o investidor desse tipo de risco (caso dos fundos da Devant) É o chamado hedge.
Esse mecanismo de proteção, pode ajudar a reduzir a volatilidade dos fundos, pois ele diminui o risco de mercado e, assim, faz com que eles fiquem menos suscetíveis a eventos inesperados e que podem prejudicar a rentabilidade.
Na indústria, por exemplo, se pegarmos eventos recentes da nossa economia como o “Joesley Day” (em maio de 2017) e a greve dos caminhoneiros (maio de 2018), podemos observar fundos que tiveram resultados bastante expressivos nesses dias, tanto para cima quanto para baixo.
É importante que os investidores sempre avaliem a relação de risco x retorno dos seus investimentos, ter uma carteira diversificada é uma maneira de evitar perdas significativas em momentos como os que foram observados durante a pandemia. Além disso, é sempre importante entender quais são os riscos de cada produto, e para o caso de fundos de investimento, saber como a gestora gere e controla esses riscos.