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Pedro Serra: Vale a pena investir em IPOs?

07 jan 2021, 18:48 - atualizado em 07 jan 2021, 18:48
Ibovespa Ações Mercados B3SA3
“Ao todo, os IPOs movimentaram mais de R$ 43 bilhões e aproximadamente 40% desse total foi parar no caixa das empresas”, escreve (Imagem: B3/Divulgação)

Ofertas públicas bateram recorde em 2020 e movimentaram mais de R$ 43 bi; neste ano, mais oportunidades devem surgir e investidor deve saber avaliar prós e contras.

Como todos nós já sabemos, o ano de 2020 ficará marcado na história pela pandemia do coronavírus. Porém, outros grandes feitos foram registrados nesse período, que teve recorde de 120 mil pontos do Ibovespa (IBOV), recorde de CPFs na B3 (B3SA3) e recorde de ofertas e IPOs.

E nossa expectativa é que esses três últimos sejam superados em 2021.

Agora, é hora de olhar para a frente. Porém, antes de falar sobre o ano que se inicia, vamos avaliar um pouco os IPOs realizados até o último pregão de 2020, cujos dados usaremos como base para esta análise. Foram 27 ofertas de ações, sem considerar Suzano  (SUZB3) e  Petrobras (PETR3;PETR4).

Ao todo, essas ofertas movimentaram mais de R$ 43 bilhões e aproximadamente 40% desse total foi parar no caixa das empresas que, em tese, devem se transformar em capex (investimentos).

Será que investir nessas ofertas foi um bom negócio?

Bom, para os investidores mais oportunistas, considerando a performance de 30 dias subsequentes de cada oferta, das 25 que possuem mais de 30 dias, 15 tiveram uma performance positiva contra 10 com performance negativa.

Se considerarmos, então, os que entraram nas ofertas e estão posicionados até agora, 17 das 27 ofertas estão no positivo e 10, no negativo.

Nessa comparação, as construtoras chamam a atenção, pois somente uma, a Cury (CURY3), está no positivo. As outras cinco tiveram um resultado negativo.

Desistências e adiamentos marcam IPOs

Olhando assim, de forma mais simplista, tivemos um resultado razoável. Entretanto, vale ressaltar que tivemos 20 desistências e adiamentos. Ou seja, do total de ofertas que solicitaram registro na CVM, 42,5% não saíram.

Outro dado importante é que, das 27 ofertas que vieram, 17 (ou 62,9%) foram precificadas abaixo ou no mínimo da faixa indicativa.

Locaweb LWSA3 IPO
“Outra questão interessante de se observar é que, aos poucos, a nossa Bolsa vai ganhando empresas de novos setores”, diz(Imagem: Locaweb/LinkedIn/Reprodução)

Isso mostra que nem tudo que vem à mercado é bem recebido pelos investidores ou que o preço oferecido nem sempre é aceito pelos ofertantes. Esse número de desistências e a redução do preço de oferta, embora significativo, na minha visão é saudável para os investidores, pois aumenta a margem de segurança.

Talvez se todas conseguissem emplacar suas ofertas no preço desejado, provavelmente a rentabilidade dos investidores não teria sido a mesma.

Outra questão interessante de se observar é que, aos poucos, a nossa Bolsa vai ganhando empresas de novos setores e se modernizando, com a chegada ainda tímida de empresas de tecnologia, como Locaweb (LWSA3), Meliuz (CASH3) e Ejoei.com (ENJU3).

Porém, ainda estamos muito distantes da transformação observada na China e nos EUA, onde as maiores empresas de suas bolsas eram da “velha economia”, como petróleo, bancos, siderurgia etc., e hoje as maiores são as de tecnologia, como a Amazon, Apple, Alibaba, Tencent, Facebook, Google etc.

Nosso principal índice de referência, o Ibovespa, ainda possui mais de 40% do seu peso teórico em Petrobras, Vale (VALE3) e Bancos. Isso também é um reflexo da nossa economia, que não é tão moderna.

Vale a pena investir em IPOs em 2021?

Essa é uma pergunta muito comum e, olhando a performance das ofertas de 2020, até poderíamos dizer que sim, mas a conta não é simples desse jeito. Existem muitos riscos envolvidos em um IPO. As empresas que já são listadas na Bolsa, de um modo geral, possuem os seus riscos.

Quando falamos em IPOs, o investidor não tem o mesmo nível de informação, não há um histórico longo dessas empresas e há pouco tempo para analisar e tomar a decisão.

Para quem não é institucional, a minha dica é que, no mínimo, busque entender o que a empresa faz, qual é a natureza do seu negócio.

Tente achar empresas já listadas que possuem características semelhantes para usá-las como comparação e, não menos importante, tente entender a motivação da empresa de abrir o seu capital na Bolsa, se ela está fazendo isso para financiar o seu crescimento ou simplesmente aproveitando a liquidez do mercado (arbitrando).

Bolsa
“Para este ano, esperamos bater os recordes de 2020. Hoje, por exemplo, há mais de 40 empresas em análise na CVM para vir à mercado”, afirma (Imagem: REUTERS/Amanda Perobelli)

Essa última dica não é fácil de seguir, pois mesmo as empresas que estão buscando aproveitar a liquidez do mercado, informam no seu prospecto, de forma “bonita”, o uso dos recursos que serão levantados na oferta.

Então, busque na internet o máximo de informações possíveis sobre o passado da empresa, dos seus gestores e dos seus donos.

Para este ano, esperamos bater os recordes de 2020. Hoje, por exemplo, há mais de 40 empresas em análise na CVM para vir à mercado. Entendemos que boa parte delas, e outras que possam solicitar a análise da CVM, vão conseguir emplacar a sua abertura de capital.

Isso porque os principais ingredientes que fomentam esse mercado deverão estar presentes neste ano, como a liquidez elevada, baixa taxa de juros e retomada da atividade econômica.

Cabe ressaltar que, assim como em 2020, também teremos muitas desistências e adiamentos, e os investidores que estão chegando agora devem entender que isso faz parte do jogo, é normal.

Portanto, teremos um ano de muitas oportunidades e, tomando os devidos cuidados, o investidor poderá fazer bons negócios novamente.

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