Pedro Serra: Os bons investimentos fora dos holofotes das redes sociais
A influência das redes sociais sobre os investidores tem crescido cada vez mais, porém é preciso ter cuidado com as armadilhas e acompanhar de perto as operações das companhias em que investimos na bolsa
Com a queda da taxa de juros e sua permanência em níveis baixos durante um longo período, vimos investidores pessoas físicas buscarem investimentos com mais retornos e riscos, sendo que a Bolsa brasileira foi o principal destino dessa demanda.
A procura por conhecimento e informação também fez parte dessa jornada do pequeno investidor em busca de oportunidades mais rentáveis de investimento, e as mídias sociais – em especial o Twitter, com a FinTwit, comunidade financeira da rede social – têm se destacado como provedoras de informação.
Levando em conta esse cenário, muitos influenciadores digitais, às vezes “vendedores de atalhos”, tiveram um aumento exponencial no seu número de seguidores.
É fundamental que quem acaba de entrar no universo financeiro tenha cautela, separando o joio do trigo, pois o mercado é cheio de armadilhas.
A relação Twitter/ Bolsa – O exemplo da Via Varejo
Em 21 de julho de 2020, o volume negociado das ações de Via Varejo (VVAR3) superou a Petrobras (PETR3;PETR4) e a Vale (VALE3), registrando o maior giro da história do papel em um dia comum na B3.
Coincidentemente, neste mesmo dia, a varejista atingiu o pico de menções no Twitter. Cogna (COGN3), IRB (IRBR3) e Oi (OIBR3;OIBR4) também já figuraram nos trending topics da rede social.
Vale observar que essas companhias têm alguns pontos em comum, como o fato de terem enfrentado problemas
decorrentes de questões internas ou de gestão, que geraram desvalorização acentuada em suas ações, chamando assim a atenção das comunidades nas mídias sociais.
Me espanta o fato de que essas “confusões” conseguem atrair a atenção de tantas pessoas, enquanto o trabalho duro realizado diariamente pelas empresas, muitas vezes, passa despercebido.
Como usei a Via Varejo como exemplo, cabe um comentário para fazer justiça à companhia, pois, atualmente, a empresa conta com uma gestão reconhecida pelo mercado e está entrando em um novo ciclo de crescimento.
Arezzo fora do radar dos twitteiros
A Arezzo (ARZZ3) é uma empresa que está distante dos burburinhos das mídias digitais, mas que tem demonstrado operações consistentes desde sua estreia na Bolsa.
A companhia fez o seu IPO no início de 2011, valendo R$ 1,68 bilhões. Um dia histórico para Anderson Birman, Alexandre Birman e o fundo Tarpon, que entrou na companhia a um valuation de R$ 305 milhões e com
uma fatia de 25%.
O que se viu nesses dez anos foi um crescimento consistente, com expansão de lojas e franquias e a criação de novas marcas, mas sempre com muita disciplina na alocação de seu capital, regra básica dos livros de finanças para geração de valor ao longo do tempo.
É interessante notar que ao longo desses dez anos, a ARZZ3 quase nunca esteve entre as maiores altas da Bolsa, com exceção do ano de 2017, quando suas ações valorizaram 129,8%.
Ainda assim, sem chamar a atenção dos twitteiros, mas entregando bons resultados ao longo de sua história, o seu valor de mercado atingiu R$ 7,3 bilhões, um crescimento de 329% desde o IPO.
Antes que você pense que o melhor já passou, a empresa entra agora em uma nova trajetória após as compras da Reserva e da Troc (moda circular). Além disso, ressaltamos o acordo com a Vans e o desenvolvimento do ZZmall (marketplace). A companhia segue seu crescimento e está investindo nas principais tendências do setor.
Aliás, arrisco dizer que olhar para o futuro desta empresa é interessante, levando em consideração a boa disciplina gerencial, já testada, e o seu foco em moda.
Para finalizar, convido os investidores a buscar, com o mesmo ímpeto com que buscam barganhas no mercado, empresas que irão cuidar muito bem do seu patrimônio.
Sempre é bom lembrar que não existem atalhos. A história de empresas como a Arezzo é marcada por muito trabalho, foco e disciplina, e muito raramente isso é destacado na comunidade da internet.