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Pedro Serra: No segundo trimestre, empresas fazem a lição de casa, mas ambiente é desafiador

18 ago 2021, 19:38 - atualizado em 18 ago 2021, 19:38
Para aqueles que surpreenderam ou decepcionaram, teremos revisões para mais ou para menos nas expectativas futuras, dependendo da natureza e da razão dos números (Imagem: Shutterstock)

Finalmente, chegamos ao final da temporada de resultados das empresas do 2º trimestre de 2021. De modo geral, podemos dizer que os resultados vieram, em sua maioria, em linha com o esperado.

Esse momento na Bolsa é muito importante para os investidores checarem as suas teses de investimentos e ver se o discurso das empresas confere com os números divulgados.

Ao longo do ano, foi possível observar oscilações na Bolsa derivadas de diversas notícias e especulações acerca de questões ligadas à política interna, ao ambiente macroeconômico e corporativo, além das condições e “humor” externos.

Porém, pelo menos quatro vezes ao ano, são os números das empresas e o “call de resultados” que costumam pesar mais no rumo das ações na Bolsa.

O primeiro questionamento que devemos fazer é se os resultados decepcionaram, surpreenderam ou validaram as estimativas de mercado.

Para aqueles que surpreenderam ou decepcionaram, teremos revisões para mais ou para menos nas expectativas futuras, dependendo da natureza e da razão dos números.

Caso o número esteja em linha, a expectativa foi validada, seja ela ruim ou boa. Mesmo assim, o mercado pode penalizar ou premiar as ações, uma vez que, dependendo do caso, alguns investidores já se posicionam tentando antecipar a surpresa ou decepção.

Resultados positivos

Do lado da surpresa, observamos as commodities metálicas e mineração entregando números fortes e acima de estimativas já otimistas. Porém, a questão aqui é se esse movimento é sustentável. Avalio de maneira cautelosa essa questão e acredito que daqui para frente teremos um crescimento menor, mais acomodado.

Além das empresas ligadas ao mercado de mineração, também chamo a atenção para os resultados de Yduqs (YDUQ3), Petrobras (PETR4) e Rede D’Or (RDOR3), que surpreenderam cada qual por seus motivos.

Vale destacar o caso da Ultrapar, que chamou bastante a atenção do mercado negativamente (Imagem: YouTube/Grupo Ultra)

Setor elétrico sente crise hídrica

Do lado negativo, o setor de energia elétrica, salvo exceções, já trouxe nos seus números o início do impacto da crise hídrica, algo que já era esperado, porém em menor proporção do que foi divulgado.

Os próximos trimestres devem continuar nesse ritmo, mas acredito que a maior parte do ajuste nos preços das ações do setor já foi realizado pelo mercado.

Vale destacar o caso da Ultrapar (UGPA3), que chamou bastante a atenção do mercado negativamente.

Os resultados da companhia de distribuição de combustíveis assustaram os investidores, gerando, inclusive, um provável fim do “benefício da dúvida” (fenômeno que ocorre quando o mercado já precifica no valor das ações os benefícios prometidos pela gestão da empresa, antes de sua entrega).

Desta maneira, o mercado só deve precificar qualquer reação de melhora na empresa, após a entrega ou forte indícios de melhora nos seus números.

Em relação aos resultados que vieram em linha, estes também possuem o seu valor, confirmando, na maioria das vezes, as projeções dos analistas e, dependendo do caso, reforçando a continuidade da posição dos gestores naquela empresa.

Na casa onde atuo, a Ativa Investimentos, isso se confirmou na maior parte dos casos, com a confirmação de como deve ser a performance das empresas ao longo do ano.

Além disso, estes resultados também auxiliam na análise do potencial de ganho do Ibovespa que, pela ótica fundamentalista, abaixo de nove vezes o seu Preço Sobre o Lucro Esperado (P/L), que está bem abaixo das doze vezes de média dos últimos três anos.

Com os resultados dessa temporada, sentimos mais confiança nesse “L”, que está no denominador, ou seja, caso o mercado precifique o Ibovespa como fez no passado, uma significativa valorização das ações poderá ser observada.

Acredito que os ruídos vindos de Brasília, como a questão dos Precatórios e a Reforma do Imposto de Renda, que tem suas consequências na questão fiscal do país, atrasam essa valorização das ações e, certamente, a discussão sobre voto impresso e desfile de tanques também não ajudam.

O que nos leva a crer que as empresas e a economia vêm fazendo a sua parte na trajetória de recuperação, mas o reflexo disso no valor de suas ações vem sendo refratado por ruídos internos e externos.