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Pedro Serra: No Dia das Mães da lembrancinha, a culpada é a inflação

06 maio 2022, 18:46 - atualizado em 06 maio 2022, 18:48
Varejo
“Temos motivos para acreditar que esse será o Dia das Mães das “lembrancinhas”, dada a atual conjuntura da economia brasileira”, coloca Pedro Serra (Imagem: Tãnia Rêgo/Agência Brasil)

O setor de varejo é marcado por fortes efeitos de sazonalidade de vendas decorrente de datas comemorativas. O quarto trimestre do ano, por exemplo, é costumeiramente o período mais forte em termos de vendas devido às festas de final de ano, promoções da Black Friday e recebimento do 13º salário.

Nesta semana, teremos a segunda data mais importante do ano para o setor, ficando atrás apenas do Natal: o Dia das Mães. Nesta época, em que a maioria das pessoas querem presentear suas mães de alguma forma, as companhias que comercializam cosméticos, eletroeletrônicos e eletrodomésticos, roupas, calçados e acessórios, costumam observar uma demanda muito mais aquecida.

Porém, temos motivos para acreditar que esse será o Dia das Mães das “lembrancinhas”, dada a atual conjuntura da economia brasileira.

Com a escalada na inflação, o peso dos itens essenciais no orçamento da família brasileira tem sido muito mais expressivo, sobretudo para as classes de menor poder aquisitivo. Vamos fazer um exercício para entender melhor o que ocorre neste ano.

Segundo dados da DIEESE, em março/2021, o preço médio da cesta básica era de R$ 546,50. Em março/2022, esse valor subiu mais de 20% na comparação anual, atingindo R$ 656,63.

Agora vamos olhar para outro gasto comum, que indiretamente impacta até mesmo as famílias que não possuem veículos próprios: o combustível.

Segundo o levantamento mensal feito pela ANP, o preço médio do litro da gasolina comum para o consumidor final era de R$ 5,48 em março/2021. Um ano depois, com o aumento no preço do barril de petróleo, esse valor passou a ser de R$ 7,01 – um aumento de quase 28%.

Digamos que, em um mês, uma pessoa consuma uma cesta básica e enche o tanque de seu carro duas vezes – um veículo popular, com um tanque de 54 litros. Em março/21, essa pessoa precisava desembolsar R$ 1.138,34 com esses gastos. Passados 12 meses, o desembolso foi para R$ 1.413,71 com as mesmas despesas – um aumento de mais de 24%.

Esse impacto é ainda mais preocupante se considerarmos o declínio na renda disponível. A renda média mensal do brasileiro, segundo a Pnad Contínua do IBGE, foi de R$ 2.789 em março/2021 e R$ 2.548 em março/2022.

Sendo assim, essas despesas que antes ocupavam um espaço de, aproximadamente, 41% no orçamento do brasileiro, agora ocupam mais de 55%. Além disso, não consideramos neste breve cálculo as despesas com moradia, energia, água, TV, internet, vestimenta e outros gastos essenciais.

Como se não bastasse, o endividamento das famílias está em patamar recorde, com mais de 77% das famílias endividadas. Nos gráficos abaixo, é ilustrado o peso de uma cesta básica e dois tanques de gasolina na renda média em 21 e 22.

Varejistas de público de alta renda devem se beneficiar

É fácil perceber que com o aumento de preços de itens e serviços essenciais, não sobra muito espaço no orçamento do “brasileiro médio” para um consumo que pode ser adiado.

Por outro lado, o impacto trazido pelas mesmas contas a um brasileiro de classe B, que possui renda média mensal de R$ 9.951, era de 11,4% em 2021, passando para 14,2% em 2022.

O aumento de custos compromete uma parcela bastante menor da renda dessas pessoas e, com isso, elas se sentem mais confortáveis para gastar um valor maior, e com maior frequência, em bens não-essenciais, incluindo presentes em datas comemorativas.

Pelo que foi exposto acima, nesse momento de maior incerteza no cenário macroeconômico, com juros subindo e inflação em patamares preocupantes, além das eleições, que certamente direcionarão o rumo da economia brasileira nos próximos anos, ficamos mais tranquilos em nos posicionar em varejistas cujo público-alvo é a alta renda.

Como pode ser comprovado nos resultados mais recentes de empresas como Arezzo (ARZZ3) e Grupo Soma (SOMA3) (ex-Hering), essas varejistas possuem uma curva de demanda muito menos elástica e, dessa forma, elas têm mais espaço para repassar o aumento de custos sem ter uma contrapartida em volumes.

Neste Dia das Mães, portanto, nossa aposta é que as varejistas premium sairão na frente.

Enquanto isso, as mais generalistas deverão observar um movimento que chamamos de trade down: presentes mais caros sendo substituídos por outros mais baratos, causando uma redução no ticket médio das companhias.

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