Pedro Serra: Erro de cálculo
O Teorema de Bayes é um cálculo matemático utilizado para estimar a probabilidade de um acontecimento com base no histórico de suas ocorrências.
Entretanto, para que a teoria bayesiana faça sentindo, é necessário tomar como base que os eventos ocorridos seguem um padrão específico e, portanto, possuem uma probabilidade de ocorrer novamente.
Essa teoria é utilizada exaustivamente por investimentos na hora de traçar cenários futuros, para embasar seus investimentos. Entretanto, dos últimos seis meses para cá, o mercado se frustrou com resultados macroeconômicos muito aquém do esperado pelos economistas. Porém, mesmo assim, essa situação não invalida o Teorma de Bayes, somente demonstra que ele está sendo mal aplicado.
Em meados deste ano, as premissas macroeconômicas indicavam um futuro interessante para a economia doméstica, ainda que longe de uma trajetória brilhante. As indicações expressavam que haveria uma recuperação econômica gradual.
Um exemplo disso é que a taxa de crescimento do PIB de 2022, esperada pelo mercado em junho deste ano, era, na média, de +2,2%.
Agora, os investidores estimam algo entre zero e +1%. Na mesma época, a inflação e a taxa de juros esperados para 2022 eram, respectivamente, de 3,5% e 6% e agora o mercado trabalha com, aproximadamente, 5,0% de inflação e 11,5% de taxa de juros.
A mudança brusca das projeções dos economistas se deve, principalmente, à natureza e dinâmica da inflação e decepções quanto à disposição do governo em manter a questão fiscal do país dentro de uma condição razoável, ou seja, honrando o teto de gastos, como também avançando com reformas.
O clássico erro dos profissionais de mercado foi perpetuar uma boa situação que estávamos experimentando na metade desse ano nos nossos modelos financeiros e matemáticos.
Portanto, o erro não foi exatamente da Teoria de Bayes, mas sim das premissas utilizadas nos modelos, que não levaram em consideração o histórico de instabilidades e incertezas do Brasil. Como “ no Brasil até o passado é incerto” – como diria o ex-ministro da fazenda, Pedro Malan- é sempre preciso considerar a probabilidade da ocorrência de eventos contrários ao que parece ser razoável em relação à gestão da economia doméstica.
Desta forma, atualizando as premissas nos modelos das empresas que acompanho na Ativa Investimentos, estimo que o Ibovespa deve atingir os 117 mil pontos até o final, de 2022, aqui contemplando a dinâmica própria de cada empresa, que tem sido surpreendentemente boa e confirmado nos resultados divulgados, e desvios probabilísticos no longo prazo.
Olhando para frente, os tempos que nos avizinham nos parece ser potencialmente mais voláteis do que o experimentado ao longo deste ano, devido às questões internas e externas.
No ambiente interno, teremos a aproximação das eleições que, embora cedo para fazer preço nos mercados, talvez já comece a pesar nas escolhas e decisões do atual governo, pesando mais as medidas que possam agradar determinado grupo de eleitores, do que uma agenda mais responsável, que não costuma ser muito popular.
Na questão externa, em breve serão retirados gradualmente os estímulos juntamente com todas as suas consequências, desde o mercado de câmbio até os de ações.
De forma geral, pode-se assumir que os investidores poderão exigir um prêmio de risco maior para ativos nos mercados emergentes. Além disso, a China também traz algumas preocupações quanto ao fôlego da sua economia, no mercado imobiliário e a na inflação que também enfrenta.
Essas questões não são exatamente uma novidade e acredito que, por essa mesma razão, uma boa parte já está precificada nos ativos. O que talvez não esteja na conta é a magnitude e/ou velocidade de tais eventos.
A retirada dos estímulos, por exemplo, caso ocorra de forma rápida ou mais intensa, possui uma boa dose de surpresa que pegaria muitos investidores desprevenidos. Olhando para dentro de casa, não vejo como muito provável que a aproximação da corrida eleitoral no ano que vem possa trazer novos elementos positivos relevantes o suficiente para elevar o ânimo do mercado.