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Pedro Serra: Dias agitados na Petrobras

04 mar 2021, 19:09 - atualizado em 04 mar 2021, 19:09
Petrobras (PETR4)
“Em relação à saída de conselheiros do quadro da estatal, acreditamos que o movimento era esperado e que já está parcialmente precificado”, afirmou (Imagem: REUTERS/Paulo Whitaker)

Mudança de CEO, novo reajuste de preço nos combustíveis e saída de conselheiros foram alguns episódios que passaram ao mercado sinais de instabilidade na companhia

A Petrobras (PETR3;PETR4) tem vivido dias agitados após o governo federal, seu acionista majoritário, demonstrar interesse na troca do comando da companhia.

Ao longo desses dias, também acompanhamos outras notícias importantes, como a divulgação dos resultados da estatal referentes ao 4º trimestre de 2020, o anúncio de novo reajuste no preço dos combustíveis, e a comunicação da saída de quatro conselheiros que compõem seu quadro.

Em conjunto, esses episódios contribuíram para aumentar a instabilidade da companhia e, consequentemente, de suas ações.

“O movimento é mais uma mostra do desejo do atual mandatário em realizar a transição de comando da maneira mais próxima do projeto que estava ajudando a conceber”, disse (Imagem: Tomaz Silva/Agência Brasil)

Mudança na tarifação

Tanto os resultados divulgados, quanto o reajuste de aproximadamente 5% no diesel e na gasolina podem ser atribuídos à gestão Castello Branco, e não indicam nenhuma perspectiva de manutenção de preços que sigam alguma regra de paridade, após o término de seu mandato.

Assim, mesmo sendo um evento positivo, que contribui para a diminuição do hiato existente entre os preços praticados pela companhia e os internacionais, o mercado não vislumbra o saneamento das assimetrias que hoje impedem que a companhia transacione mais perto de seu valor intrínseco.

Em suma, o movimento é mais uma mostra do desejo do atual mandatário em realizar a transição de comando da maneira mais próxima do projeto que estava ajudando a conceber.

Em relação à proposição de mudança na tarifação, entendemos que os impactos serão sentidos, majoritariamente, sobre a margem e não sobre os preços, o que cria espaço para que haja diluição dos impactos da proposta.

Vale reforçar que o preço que chega ao consumidor final é fruto de uma complexa fórmula que, além dos impostos, leva em consideração o valor pago pelo combustível na refinaria ou na exportação, assim como também engloba questões referentes à logística e controle de qualidade.

Ou seja, ainda que a medida vise a desoneração do setor, o que, a priori, seria até mesmo positivo sob a ótica da demanda, sua ação é insuficiente para garantir sua eficácia.

“Todas essas pautas convergem para o fato de que mercado ainda calcula os impactos operacionais, financeiros e de governança que ocorrerão”, argumenta  (Imagem: Valter Silveira/Money Times)

Saída de conselheiros

Em relação à saída de conselheiros do quadro da estatal, acreditamos que o movimento era esperado e que já está parcialmente precificado.

A saída de agentes envolvidos com o modus operandi atual da governança da companhia é mais do que natural, e maiores desdobramentos podem surgir quando forem definidos os nomes que os sucederão.

Dependendo da biografia dos novos indicados, o mercado poderá precificar com mais certeza a intensidade da guinada que será promovida pela companhia em relação ao andamento de questões-chave, como sua política de desinvestimentos e a continuidade da política de investimentos apoiada, majoritariamente, na exploração e produção no pré-sal e em águas profundas.

Todas essas pautas convergem para o fato de que mercado ainda calcula os impactos operacionais, financeiros e de governança que ocorrerão com o desenrolar das mudanças que estão atualmente ocorrendo na companhia.

Embora ainda seja cedo para avaliarmos os impactos qualitativos de tais ações, por parte do mercado existe uma tendência a precificar ainda que feita de forma cautelosa e automática- a possibilidade de existirem mudanças sensíveis frente às práticas atuais, sobretudo no que se refere à política de preços e à continuidade do programa de desinvestimentos da companhia.

Diante da velocidade das transformações em curso na estatal, acreditamos que os próximos passos, como a nomeação dos novos nomes que irão compor o conselho, bem como a forma como a companhia irá se posicionar acerca da validade ou não da indicação do CEO, por parte de seu acionista majoritário, são etapas fundamentais que podem nortear todo esse processo de mudança.

Para não nos confundirmos diante da intensidade e quantidade dos sinais até agora emitidos, uma dose extra de cautela é de bom grado, uma vez que a situação ainda não está definida.