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Pedro Serra: “Compre na baixa e venda na alta” – Famosa regra para Bolsa não é tão simples assim

25 mar 2021, 18:12 - atualizado em 25 mar 2021, 18:13
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“Há risco internos e externos ainda rondando o mercado, e não há um consenso claro da profundidade nem do tempo em que esses riscos possam se dissipar”, disse (Imagem: REUTERS/ Paulo Whitaker)

Todo mundo que tem o mínimo de proximidade com o mercado financeiro conhece a máxima “compre na baixa e venda na alta” e acha que é fácil aplicar essa teoria na prática. Mas, a experiência mostra que seguir essa regra não é tão simples assim.

Quer um exemplo? Desde janeiro deste ano, quando a Bolsa atingiu a máxima de 125 mil pontos, para cá, o Ibovespa (IBOV) recuou 9,4% (comparado aos 113 mil pontos de fechamento de 23/03/21). Isso é muito ou pouco? Será que já é hora de procurar por barganhas?

Adianto minha opinião: sim, já é hora! Porém, se é hora de buscarmos boas oportunidades na Bolsa, por que a queda continua? Provavelmente, este é o ponto de mais difícil avaliação neste tipo de situação, e que demanda extrema atenção do investidor que quer lucrar com as altas e baixas do mercado.

Há risco internos e externos ainda rondando o mercado, e não há um consenso claro da profundidade nem do tempo em que esses riscos possam se dissipar.

Resultado: para o investidor de longo prazo, há sim ótimas oportunidades na Bolsa, mas é bem provável que ainda tenhamos dias de muita volatilidade.

O que está barato?

Como o Ibovespa é uma carteira teórica, com empresas de diferentes setores, o movimento não é uniforme. Os setores que se destacaram negativamente foram o da Educação, que caiu em média 20,8% em decorrência da segunda onda do Covid-19 no Brasil, e o das Locadoras de Automóveis, que recuou, em média, 20,3%, com a alta da Selic e notícias do Cade envolvendo a fusão Localiza (RENT3) e Unidas (LCAM3).

Já as commodities, puxadas pelo câmbio e pela demanda chinesa, subiram em torno de 5% (desconsiderando a Petrobras (PETR3;PETR4), que sofreu com a mudança abrupta do CEO).

Mas a temporada de resultados trouxe, em sua maioria, revisões de lucro esperado para cima, ou seja, os preços dos ativos ficaram mais baratos, e os resultados estão surpreendendo.

Nesse período que citei acima, o P/L (preço sobre o Lucro esperado) da Bolsa veio de 13,9x para 10,7x, uma queda de – 22,5%. Isso é mais do que o índice caiu em pontos porque o lucro esperado (denominador) subiu 17,1% no mesmo período.

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“Para gerar valor no longo prazo, a empresa que você resolveu ser sócio precisa entregar resultados”, afirma (Imagem: Freepik/@standret)

Evite as armadilhas

Nem tudo que é barato é bom! Sem dúvida, comprar ativos que estão muito descontados te dá uma margem de segurança muito grande, mas o investidor precisa entender que isso não é tudo.

Para gerar valor no longo prazo, a empresa que você resolveu ser sócio precisa entregar resultados.

Uma ótima forma de encontrar boas empresas com um bom desconto com uma certa rapidez (ainda não sendo 100% completa), é observar a relação valuation (pode ser por múltiplo ou preço-alvo) versus o ROE (Return On Equity) ou ROIC (Return On Invested Capital).

Somente para exemplificar o uso dessa metodologia, apliquei a métrica ROE x Upside (potencial entre o preço-alvo e a cotação) em algumas empresas listadas na Bolsa, e listo algumas que obtiveram bons resultados: Lojas Renner (LREN3) (ROE 2020: 18,8% vs Upside:35,7%); B3 (B3SA3) (ROE 2020: 17,8% vs Upside: 20,5%); BR Distribuidora (BRDT3) (ROE 2020: 14,8% vs Upside: 42,1%); Raia Drogasil (RADL3) (ROE 2020 13,1% vs Upside: 17,3%); e Yduqs (YDUQ3) (ROE 2020: 11,1% vs Upside: 78%).

Depois dessa etapa, acredito que devemos ir para a parte não numérica. Já adiando que devemos reservar um bom tempo para leitura de relatórios, acompanhamento de lives das quais essas empresas tenham participado e seus calls de resultados. Enfim, selecione materiais interessantes e que fazem sentido e decida por companhias que pareçam estar em boas mãos.

Quais são os riscos?

O principal medo do mercado externo é, basicamente, o fim do grande período de liquidez que estamos passando. De forma resumida, isso é observado pela taxa de juros do título de 10 anos do tesouro americano e pelo movimento de expansão dos ativos contábeis realizada pelos bancos centrais.

O que levou os investidores ao campo da incerteza foi o risco inflacionário, que poderia gerar elevação dos juros, e uma sinalização dos bancos centrais para a paralização de sua expansão.

Congresso
Adicionalmente, acontecimentos recentes do país; como o furo do teto de gastos, que pode comprometer ainda mais a situação fiscal do Brasil (Imagem: REUTERS/Paulo Whitaker)

Porém, em relação ao primeiro ponto, é necessário observar se o processo inflacionário é temporário ou estrutural; enquanto no segundo vale avaliar se é uma decisão pontual de estabilização ou o início de um movimento contrário dos bancos centrais para enxugar a liquidez no mercado.

Adicionalmente, acontecimentos recentes do país; como o furo do teto de gastos, que pode comprometer ainda mais a situação fiscal do Brasil; a possibilidade da volta do ex-presidente Lula à disputa presidencial de 2022, causando ainda mais instabilidade ao ambiente político; e o agravamento da crise sanitária do Covid-19, levando a novas medidas restritivas e de isolamento social, que devem afetar ainda mais a economia, são fatores internos de risco que podem influenciar na alta e baixa das ações.

Além disso, recentemente, o Banco Central surpreendeu o mercado ao aumentar a taxa básica de juros, a Selic, acima do esperado. Entretanto, o Bacen reforçou que essa decisão foi tomada para conter o aumento da inflação.

Para finalizar, diante desse cenário e voltando à regra básica de comprar na baixa, devemos nos perguntar: será que esses riscos já foram precificados pelo mercado? Embora não haja uma resposta fácil para essa pergunta, eu acredito que boa parte disso já está precificada.

Se isso for verdade (aqui um aviso: é um palpite), então o downside (potencial de baixa) é menor do que o upside (potencial de alta), e a indicação é otimista.

Voltando para as empresas, vejo uma ótima oportunidade de compor um portfolio recheado de empresas extraordinárias à preços atrativos.

As premissas que eu assumo no meu palpite são de que: 1- a pandemia, embora pior do que se esperava no Brasil, não será para sempre; 2- o Brasil não será uma Suíça nem uma Venezuela; 3- não há sinais de ruptura na liquidez internacional, mas sim de acomodação.

Diante disso, recomendo que o investidor comece, aos poucos, a procurar essas boas empresas que estão passando por um período de volatilidade, e aguarde as coisas acalmarem, enquanto as companhias selecionadas fazem a parte delas entregando bons resultados.

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